A. Em certa noite, em
que supunha não suportar
tantas dores e tanta
soledade, Artêmis foi
visitada por uma pessoa.
Quem era ela e que
aconteceu?
Foi sua mãe que, em
espírito, veio
visitá-la. Artêmis, logo
depois de orar,
adormeceu e viu-se
então, repentinamente,
diante da genitora
desencarnada, num parque
em flor, em estância
feliz que ela
desconhecia. Sua mãe
então lhe disse: "Jesus,
minha filha, reuniu-nos,
a fim de que eu te
pudesse consolar, de
modo a saíres do vale da
saudade e animar-te a
galgares o monte das
provações a que te
propuseste. Não morri.
Não morreremos.
Refaço-me, depois da
travessia pelo corpo
denso para a vida
espiritual, mas podemos
prosseguir juntas. Não
te entregues a demasiada
aflição. O desespero,
mesmo na dor justa, é
medida de rebeldia ante
os impositivos da
evolução que promanam
do Senhor. Asserena-te e
confia".
(Tramas do Destino, cap.
1, págs. 27 e 28.)
B. Que atitude devemos
tomar ante o cônjuge
difícil, ingrato,
adúltero, agressivo?
A lição quanto a esta
pergunta foi dada pela
mãe de Artêmis:
"Vínculos familiares são
opções evolutivas e
experiências em que
transitamos em forma de
parentela carnal, para
atingir a pureza na
fraternidade espiritual
que nos espera”. “Por
isso, cônjuges difíceis,
ingratos, adúlteros,
agressivos, obsessos, ao
invés do abandono
rápido, puro e simples
que mereceriam sofrer,
devem-nos inspirar,
enfermos que são,
misericórdia, tratamento
e ajuda."
(Obra citada, cap. 1,
págs. 28 a 30.)
C. Logo que nasceu seu
filho, Artêmis passou a
contar com a colaboração
de uma pessoa. Qual seu
nome e quem era ela?
Hermelinda era seu nome.
Cunhada de Artêmis, ela
fora convidada pelo
irmão para ajudar a
esposa nas injunções
novas da maternidade.
Hermelinda provinha de
Círculo Espiritual
representativo e
participava, desde vidas
pregressas, do grupo que
agora se religava pelos
laços da parentela
corporal.
(Obra citada, cap. 2,
págs. 31 a 33.)
D. A Lei que nos permite
semear o bem e o mal a
bel-prazer, estabelece
sanções aplicáveis aos
nossos atos?
Sim. É da Lei que todos
podemos semear o bem
como o mal a bel-prazer,
onde, como e quando o
desejarmos, mas seremos
impelidos a colher onde
e como semeamos, pela
compulsória da
reabilitação
impostergável.
(Obra citada, cap. 2,
págs. 33 a 35.)
Texto para leitura
8. Um casamento
infeliz - O pai
concedeu o aval e o
necessário apoio inicial
à execução dos desejos
do filho, que se tornou
viajante comercial,
graças ao espírito
aventureiro de que dava
mostras, a par de um
caráter forte e
relativamente
inflexível. Embora
gentil e palrador, vez
por outra irrompiam-lhe
as lembranças
inconscientes do
passado, ocasião em que
falava pouco e se fazia
rancoroso, com visível
dificuldade para
perdoar as ofensas reais
ou imaginárias... Quando
viu Artêmis a primeira
vez, anos antes, não
experimentara qualquer
sensibilidade. Depois,
porém, o reencontro
produziu-lhe funda
impressão, tornando-se
um apaixonado. O namoro
rápido converteu-se em
matrimônio um ano
depois. Nessa época,
contudo, a jovem Artêmis
sentiu-se assaltar com
frequência por
tormentosos presságios,
em que experimentava
impressões angustiantes
que lhe camartelavam o
espírito sensível. Mais
de uma vez a jovem fora
acometida de súbitos e
estranhos estados de
transitória alucinação
que, felizmente, não
deixaram sinais que
pudessem preocupar a
família. Artêmis passou
então a sofrer de
perturbadora neurose
íntima a lhe prenunciar
sofrimentos, cuja causa
não lhe era lícito
pressupor sequer, mas
que superava através da
crença em Deus e da
oração. Os noivos se
amavam, compreendiam-se
e respeitavam-se;
pareciam velhos
conhecidos que se
reencontravam,
estabelecendo liames
que, embora
interrompidos, não
cessavam de
sustentar-se, apesar da
distância no espaço e no
tempo. Na verdade, não
era aquela a sua
primeira experiência
afetiva, na programática
redentora a que se
propunham
espiritualmente.
Transcorridos, porém, os
primeiros meses do
casamento, Rafael
passou a exteriorizar os
tormentos íntimos que o
dominavam,
transformando-se, pouco
a pouco, em vigoroso
verdugo da esposa
submissa que lhe
experimentava as
injunções, entre
frustrações afetivas e
profundos martírios
morais. Rafael
tornava-se rancoroso sem
qualquer motivo e
desconfiado, a ponto de
sucumbir em crises de
violência e mudez
selvagem a que se
entregava, ante a reação
passiva da esposa
aturdida e inditosa.
Passados os conflitos,
que se amiudavam,
parecia recobrar a
lucidez, retornando à
gentileza e à ternura
com que buscava
reabilitação, para logo
recair nos mesmos
dédalos de crueldade e
insânia. (Cap. 1, págs.
25 a 27)
9. Encontro com a
mãe desencarnada
- Obsidiado em si mesmo,
avassalado pelas
odientas reminiscências
do passado e açulado
pelo ódio dos antigos
cômpares de orgias e de
agressividade, Rafael
padecia a funesta
subjugação transitória,
cíclica, em que se
arruinava
emocionalmente,
avançando celeremente
para um colapso nervoso.
Decepcionada com o
matrimônio inditoso,
Artêmis refugiava-se nos
deveres domésticos e na
oração. A doce mãe de
Jesus era-lhe a sublime
confidente. Na prece,
adquiria paz e força,
bem como a claridade
mental para prosseguir
no dever, aguardando o
transcurso do tempo que
lhe reservaria
experiências
importantes e graves, de
cujo teor não lhe era
lícito suspeitar. Na
Capital, não possuía o
consolo de um amigo ou
de um parente devotado.
As saudades da casa
paterna eram, por isso,
grandes. Artêmis,
porém, não se queixava,
suportando o fardo dos
dissabores sob chuvas de
doestos, entre as crises
de ira e arrependimento
a que se entregava o
esposo infeliz. Um ano
após o matrimônio
desencarnou sua mãe. A
notícia chegou-lhe
através de lacônico
telegrama, sem que ela
pudesse ter fruído ao
menos o consolo de ver a
genitora pela última
vez. Esse fato
produziu-lhe infinita
mágoa moral, de que não
mais se refaria. O
invisível punhal da
angústia cravou-se-lhe
n'alma, fazendo-a
debulhar-se em lágrimas
candentes e
inestancáveis. Certa
noite, em que supunha
não suportar tantas
dores e tanta soledade,
Artêmis, orando,
adormeceu. Viu-se então,
repentinamente, diante
da genitora
desencarnada, em radiosa
manhã, num parque em
flor, em estância feliz,
desconhecida. "Jesus,
minha filha – falou-lhe
a querida mãe –,
reuniu-nos, a fim de
que eu te pudesse
consolar, de modo a
saíres do vale da
saudade e animar-te a
galgares o monte das
provações a que te
propuseste. Não morri.
Não morreremos.
Refaço-me, depois da
travessia pelo corpo
denso para a vida
espiritual, mas podemos
prosseguir juntas. Não
te entregues a demasiada
aflição. O desespero,
mesmo na dor justa, é
medida de rebeldia ante
os impositivos da
evolução que promanam
do Senhor. Asserena-te e
confia". Artêmis
reclinou a cabeça no
regaço materno e
desatou a chorar. Ela
não suportava a decepção
no lar e, agora, a
ausência da mãe. (Cap.
1, págs. 27 e 28)
10. Família e
progresso - A
genitora, induzindo-a a
desistir da lamentação
e da queixa
desnecessária, que geram
azedume e avinagram os
sentimentos, falou-lhe,
suave: "Embora os poucos
dias em que me separei
das sombras físicas,
encontro-me informada de
todas as tuas agruras...
no entanto, desces, sem
que o percebas, ao poço
de inditoso suicídio
indireto, por negar-te o
direito da vida, em face
das dores que te
enjaulam no sofrimento
forte". E prosseguiu:
"Serás mãe em breve, e é
indispensável que te
prepares para o
sacerdócio sublime de
co-criadora com Nosso
Pai, a fim de ensejares
a regularização de
severos compromissos
com outros Espíritos aos
quais te vinculas". Ante
a notícia sobre a
maternidade, Artêmis
experimentou estranha
alegria, recuperando-se,
de momento, das aflições
e provanças rudes. A
genitora advertiu-a,
porém, para não sonhar
desnecessariamente. A
vida nos reserva
felicidade futura, mas
se estrutura em
contínuos testes de
humildade e paciência.
A harmonia íntima
constrói-se de renúncia
em renúncia, passo a
passo. O amor dos
filhinhos seria a luz de
suas horas, na lâmpada
dos seus sacrifícios,
mas Rafael estava
enfermo da alma e era
preciso ajudá-lo com o
seu puro e inocente
amor. "Não lhe queiras
mal, haja o que houver.
Compreenderás o porquê,
posteriormente", aduziu
a nobre senhora, que
comentou, na sequência,
a questão das
dificuldades do lar:
"Sacrifício doméstico é
cruz libertadora. Os
homens, sedentos de
gozos e iludidos em si
mesmos, simplificam
soluções, separando-se
do cônjuge-problema e
adiando
compromissos-resgates...
Transferem realizações,
tecem complicadas malhas
de fugas em que se
enredam. Enquanto houver
força, deve alguém
porfiar no matrimônio
sem esperar
reciprocidade".
"Vínculos familiares –
acrescentou a entidade –
são opções evolutivas e
experiências em que
transitamos em forma de
parentela carnal, para
atingir a pureza na
fraternidade espiritual
que nos espera. Por
isso, cônjuges difíceis,
ingratos, adúlteros,
agressivos, obsessos, ao
invés do abandono
rápido, puro e simples
que mereceriam sofrer,
devem-nos inspirar,
enfermos que são,
misericórdia, tratamento
e ajuda..." Era
precisamente esse o caso
de Rafael, um doente
confiado à vigilância e
afetividade da esposa...
A genitora continuou
ainda por algum tempo
orientando e estimulando
a filha e, quando esta
despertou, apresentava
os sinais balsâmicos da
esperança... (Cap. 1,
págs. 28 a 30)
11. Nasce o
primogênito de Artêmis
- O nascimento de
Gilberto, primeiro
filho do casal, trouxe a
Rafael desconcertantes
emoções. Ao mesmo tempo
que sentia entranhado
orgulho pela chegada do
filho, sofria diante
dele surda animosidade
que lhe amargurava o
íntimo. Parecia
conhecê-lo e nutria
forte antipatia que lhe
assomava à mente, ante o
delicado corpo do
filhinho, ensejando-lhe,
numa que outra
oportunidade, ganas de
trucidá-lo. Desde os
primeiros sintomas da
gravidez da esposa,
Rafael passou da
animosidade antiga a
mórbido ciúme e asco,
menosprezando-lhe a
dignidade e os
sentimentos nobres. A
esposa compreendia,
sofrida, a alucinação
que tomava curso no
companheiro e instava a
que ele buscasse recurso
médico ou socorro
espiritual. Rafael
tornara-se fácil presa
das distonias que se
agravavam em doloroso
processo de
desequilíbrio obsessivo,
mas os Benfeitores
Espirituais
estimulavam-no,
sugerindo-lhe estreitar
o filho recém-nato nos
seus braços fortes e
protetores,
estabelecendo com isso
vínculos de afeição que
o tempo se encarregaria
de condensar e
preservar, em clima de
elevação. Os dias se
sucediam e acentuava-se
a instabilidade
emocional do chefe da
família, cujo retorno,
em cada viagem, se
convertia em dolorosos
instantes de
agressividade verbal e
moral com que afligia a
esposa. No segundo mês
de nascimento do menino,
Artêmis passou a contar
com a colaboração de
Hermelinda, cunhada e
amiga, convidada pelo
irmão a auxiliá-la nas
injunções novas da
maternidade. Hermelinda
provinha de Círculo
Espiritual
representativo e
participava, desde vidas
pregressas, do grupo que
agora se religava pelos
laços da parentela
corporal. Espírito
nobre, a jovem anelava
construir o próprio lar,
pressentindo, porém, que
não fruiria a ventura de
ser mãe da própria
carne. Tornou-se, assim,
verdadeiro êmulo da
cunhada junto ao
sobrinho e contribuiu de
forma decisiva para a
recuperação da saúde
materna, então
debilitada e frágil,
porquanto a sua presença
constituiu, de certo
modo, por algum tempo,
impedimento à explosão
de irascibilidade do
irmão, o que logrou
mudar sensivelmente a
paisagem doméstica.
(Cap. 2, págs. 31 a 33)
12. Nasce Lisandra
- Dois anos após o
primeiro filho, Artêmis
volveu à maternidade,
recebendo Lisandra, que,
ao contrário do menino,
produziu no pai
profundos sentimentos de
amor. A filhinha
inundou-o de júbilos,
conseguindo uma quase
transformação no
comportamento que lhe
era habitual. Rafael
experimentou forte
atração pela filha, que
se lhe vinculava por
entranhadas conjunturas,
porquanto,
simultaneamente, ele se
debatia em cruéis
dúvidas, como se
sentisse magoado e
traído por aquele ser
dependente. Gilberto, o
primogênito, possuía o
temperamento do pai,
introvertido, soturno,
atormentado, raramente
jovial, disposto a
mutismos demorados, com
que amargava a própria
rebeldia que o tornava
revel. Lisandra refletia
os traços joviais da
mãe, bem como sua
alegria no passado,
antes dos tormentos
trazidos pelo
matrimônio. Meiga e
afável, era ela o
encanto do lar; contudo,
vez por outra caía em
crises de "ausências",
que a distanciavam da
realidade objetiva.
Nesses momentos, olhar
parado, fixo em cenas
distantes, pálida, com
sudorese abundante e
fria, vertia lágrimas
longas, inexplicáveis.
Tais ocorrências eram,
porém, de breve duração
e não deixavam marcas
profundas. Determinado
médico receitou-lhe
calmantes, alimentação
cuidadosa, sono
reparador, conforme a
terapia de então. Na
verdade, nessas
ocasiões, Lisandra era
dominada pela presença
de clichês mentais
gravados no
inconsciente atual e ali
arquivados pelos atos
incorretos que os
insculpiram na
existência anterior, que
deveria rever para
superá-los, mediante
resgate sacrificial.
Naquele corpo pequenino
e gentil, risonho e
róseo, encontrava-se um
Espírito endividado, a
quem a Justiça Divina
facultava sublimação,
porquanto é da Lei que
todos podem semear o bem
como o mal a bel-prazer,
onde, como e quando o
desejem, mas serão
impelidos a colher onde
e como semearam, pela
compulsória da
reabilitação
impostergável. (Cap. 2,
págs. 33 a 35)
13. A
doença de Lisandra
torna-a triste
- A família de Artêmis
ajustava-se aos
programas afetivos, em
prol da própria
redenção. Lisandra podia
ser comparada a um anjo
bom em relação ao pai,
que não conseguia
dissimular a preferência
pela filha, embora o
garoto não lhe causasse
nenhuma repulsa
consciente. A menina
demonstrava sentimentos
antagônicos em relação
ao pai; afável e
carinhosa em algumas
ocasiões, noutras vezes
parecia temê-lo. Durante
as "ausências", que se
amiudavam, diminuíam,
com o passar do tempo,
as suas resistências, e
ela passou toda a
infância padecendo as
estranhas constrições da
enfermidade insanável.
Acometida de pesadelos
apavorantes, despertava
com expressões típicas
do autismo, alheada, só
volvendo à lucidez após
ingentes esforços dos
genitores aflitos. Por
causa disso, a jovem
experimentou sensíveis
modificações,
tornando-se triste,
quando não facilmente
irritável, denotando
agravamento paulatino do
mal que lhe minava a
organização física e
mental. O genitor, em
suas longas viagens,
curtia difíceis
angústias que lhe
afetavam o temperamento,
suscetível à irritação
constante, a par da
agressividade contínua.
Embora não fosse um
homem culto, conhecia
alguma coisa sobre as
questões ligadas à
libido, em que se
sustentam os pilotis das
célebres investigações
do pai da Psicanálise.
Já ouvira falar acerca
dos complexos de Édipo e
de Electra,
atormentando-se ante a
ideia infeliz de que sua
preferência pela filha
fosse de natureza
incestuosa. Apesar de
suas debilidades,
mantinha-se ele em
estritas linhas de
conduta moral e honradez
sexual; sabia, portanto,
que o sentimento pela
filha nada tinha a ver
com a teoria freudiana.
Faltava-lhe o
conhecimento da
pluralidade das
existências, para poder
compreender o que se
passava em seu próprio
lar, tal como acontecera
com o próprio Freud, com
Adler e Jung. (Cap. 3,
págs. 37 e 38)
(Continua no próximo
número.)