ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 27)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Casos de aparição
percebida por várias
pessoas são mencionados
por Myers?
Sim. Nesta obra ele
menciona vários casos,
como o da senhora
Hawkins, cujo fantasma
foi visto por quatro
pessoas (seus dois
primos, sua empregada e
seu filho) em intervalos
mais ou menos
distanciados e, na
primeira vez, por duas
pessoas simultaneamente
e de forma absolutamente
idêntica. O fato foi
extraído da obra
Phantasms of the Living,
II, 78. Outro caso é o
da senhora Hall, também
extraído de Phantasms of
the Living, II, pág.
217, em que seu próprio
fantasma apareceu para o
marido e dois
familiares, enquanto
todas estas pessoas se
encontravam sentadas à
mesa.
(A Personalidade Humana.
Capítulo VI –
Automatismo sensorial.)
B. Que significa o termo
psicorragia utilizado
por Myers nesta obra?
Segundo Myers,
psicorragia é o mesmo
que desprendimento da
alma. Para ele, o que se
desprende da alma não é
o princípio total da
vida do organismo, antes
um determinado elemento
psíquico, de caráter
provavelmente variável e
que não pode ser
definido senão pela sua
propriedade de produzir
fantasmas perceptíveis
para uma ou diversas
pessoas, nesta ou
naquela porção do
espaço. Vários casos de
psicorragia são citados
pelo autor na obra em
estudo.
(Obra citada. Capítulo
VI – Automatismo
sensorial.)
C. Qual teria sido o
fator determinante da
visão relatada por
Frances Reddell?
Conforme descrito no
livro Phantasms of the
Living, I, 214, Frances
Reddell, quando estava
para adormecer uma de
suas pacientes,
gravemente enferma,
percebeu o fantasma da
mãe dela, que ele não
conhecia e que não podia
ter visto antes, mas de
quem pôde fazer uma
descrição muito exata
mais tarde. Quando a
genitora lá chegou, ao
receber a notícia da
morte da filha, todas as
pessoas às quais Frances
Reddell contara sua
visão ficaram
assombradas com a
semelhança entre a visão
e a pessoa propriamente
dita. Explicando o fato,
Myers entende que a mãe,
inquieta pelo estado de
sua filha, fizera-lhe
uma visita psíquica
enquanto as duas
dormiam. Esse, o fator
causal da visão.
(Obra citada. Capítulo
VI – Automatismo
sensorial.)
Texto para leitura
639. Se uma pessoa
sentada no quarto veste
uma roupa que o sujeito
invadido jamais tenha
visto antes da
alucinação, se o homem
objeto da alucinação
aparece carregando um
pacote de aspecto
inusual, que o homem
real acha ter levado, de
fato, para casa sem que
ninguém o esperasse,
estamos devidamente
autorizados a reconhecer
que existe um vínculo
causal entre o estado
aparente do “agente”
nesse momento e a
aparição.
640. Este é o caso do
coronel Bigge que
acreditou ver, certo
dia, a alguns passos de
distância, um de seus
colegas, vestido com um
traje especial, que
Bigge jamais vira, e
carregando utensílios de
pesca, quando Bigge
ignorava que seu
camarada estivesse
naquele dia se dedicando
à pesca e isto, dez
minutos antes da
aparição real de seu
camarada no lugar em
questão. Deveras
assombrado, Bigge
constatou que seu amigo
estava realmente vestido
daquela forma e com os
utensílios de pescaria
com os quais aparecera
dez minutos antes (Phantasms
of the Living, II, 94).
641. A respeito dos
casos desse gênero,
existe motivo para
acreditar que o Espírito
do homem pode fixar-se,
realmente, no lugar onde
deve voltar, de forma
que seu fantasma aparece
lá, onde ele e os demais
acreditam ver o fim mais
provável de seu
percurso. Mas existem
outros casos em que o
fantasma de um homem
aparece num lugar sem
que exista uma razão
especial para que ali
estivesse, ao invés de
em outro lugar, ainda
que este pareça
encontrar-se nos limites
de sua corrente habitual
de ideias.
642. Também nesses casos
existem circunstâncias
cuja natureza nos faz
pensar que a aparição
esteja relacionada com o
agente aparente, por um
vínculo causal. O
fantasma de uma
determinada pessoa pode
ser visto em diversas
ocasiões por vários
sujeitos ou
coletivamente por várias
pessoas de uma vez; ou
pode reunir essas duas
características e ser
visto em diversas
ocasiões por várias
pessoas de uma vez.
643. Considerando a
raridade das aparições
fantasmais e o fato de
que apenas uma pessoa
entre cinco mil é
suscetível de ser vista
no estado fantasmal, só
pelo fato de que o
fantasma de uma pessoa
determinada seja visto
duas vezes por diversas
pessoas é já bastante
notável; e quando se
reproduz três ou quatro
vezes, torna-se difícil
explicá-lo mediante um
simples acaso.
644. Esse é o caso da
senhora Hawkins, cujo
fantasma foi visto por
quatro pessoas (seus
dois primos, sua
empregada e seu filho)
em intervalos mais ou
menos distanciados e, na
primeira vez, por duas
pessoas simultaneamente
e de forma absolutamente
idêntica (Phantasms of
the Living, II, 78).
645. Em outros casos, a
percepção foi coletiva,
ainda que não repetida.
Foi o caso das duas
irmãs C. J. E. e H. E.,
que se encontravam na
igreja, uma tocando
órgão e a outra
escutando, e viram o
fantasma de uma terceira
irmã que, conforme foi
mais tarde comprovado,
encontrava-se nas
proximidades da igreja,
onde teve intenção de
entrar mas não o fez,
por ter-se atrasado na
biblioteca paroquial
onde estava, ocupada em
estudar os documentos
familiares de seu tio,
pastor.
646. Ela apareceu às
suas irmãs com o mesmo
traje que vestia
enquanto permaneceu na
biblioteca e trazendo
nas mãos um rolo de
papéis (informação da
Comissão de Alucinações,
Proceedings of the S. P.
R., X, pág. 306). É
possível que neste caso
a terceira irmã
estivesse ocupada com
alguma ideia
supraliminar ou
subliminar da cena em
meio da qual aparecia
seu Espírito e que uma
de suas irmãs a visse
por um mero ato de
tranquilo
reconhecimento,
comunicando à outra sua
impressão telepática,
fazendo com que visse a
mesma figura.
647. No caso da senhora
Hall (Phantasms of the
Living, II, pág. 217),
apareceu seu próprio
fantasma ao marido e a
dois familiares,
enquanto todas estas
pessoas se encontravam
sentadas à mesa. Ninguém
pareceu assombrar-se com
aquela aparição,
parecendo a própria sra.
Hall completamente
estranha à sua
personalidade, como se
fora um quadro ou uma
estátua.
648. A questão da
verdadeira importância
do coletivismo da
percepção reconstitui,
sob outra forma, o
problema da invasão para
a qual nossa exposição
amiúde nos encaminha.
Quando duas ou três
pessoas veem o que
parece ser o mesmo
fantasma, no mesmo lugar
e no mesmo instante,
significa que esta
porção especial do
espaço seja, de algum
modo, modificada ou que
uma impressão mental
transmitida por um
agente distante, ao qual
pertence o fantasma, a
um dos sujeitos
invadidos se reflita
telepaticamente do
Espírito deste último no
Espírito de outros
sujeitos invadidos, de
sujeitos, por assim
dizer, secundários?
Prefiro a primeira
dessas explicações e
vejo uma objeção contra
a segunda, que é a do
contágio psíquico. Neste
fato, como em certos
casos coletivos, não
discernimos qualquer
vínculo provável entre o
Espírito de um sujeito
invadido qualquer e o do
agente distante.
649. Não existe, com
efeito, nenhum indício
de um vínculo necessário
entre o estado de
espírito do agente, no
momento da aparição, e o
fato de que estas ou
aquelas pessoas percebam
seu fantasma. A projeção
deste último constitui
um ato tão automático
por parte do agente e
tão pouco intencional
como um sono ou sonho.
650. Reconhecendo, pois,
que essas “bilocações”
se produzem sem causa
externa apreciável e em
momentos de calma e de
indiferença aparente,
devemos nos perguntar:
de que forma esse fato
poderá modificar nossos
conceitos anteriores?
651. Suponho que a vida
de sonho que evolui de
uma forma contínua,
paralelamente à nossa
vida de vigília, é
suficientemente possante
para determinar, de vez
em quando, uma
dissociação suficiente
para que um elemento
qualquer de nossa
personalidade torne-se
capaz de ser percebido a
uma determinada
distância do organismo.
Esse conceito de um
quase-sonho incoerente,
que se torna perceptível
para os demais, está em
total concordância com
as teorias expostas
durante o desenvolver
desta obra, porque
considero as operações
subliminares como
realizando-se de maneira
contínua e acredito que
o grau de dissociação,
suscetível de engendrar
um fantasma perceptível,
não equivale
necessariamente a uma
modificação muito
profunda, pois a
perceptibilidade depende
da idiossincrasia, ainda
inexplicável, do agente
e do sujeito invadido.
652. Chamaria à
idiossincrasia do agente
de psicorragia, cuja
tradução literal
significa:
desprendimento da alma.
O que, de acordo com
minha hipótese, se
escapa ou se desprende
não é (como no sentido
grego da palavra) o
princípio total da vida
do organismo, antes um
determinado elemento
psíquico, de caráter
provavelmente variável e
que não pode ser
definido senão pela sua
propriedade de produzir
fantasmas perceptíveis
para uma ou diversas
pessoas, nesta ou
naquela porção do
espaço.
653. Esses efeitos
fantasmogenéticos podem
manifestar-se no
espírito e, em
consequência, no cérebro
de outra pessoa, caso em
que esta pessoa discerne
o fantasma em alguma
parte das imediações, de
acordo com seus hábitos
mentais ou sua
predisposição, ou então
esse efeito se manifesta
diretamente numa porção
do espaço, caso em que
várias pessoas podem
vislumbrar,
simultaneamente, o mesmo
fantasma no mesmo lugar.
654. Passemos agora
desses casos de
psicorragia, que não
supõem, por assim dizer,
qualquer conhecimento
novo para o sujeito que
aparece sob a forma de
fantasma, aos casos em
que existe, de qualquer
forma, uma comunicação
de um Espírito a outro e
que implicam a aquisição
de conhecimentos novos
para o Espírito
incursivo. É impossível
classificar esses casos
em grupos logicamente
contínuos. Mas, de modo
geral, o grau em que
nosso encontro psíquico
fica na lembrança de
cada uma das duas partes
indica, de algum modo,
sua intensidade e pode
servir de guia para uma
classificação
provisória.
655. Adaptando-me a esse
esquema, iniciarei por
um grupo de casos que
não parece dar senão uma
informação muito
incompleta, os casos em
que, particularmente, o
agente A influi ou
invade ao sujeito
invadido P, sem que A
nem P conservem qualquer
lembrança supraliminar
do que se passou. Esses
casos são bastante
frequentes. A
aproximação psíquica se
produz, hipoteticamente,
numa região subliminar
para A e para P e desta
região, só algumas
impressões incomuns e
fragmentadas atravessam
o umbral da consciência.
656. Dessa forma, a
telepatia parece operar
de uma maneira muito
mais contínua da que
estamos dispostos a
acreditar. Mas como o
observador externo pode
saber algo desses
incidentes telepáticos,
dos quais nem sempre as
partes envolvidas se
recordam? Na vida comum
podemos, às vezes,
saber, pelos
assistentes, os
incidentes que as partes
envolvidas não nos
comunicam. Podem existir
assistência e
testemunhos dessas
invasões psíquicas?
657. Essa questão é de
grande importância
teórica. Como considero
que se produz uma
transferência real de
alguma coisa do agente,
e essa transferência
determina uma certa
modificação em
determinada porção do
espaço, pode-se
reconhecer,
teoricamente, a presença
de um assistente capaz
de discernir essa
modificação com maior
clareza do que as
pessoas em benefício das
quais se produz a
modificação. Mas se, por
outro lado, o que se
produz é a simples
transferência de um
impulso de um Espírito a
outro, resulta difícil
compreender como um
Espírito diverso do
Espírito focalizado pôde
perceber a impressão
telepática.
658. Sem dúvida, nos
casos coletivos, de
pessoas sobre as quais o
agente não demonstra
interesse algum, ou cuja
presença, ao lado da
pessoa a que se supõe se
dirija, lhe é
desconhecida, recebe-se
realmente a impressão da
mesma forma que a pessoa
focalizada. Isto foi
explicado por Gurney
como uma nova
transmissão telepática,
que, nesse caso, é
enviada do Espírito da
pessoa que impressiona
ao de seu vizinho, no
momento.
659. Uma suposição desse
teor, já bastante
problemática em si,
torna-se ainda mais,
quando, como sucede
frequentemente, a
impressão telepática não
adentrou o Espírito da
pessoa principalmente
visada. Quando, nos
casos desse gênero, um
assistente percebe a
figura do agente,
supõe-se que a percebe
como simples assistente,
não como a pessoa que
sofre a influência
telepática do sujeito ao
qual a comunicação se
dirige, já que, na
realidade, este nada
percebe.
660. Esse é o caso de
Frances Reddell
(Phantasms of the
Living, I, 214), que
certa noite, quando
estava para adormecer
uma das suas pacientes,
gravemente enferma,
percebeu o fantasma da
mãe dela, que ele não
conhecia e que não podia
ter visto antes, mas de
quem pôde fazer uma
descrição muito exata
mais tarde quando a
genitora lá chegou por
ter recebido a notícia
da morte da filha.
661. Todas as pessoas às
quais Frances Reddell
contou a sua visão
ficaram assombradas com
a semelhança entre a
visão e a pessoa real.
Ele até mesmo descreveu
determinado vestido, bem
como um castiçal, dos
quais foi confirmada a
existência pelos pais da
enferma.
662. Eis o que deve
ter-se passado naquele
caso: a mãe, inquieta
pelo estado de sua
filha, fez-lhe, por
assim dizer, uma visita
psíquica enquanto as
duas dormiam; e, ao
fazê-la, modificou um
trecho do espaço, nem
material nem oticamente,
mas de tal forma que as
pessoas suscetíveis que
se encontravam naquele
trecho do espaço puderam
distinguir, de algum
modo, uma imagem que
correspondia,
aproximadamente, ao
conceito que existia no
Espírito da mãe,
relativo ao seu próprio
aspecto, enquanto que a
mãe não se lembrava de
ter pensado em sua filha
naquela noite e, como a
filha morrera, não se
podia saber se ela, como
Frances Reddell,
percebeu a imagem de sua
mãe.
663. Temos também o caso
do marinheiro que,
cuidando de um de
companheiro moribundo (Phantasms
of the Living, II, 144),
enxergou ao redor de sua
maca umas figuras
enlutadas, que lhe
pareceram representar a
família do moribundo. A
família, sem estar
informada exatamente do
estado de seu chefe,
alarmou-se ante os
rumores que pressentiu,
com razão ou sem, por
indício de algum perigo
que a ameaçava.
664. Suponho, então, que
a mulher fez a seu
marido uma visita
psíquica e vejo, nos
trajes de luto e nas
figuras das crianças que
acompanhavam a mãe, uma
representação simbólica
desta ideia: “Meus
filhos vão ficar
órfãos”. Essa
interpretação parece
mais provável do que a
que seria na aparição
dos filhos um fato do
mesmo gênero que a
aparição da mãe.
665. As figuras
secundárias não são
raras nas aparições
telepáticas. Qualquer um
pode representar a si
mesmo, quer carregando
uma criança nos braços
ou passeando num coche
puxado por dois cavalos,
de forma tão viva como
se transportasse um
guarda-chuva ou
caminhasse por um
quarto; igualmente, pode
vislumbrar outros.
(Continua no próximo
número.)