MARIA ENY
ROSSETINI PAIVA
menylins@terra.com.br
Lins, SP
(Brasil)
Sócrates,
a democracia
corintiana e
Kardec
Em O livro dos
Espíritos, Allan
Kardec, na
questão 878,
questiona os
Espíritos
superiores.
Indaga, com
razão, se se
estabelecer o
direito próprio
como a base do
direito do
semelhante não
iria levar á
anarquia de
todos os
poderes. A
resposta é
magistral:
“Os direitos
naturais são os
mesmos para
todos os homens,
desde o menor,
até o maior.
(...) De resto
cada um percebe
bem sua força ou
sua fraqueza e
saberá ter
sempre uma
espécie de
deferência para
aquele que a
mereça pela sua
virtude e sua
sabedoria (...).
A SUBORDINAÇÃO
NÃO ESTARÁ
COMPROMETIDA,
QUANDO A
AUTORIDADE FOR
DADA À
SABEDORIA”.
Após o desenlace
do famoso
Sócrates, o
“doutor” que era
o melhor e mais
popular jogador
do CORINTHIANS,
time que possuía
e possui a maior
torcida no
Estado de São
Paulo,
comentou-se
sobre a
democracia
corintiana.
Famosa na década
de 80, a
democracia
corintiana foi
uma experiência
vencedora.
Democraticamente
o time se regia
pelo voto de
todos os
jogadores,
auxiliares,
técnicos,
massagistas e
diretores. Não
ficava sob as
ordens e
determinação do
técnico e dos
diretores do
clube.
Ficamos pensando
como pôde ser
possível que um
time de futebol,
após a perda do
título,
fracassado e
endividado,
alterando-se a
diretoria e o
técnico,
conseguisse
tanto sucesso,
tantos títulos,
utilizando a
democracia e a
autogestão.
Votavam e
decidiam pelo
voto o que o
time faria,
quanto
treinaria, em
que horário
viajariam, como
deveriam jogar.
Não apenas isso,
também decidiam
sobre regras da
concentração,
demissões,
escalações,
local da
concentração. A
experiência deu
ao time o
campeonato
brasileiro em
1982 e 1983 e,
quando deixaram
o poder, além de
pagarem todas as
dívidas deixadas
por um time
perdedor,
passaram o caixa
com uma reserva
de 3 (três)
milhões de
dólares. Um
sucesso
absoluto, além
de um trabalho
de
relacionamento
humano que vale
hoje teses de
mestrado.
Lamentável que
nunca mais se
haja tentado
fazer o mesmo em
outros times. A
experiência
impediria ou
dificultaria a
corrupção, o
personalismo, os
desmandos de
toda espécie...
Em um trabalho
tão altamente
técnico como o
futebol, quando
a palavra e o
trabalho do
técnico parecem
ser tudo, como
foi possível que
uma ideia tão
brilhante
mostrasse seu
potencial e, o
mais importante,
sua eficiência?
Alguns podem
pensar que a
democracia
corintiana foi
apenas uma forma
de protestar
inteligente e
pacificamente
contra a
ditadura militar
que vinha,
há dois
decênios,
governando o
Brasil e
impedindo o povo
de escolher seus
dirigentes pelo
voto direto,
além de outras
restrições à
imprensa, à
educação e à
liberdade
pessoal na arte
e outras. No
entanto, ainda
que assim fosse,
deu certo... A
coisa funcionou.
Por quê?
Se nos
reportarmos às
respostas dadas
a Allan Kardec
pelos Espíritos,
talvez possamos
entender por que
deu certo.
Vamos ver quem
eram os
jogadores que
auxiliaram e
lideraram a
democracia
corintiana:
Sócrates,
Wladimir,
Casagrande e
Zenon lideravam
o trabalho no
time, todos eles
jogadores
politizados.
Todos, craques
reconhecidos
pelo excelente
futebol, ou
seja, eles
detinham a
autoridade do
conhecimento,
além de
pertencerem a
uma época em que
os jogadores de
futebol vestiam
a camisa dos
times e não
tinham ainda
sido
transformados em
objetos de venda
e consumo de
times
milionários.
Isso significa
autoridade do
conhecimento e
autoridade moral
em termos
profissionais.
O técnico, além
de ser
conhecedor do
assunto
(conhecimento),
era sociólogo
(conhecimento) e
tinha ideais
democráticos,
(moral social
ou, como se diz
hoje,
consciência da
cidadania). O
presidente, cujo
voto tinha o
mesmo valor do
faxineiro do
time, acreditava
na gestão
colegiada (visão
filosófica e
moral),
colaborou e
deixou a visão
autoritária dos
que acreditam
que a posição de
presidente lhes
permite dirigir
tudo, como se
fossem pequenos
reis.
Poderíamos
perguntar: Será
que a democracia
corintiana
poderia ser
aplicada em
todos os
quadrantes de
nossa vida?
Poderíamos
deixar os
professores e
alunos decidirem
o que fazer na
escola?
Decidirem, junto
com o diretor, o
faxineiro, o
inspetor de
aluno, o
supervisor da
escola, o
coordenador
pedagógico, como
dirigir a
Escola, o que
ensinar, como
ensinar? A
reposta é
simples: Se os
professores
fossem craques,
se o coordenador
fosse, além de
um técnico, um
especialista em
relações humanas
e um idealista
moralmente
voltado ao
humanismo, é
possível que
funcionasse e
bem. Mas o
mais importante:
É PRECISO QUE
HAJA UM
CAMPEONATO PARA
GANHAR, ou seja,
é preciso que um
objetivo, claro
e evidente,
dirija os
esforços de
todos e sirva
para avaliar.
Que todos sejam
julgados pela
sua competência
em atingir esse
objetivo
estabelecido...
Uma democracia
ainda que
dirigida por
pessoas que
tenham
competência e
moralidade deve
atingir os
objetivos éticos
de uma
sociedade, caso
contrário não
será democracia.
É simples
entender isso:
Se os
professores
democraticamente
utilizarem o
voto para
diminuir seu
trabalho, para
eliminar os
controles, as
avaliações, e
estabelecer uma
liberdade
prazerosa, mas
sem metas e
responsabilidade,
não haverá
autogestão, nem
aprendizagem. Os
alunos podem
também decidir
como, onde e até
com quem
aprender, ou,
ainda, como
preferem ser
controlados e
avaliados, mas
deverão
realmente GANHAR
AUTONOMIA,
MOSTRAR
COMPETÊNCIA NAS
AVALIAÇÕES,
CAPACIDADE EM
AUTODISCIPLINA E
APRENDIZAGEM
REAL.
A experiência da
Escola da Ponte
em Portugal é
vitoriosa nessa
autonomia
democrática, mas
todos sabemos
que quem
estabelece as
metas para
avaliação e quem
avalia são os
professores,
além da
avaliação do
próprio sistema,
que é
extremamente
exigente em seus
exames de
competência, a
que estão
sujeitas as
escolas
particulares e
públicas.
A
espiritualidade
superior bem
respondeu a
Kardec, pois a
autoridade da
sabedoria
(moralidade e
conhecimento)
não compromete a
subordinação aos
que a possuem.