A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 46)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Referindo-se às
mensagens de Phinuit por
intermédio da Sra. Piper,
Myers considera-as
provenientes de um
Espírito desencarnado?
Sim. Myers diz que se
esses exemplos de
comunicação, procedentes
de espíritos
extraterrenos, devem
ser, um dia, aceitos
pela ciência, as
mensagens de Phinuit
poderão, apesar de todos
os defeitos e todas as
suas inconsequências,
ser acrescentadas a esse
número. E mais: ainda
que seja evidente que as
dificuldades
concernentes à
identidade de Phinuit
não desapareceram,
parece possível
considerá-la como uma
inteligência exterior à
da Sra. Piper, como um
Espírito desencarnado.
(A Personalidade Humana.
Capítulo IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
B. Que papel Phinuit
cumpria, geralmente, com
respeito às mensagens
recebidas pela Sra.
Piper?
Ele cumpria, geralmente,
o papel de
intermediário,
reproduzindo as
comunicações feitas por
seus parentes e amigos
falecidos às pessoas
presentes às sessões. A
respeito disso, Sir
Oliver Lodge deu o
seguinte depoimento: “Um
dos melhores ajudantes
foi meu vizinho mais
próximo, Isaac C.
Thompson, ao qual, e
antes de ser
apresentado, Phinuit
enviou uma mensagem que
dizia ser proveniente de
seu pai. Três gerações
de membros, vivos e
mortos, de sua família e
da de sua mulher, foram
mencionadas com a maior
exatidão, durante o
curso de duas ou três
sessões,
caracterizando-se a cada
membro com invejável
precisão; o principal
informante era seu
falecido irmão, um jovem
médico de Edimburgo,
morto há vinte anos. O
caráter familiar e
comovedor dessas
comunicações era
extremamente notável e é
impossível perceber-se
isso nos informes
impressos das sessões”.
(Obra citada. Capítulo
IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
C. Do ponto de vista da
identidade pessoal, em
que período a série de
sessões realizadas com a
Sra. Piper foi a mais
importante?
Foi o segundo período,
de 1892 a 1896, em que o
principal intermediário
foi G. P., iniciais de
Georges Pelham, que fora
um jovem pertencente à
nobreza londrina, muito
capaz e dedicado a
trabalhos literários.
Myers nunca o viu, mas
teve amigos que eram
dele também e conseguiu
relacionar-se
intimamente com alguns
deles sobre a natureza
das comunicações que
recebiam.
(Obra citada. Capítulo
IX – Possessão,
arrebatamento, êxtase.)
Texto para leitura
1115. As “possessões” da
Sra. Piper podem ser
divididas em três
períodos:
a) a primeira
estendendo-se de 1884 a
1891 e durante a qual a
principal personalidade
diretora, que se conhece
sob o nome de “Dr.
Phinuit”, serve-se,
quase que
exclusivamente, dos
órgãos vocais,
manifestando-se num
estado de êxtase;
b) durante o segundo
período, que se estende
de 1892 a 1896, as
comunicações se
realizam,
principalmente, por meio
de escrita automática e
sob uma direção que tem
o nome de “Georges
Pelham” ou “G. P.”,
ainda que o Dr. Phinuit
tivesse, nesse período,
se manifestado com o
auxílio da voz;
c) durante o terceiro
período, que se inicia
em 1897, a supervisão
era exercida por
Imperator, Doctor,
Rector e outros, já
mencionados, por ocasião
das experiências de
Moses, na maioria dos
casos, através da
escrita e, às vezes,
através da palavra.
1116. Não vou discutir
aqui a hipótese de
fraude que já discutimos
e refutamos, juntamente
com o Dr. Hodgson, o
Prof. William James, o
Prof. Newbold, da
Universidade de
Pensilvânia, o Dr.
Walter Leaf e Sir Oliver
Lodge, e não analisarei
a fundo o caráter da
personalidade de Phinuit.
Segundo minha própria
experiência, durante a
estada da Sra. Piper na
Inglaterra, em 1889-90,
diferentes êxtases e
diferentes partes do
mesmo êxtase apresentam
uma qualidade desigual.
1117. Entrevistas houve
durante o curso das
quais Phinuit não fazia
qualquer pergunta, nem
formulava proposições
que não fossem
verdadeiras. Havia
outras durante as quais
não manifestava o menor
conhecimento real e se
limitava a perguntas e
respostas formuladas ao
acaso. O êxtase nem
sempre podia ser
provocado pela vontade.
Um estado de expectativa
tranquila favorecia,
frequentemente, a
aparição, mas às vezes
fracassava qualquer
tentativa de provocá-la.
O êxtase, uma vez
provocado, durava
aproximadamente uma hora
e com frequência existia
uma diferença notável
entre os primeiros
minutos e o restante de
sua duração.
1118. Nessas ocasiões, o
que podia ter algum
valor era dito durante
os primeiros minutos, e
o resto da conversação
consistia em
generalidades vagas ou
simples repetições do
que já se dissera.
Phinuit pretendia sempre
ser um espírito em
comunicação com outros
espíritos e possuía o
costume de dizer que
recordava suas mensagens
somente durante alguns
minutos, após “ter
entrado no campo
mediúnico” e que a
seguir suas recordações
se confundiam e não era
capaz de partir sem
esgotar sua provisão de
fatos.
1119. Parecia que se
produziria uma inútil
descarga de energia, que
durava até o momento em
que o impulso primitivo
terminava em
incoerência. Minha
conclusão geral nessa
época era que as
manifestações de Phinuit
deviam ser consideradas
como um elemento dessa
extensa série de
mensagens automáticas de
todo gênero que agora se
começa a colecionar e
analisar.
1120. Considerei como
demonstrado que esses
fenômenos testemunhavam
uma enorme extensão,
telepática ou
clarividente, das
faculdades normais do
espírito humano e me
pareceu possível que os
conhecimentos de Phinuit
derivassem de uma
faculdade telepática ou
clarividente, que a Sra.
Piper possuía em estado
latente e que se
manifestava de uma forma
pela qual não nos
acostumaram nossas
experiências anteriores.
1121. Por outro lado, as
mensagens automáticas
que estudamos
compreendiam fenômenos
deveras variados, dos
quais uns pareciam, à
primeira vista, devidos
à intervenção, talvez
indireta, da
personalidade
sobrevivente da pessoa
falecida, e afirmo que
se esses exemplos de
comunicação, procedentes
de espíritos
extraterrenos, devem
ser, um dia, aceitos
pela ciência, as
mensagens de Phinuit
poderão, apesar de todos
os defeitos e todas as
suas inconsequências,
ser acrescentadas a esse
número.
1122. Não necessito
dizer que esta última
hipótese é a que acabei
por adotar e, ainda que
seja evidente que as
dificuldades
concernentes à
identidade de Phinuit
não desapareceram,
parece possível
considerá-la como uma
inteligência exterior à
da Sra. Piper, como um
espírito desencarnado.
1123. Não se pode
esquecer, porém, que
fracassou completamente
nas suas tentativas de
estabelecer sua
identidade pessoal e
que, igualmente, não
conseguiu provar sua
pretensão de ser um
médico francês.
Infelizmente, não
possuímos qualquer
narração contemporânea
relativa aos primeiros
êxtases da Sra. Piper,
nem qualquer informação
concernente às primeiras
manifestações da
personalidade de Phinuit.
1124. Parece claro, no
entanto, que o nome de
Phinuit era o resultado
de uma sugestão levada a
cabo durante seus
primeiros êxtases (ver
Proceedings of the S. P.
R., VIII, pág. 46-58) e
mais de um poderá pensar
que a suposição mais
provável é que a direção
exercida por Phinuit
nada mais era do que a
de uma personalidade
secundária da Sra. Piper.
Mas, segundo as
afirmações (das quais
não existe qualquer
prova) feitas por
Imperator, Phinuit seria
um espírito inferior
“ligado à terra”, que
foi confundido e perdido
desde suas primeiras
tentativas de
comunicação e perdeu,
por assim dizer, “a
consciência de sua
identidade pessoal”.
1125. Os casos citados
no capítulo II indicam,
contudo, que não é rara
tal eventualidade nesta
vida e que não é
impossível sobrevirem
perturbações profundas
da memória a um espírito
desencarnado
inexperiente, como
consequência de suas
primeiras tentativas de
se comunicar conosco
através do mundo
material.
1126. Seja como for, a
personalidade Phinuit
não se manifestou,
direta ou indiretamente,
desde o mês de janeiro
de 1897, época na qual
Imperator começou a
presidir as supravisões
da Sra. Piper.
1127. Phinuit preenchia,
geralmente, o papel de
intermediário,
reproduzindo as
comunicações feitas por
seus parentes e amigos
falecidos às pessoas
presentes às sessões, e
numa série de sessões
favoráveis, a impressão
geral foi a descrita por
Sir Oliver Lodge, no
caso seguinte (Proceedings
of the S. P. R., VI,
pág. 454): “Um dos
melhores ajudantes foi
meu vizinho mais
próximo, Isaac C.
Thompson, ao qual, e
antes de ser
apresentado, Phinuit
enviou uma mensagem que
dizia ser proveniente de
seu pai. Três gerações
de membros, vivos e
mortos, de sua família e
da de sua mulher, foram
mencionadas com a maior
exatidão, durante o
curso de duas ou três
sessões,
caracterizando-se a cada
membro com invejável
precisão; o principal
informante era seu
falecido irmão, um jovem
médico de Edimburgo,
morto há vinte anos. O
caráter familiar e
comovedor dessas
comunicações era
extremamente notável e é
impossível perceber-se
isso nos informes
impressos das sessões”.
1128. Os casos desse
gênero não são
frequentes e ainda que
pareça ter havido,
durante o primeiro
período da história da
Sra. Piper, provas
abundantes da existência
de uma capacidade
supranormal que exigia
ao menos a hipótese da
transmissão de
pensamento de pessoas
vivas, próximas ou
distantes, e tornava
provável a hipótese de
uma capacidade
telestésica ou,
inclusive, de
premonição, não é menos
certo que a questão
principal que nos
interessa é saber se o
organismo da Sra. Piper
era guiado, direta ou
indiretamente, por
espíritos desencarnados,
suscetíveis de
proporcionar provas
satisfatórias de sua
identidade. Esta questão
permanece em aberto.
1129. Do ponto de vista
da identidade pessoal, a
série de sessões que deu
a Sra. Piper durante o
segundo período, de 1892
a 1896, é muito mais
importante. O
informante, ou principal
intermediário, durante
este período, foi G. P.,
cujo nome, se bem que
conhecido de diversas
pessoas, foi
transformado em “Georges
Pelham”. G. P. era um
jovem muito capaz,
dedicado a trabalhos
literários. Cidadão
americano, mas
pertencente à nobreza
londrina. Nunca o vi,
mas tive a felicidade de
ter amigos que eram dele
também e consegui
relacionar-me
intimamente com alguns
deles sobre a natureza
das comunicações que
recebiam.
1130. Dessa forma,
colocaram-me a par das
manifestações mais
significativas de G. P.
que foram julgadas de
natureza demasiadamente
íntima para a publicação
e assisti a sessões em
que G. P. se manifestou.
Para a discussão
completa das provas
tendentes a mostrar a
identidade de G. P.,
nada mais faço do que
indicar a meus leitores
os relatos originais
publicados no
Proceedings of the S. P.
R., XIII, págs. 284-582
e XIV, págs. 6-49.
1131. Poderíamos citar
outros exemplos
extraídos da história da
Sra. Piper, todos
tendendo a mostrar que
seu organismo corporal
era possuído e guiado
por espíritos
desencarnados que
tratavam de provar sua
identidade, reproduzindo
as recordações de sua
vida terrenal.
1132. Devemos tratar
agora de formar uma
ideia definida do
processo de observação
real dos fatos, ainda
que não se necessite
dizer que a ideia mais
adequada que formaremos
no momento receberá,
necessariamente, de
nossa própria existência
material, inúmeras
restrições e limitações
e só poderá ser expressa
com o auxílio de
analogias sumárias.
1133. Devo dizer, desde
o início, que esta união
de dois seres humanos
tão diferenciados, que
se expressa na possessão
de um organismo, nada
tem em si de fatídica ou
alarmante. No caso da
Sra. Piper o início e o
fim de um êxtase que,
segundo a expressão de
James, ia no começo
acompanhado de
“perturbações
respiratórias e de
contrações musculares
pronunciadas”, se
realiza agora tão
tranquilamente como o
dormir e acordar, e sua
vigília não se ressente
em nada do êxtase, a não
ser por uma fadiga
passageira, quando o
êxtase foi
demasiadamente
prolongado ou, noutras
ocasiões, por um estado
vago e difuso de
bem-estar, semelhante ao
que se experimenta, às
vezes, ao acordarmos de
um sono agradável.
1134. A influência sobre
a saúde, longe de ser
prejudicial, deve ter
sido, melhor dizendo,
saudável. Apesar disso,
depois das graves
alterações que
experimentou, como
consequência de um
acidente de trenó e das
consecutivas operações,
a Sra. Piper é,
atualmente, “uma mulher
cuja saúde está em
perfeito estado”. Do
ponto de vista do
caráter, representa o
tipo da mulher
americana, tranquila e
que se ocupa muito da
casa e dos filhos
(casou-se em 1881 e tem
duas filhas de 17 e 18
anos). Segundo o Dr.
Hodgson, a direção que
sofreu por parte de
inteligências superiores
à sua aumentou sua
estabilidade e
serenidade.
1135. Enquanto
consideramos somente o
lado material e carnal
de suas estranhas
relações, parece-nos
assistir a um processo
de evolução que ante nós
se desenvolve, com
facilidade inesperada,
de forma que nosso dever
é procurar,
cuidadosamente, e
exercitar outros
indivíduos favorecidos
que apresentem a mesma
capacidade sempre
latente talvez, mas que,
em nossos dias, emerge,
gradualmente, na raça
humana.
1136. Ao abordar as
coisas que se encontram
além da experiência
humana, nossa finalidade
principal deve ser a de
estabelecer sua
continuidade com o que
já conhecemos. Por
exemplo, nos é
impossível adquirir,
independentemente do que
já sabemos, um conceito
satisfatório do mundo
invisível. Entretanto,
esse conceito jamais foi
devidamente considerado,
do ponto de vista de
nossas ideias modernas
de continuidade, de
conservação da energia,
de evolução.
1137. As noções
principais relativas à
sobrevivência foram
formadas, primeiramente,
pelos homens primitivos,
depois pelos filósofos
aprioristas. Aos olhos
do homem de ciência, a
questão não apresentava
uma atualidade
suficiente para que a
julgassem digna de ser
abordada com o auxílio
dos métodos científicos.
Contentavam-se, como o
restante da humanidade,
com qualquer teoria
tradicional, de
preferência sentimental,
pela descrição que se
considerasse mais
satisfatória e elevada.
Mas sabem que esse
princípio subjetivo de
escolha conduzira na
história à aceitação de
diversos dogmas que
nossas noções de homem
civilizado nos levam a
considerar como
blasfemas e cruéis no
mais alto grau.
1138. A única diferença
entre as concepções dos
filósofos modernos e as
do homem primitivo
consiste em que enquanto
o último admitia
escassas diferenças
entre o mundo material e
o espiritual, o primeiro
considera essa diferença
demasiado grande e isso
constitui, entre ambos,
um abismo invencível que
os opõe um ao outro de
maneira quase absoluta.
1139. Toda a questão
gira ao redor da
persistência da
identidade pessoal além
da morte. Como devemos
conceber esta
identidade? Quais coisas
deve conservar de sua
memória e de seu caráter
para ser por nós
reconhecido? Nossa
memória (ou a dele) deve
persistir inteiriça ou
eterna? Sua memória deve
ter uma extensão que
confine com a
onisciência e seu
caráter revestir-se de
uma qualidade divina? E,
quaisquer que sejam as
alturas que alcance,
devemos exigir que se
nos revele? As
limitações que se
depreendem de nosso
mundo material não são,
para ele, um obstáculo? (Continua no próximo
número.)