F. ALTAMIR DA
CUNHA
altamir.cunha@bol.com.br
Natal, RN
(Brasil) |
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Invigilância e suicídio
Confúcio em sua
sabedoria afirmava: “Não
são as más ervas que
causam a morte da boa
semente, mas sim a
negligência do
camponês!”.
Inegavelmente, as más
ervas poderão sufocar a
boa semente, impedindo a
germinação e sua
transformação em árvore
frutífera e sombrosa.
Entretanto, uma pergunta
torna-se oportuna: será
que a semente morreria,
se o camponês operoso e
responsável impedisse
que o campo fosse
invadido por ervas
daninhas?
Aquele que é agraciado
com a vida no corpo, tal
qual o camponês que
recebe uma gleba, não
pode negligenciar.
Vários motivos surgirão
ameaçando o bom
resultado, exigindo
dessa forma oração,
vigilância e operosidade
por parte do encarnado.
Imaginemos a vida como
uma viagem em estrada
composta de curvas, de
obstáculos, e retas sem
obstáculos. Essa estrada
é trafegada por vários
veículos, cada um,
dirigido por um
condutor. As habilidades
dos mesmos serão
diversificadas entre
alguns, e até iguais
entre outros, dependendo
da experiência adquirida
com o tempo.
Há condutores que entram
em algumas curvas a 100
km/h com sucesso, já
outros, menos hábeis,
dirigindo à mesma
velocidade, sobram na
curva causando acidente
espetacular. Uns mais
experientes percorrem
trechos com obstáculos,
na velocidade adequada e
se desviam com maestria,
evitando danificar o
veículo ou sofrer
acidente. Outros, tanto
depreciam o veículo
quanto sofrem acidentes;
uns, no trecho reto e
sem obstáculos, mantêm a
vigilância, não se
deixando vencer pelo
sono, enquanto outros,
na mesma reta, poderão
ser dominados por uma
certa monotonia,
adormecem e provocam
acidentes.
Perguntamos: Se todos se
submeteram a
circunstâncias
idênticas, qual foi a
causa dos acidentes e/ou
depreciação dos
veículos? As curvas,
obstáculos e retas ou a
inabilidade e
invigilância dos
condutores?
Creio que não serão
necessários profundos
conhecimentos para
responder corretamente.
Os fatores
desencadeantes do
suicídio são como as
curvas, obstáculos e
retas da estrada, e os
suicídios tanto
conscientes quantos os
inconscientes são os
acidentes e depreciações
causados pela
inabilidade do condutor
(Espírito) do automóvel
(corpo físico).
Ainda podemos considerar
outra situação: Por que
será que algumas pessoas
enfrentam uma
enfermidade de caráter
irreversível, dolorosa e
limitante, ou uma
situação de humilhação e
abandono, com extrema
resignação, enquanto
outras, em provações
mais simples, blasfemam,
se revoltam e até se
suicidam?
A diferença se faz pelo
pensamento, pela
interpretação que cada
um dá aos acontecimentos
da vida e
consequentemente pela
posição que estes
acontecimentos ocupam em
sua escala de valores.
Muito oportuna a lição
que Jerônimo Mendonça,
já desencarnado, figura
conhecida no Movimento
Espírita Brasileiro,
transmitiu a uma
senhora, que se
compadecia da sua
situação – ele era cego
e tetraplégico: -
Como a vida é dura, não
é meu irmão?
Ele lhe respondeu
bem-humorado: - A vida
não é dura, minha irmã;
nós é que somos moles!
Na escala de valores da
pessoa que o interrogou,
o bem-estar físico e o
resultado imediato
estavam no topo; mas na
de Jerônimo Mendonça, no
topo estava a fé e a
confiança no futuro.
Como espírita ele sabia
que seu sofrimento era
passageiro, e que após o
resgate doloroso pelo
qual estava passando,
tudo se normalizaria.
Com essa visão sobre a
vida, Jerônimo
distribuiu mensagens
impressas e palavras de
conforto e ânimo a todos
que o procuravam.
Aceitou a sua dolorosa
provação, mantendo-se
produtivo e otimista,
desencarnando
naturalmente, sem nunca
ter pensado em suicídio.
Para o bom aluno da
escola da vida, há uma
lição que ele não poderá
esquecer: não são os
males de fora que mais
nos têm causado dores e
sofrimento, mas, sim,
aqueles que por
invigilância permitimos
que cresçam dentro de
nós.