Utilitarismo transcendente
No último 11 de
maio, véspera do
“dia das mães”,
tive, juntamente
com meus pais, a
oportunidade de
visitar uma das
maiores e mais
bem estruturadas
entidades
beneficentes
espíritas do
Brasil, a
afamada “Casas
André Luiz” na
cidade de
Guarulhos, no
estado de São
Paulo.
A entidade foi
fundada em 28 de
janeiro de 1949,
com o objetivo
central de
atender
gratuitamente a
pessoas com
deficiência
intelectual, em
todos os graus
de
comprometimento,
com ou sem
comprometimento
físico
associado. Sendo
que, atualmente,
conta com cerca
de 1600
pacientes, dos
quais 600 são
residentes,
necessitando de
cuidados
permanentes por
toda a presente
encarnação: http://casasandreluiz.org.br/historico.php?id=101000.
Durante a
visitação,
pudemos
vislumbrar a
grandiosidade da
obra e o
comprometimento
dos
colaboradores
voluntários e
remunerados, bem
como a qualidade
de vida que os
atendidos
usufruem. Dentre
as muitas
informações e
dados que nos
foram
prestimosamente
passados, uma
nos surpreendeu:
o alto custo
operacional, na
faixa de milhões
de reais.
Números vultosos
sempre despertam
nas mentes ainda
presas à
materialidade da
vida o
pensamento
utilitarista de
que: “Vale a
pena gastar uma
soma como essa,
com pessoas que,
aparentemente,
nada produzem,
ou trazem de
retorno à
sociedade?”;
ou: “Não
seria mais útil
à sociedade
despender altas
somas junto a
pessoas
“normais”,
detentoras de
plena capacidade
de
desenvolvimento?”.
Tal forma de
pensamento
fundamenta-se
num raciocínio
amplamente
difundido em
nossa sociedade,
tendo suas
principais
pilastras nas
doutrinas
materialista e
utilitarista. A
doutrina
materialista,
como bem
sabemos, apregoa
que tudo é
formado de
matéria, e que a
consciência – ou
mente – seria o
produto de suas
incalculáveis
interações. A
doutrina
utilitarista,
por sua vez,
apregoa que o
mais elevado
objetivo moral
da vida é
maximizar a
felicidade,
assegurando a
hegemonia do
prazer sobre a
dor; para os
filósofos dessa
doutrina, a
coisa certa a se
fazer é aquela
que maximize a
“utilidade”,
definindo
utilidade como
qualquer coisa
que produza
prazer ou
felicidade e que
evite a dor ou
sofrimento,
tanto no plano
individual como
no coletivo.
No entanto, para
nós espíritas,
mesmo que este
pensamento ronde
nossas mentes,
devemos
combatê-lo com
aquilo que há de
melhor em nossa
Doutrina
Consoladora, que
não são, senão,
as mesmas razão
e lógica que
levam os
materialistas-utilitaristas
a pensarem de
sua forma.
Razão e lógica
são ferramentas
com as quais a
mente, em nosso
atual plano
evolutivo,
dispõe para
compreender e
interagir com a
realidade. Como
meios, elas são
essencialmente
amorais, não
dispondo em si
das qualidades
de “bem” e
“mal”. Portanto,
para que
cheguemos a
resultados
diferentes,
devemos partir
de premissas
diferentes. E é
aqui que o
Espiritismo se
destaca das
outras doutrinas
religiosas, pois
suas premissas
são baseadas em
constatações
fáticas
decorrentes da
aplicação do
método
científico de
pesquisa.
Nós espíritas
temos como
premissa
fundamental que
a alma ou
espírito não é
produto da
matéria, mas,
sim, um elemento
de outra
natureza, o
qual, junto com
a matéria e
Deus, formam o
todo universal.
Nesse sentido, o
corpo figura
como mera
expressão
transitória
material do
espírito, que é
essencialmente
imortal. Dessa
maneira, ao nos
depararmos com
indivíduos
portadores de
deficiências
intelectuais e
físicas graves,
somos levados
invariavelmente
a ver suas
condições como
momentâneas,
passageiras, nas
quais o espírito
imortal se vê
jungido por
determinado
tempo, e não
como algo
permanente e
único, como nos
faz crer o
pensamento
materialista. A
partir disso,
podemos analisar
o utilitarismo
de uma
perspectiva mais
branda e
coerente com os
princípios
cristãos da
caridade e
fraternidade.
Imaginemos
então, que
tivéssemos de
escolher entre
investir somas
consideráveis de
recursos
financeiros em
indivíduos ditos
“normais” ou em
pessoas com
graves
deficiências
intelectuais e
físicas. Quais
nós
escolheríamos?
De que forma
concluiríamos
por esses ou
aqueles? Quais
seriam nossos
fundamentos?
Afinal, é
justamente disso
que estamos
falando!
O utilitarismo
lastreado no
materialismo, o
qual no Ocidente
institucionaliza-se
espontaneamente,
primeiramente em
Esparta e Roma,
e, mais
recentemente,
tem sua mais
nefasta
manifestação no
darwinismo
social da
Alemanha
nazista. Apregoa
que indivíduos
como esses,
carecedores da
possibilidade de
desenvolvimento
pleno de suas
capacidades
humanas, devem
ser apartados,
isolados ou
simplesmente
eliminados como
uma forma de
profilaxia e
cura social,
objetivando uma
pretensa
evolução
coletiva. Impera
nessa forma de
pensamento, a
lei do mais
forte e da
existência única
e material do
mais apto.
Destarte,
aqueles que não
detêm tais
“qualidades” não
merecem ser
escolhidos.
Contrapondo-se a
esta visão, o
Dr. Sérgio
Felipe de
Oliveira, médico
psiquiatra
coordenador da
cátedra de
Medicina e
Espiritualidade
na Universidade
de São Paulo -
USP, em sua aula
de maio
(11.05.13)
ministrada no
curso de
Medicina
Integrativa da
UNIESPÍRITO –
Escola de
Medicina e
Espiritualidade
–,
brilhantemente
nos expôs o
conceito de
Índice de
Mobilização
Social, o
qual, por sua
vez, diz que
indivíduos com
necessidades
especiais, assim
como bebês,
detêm alta
capacidade de
mobilização
social, ou seja,
em virtude de
limitações das
mais variadas
naturezas, estes
indivíduos
mobilizam em
torno de si
variável número
de pessoas, as
quais, através
de ações
lastreadas nos
sentimentos de
Amor, Caridade,
Solidariedade,
Fraternidade,
Dever etc., os
auxiliam nas
realizações mais
simples, até as
mais complexas
do cotidiano.
Noutras
palavras,
podemos inferir
que quanto maior
a limitação de
um indivíduo,
maiores são suas
necessidades.
Assim, se este,
de alguma forma,
não é capaz de
desenvolver-se a
ponto de atender
sua própria
necessidade,
esta deve ser
atendida por
outro. Sob esse
ponto de vista,
surgem duas
principais
ações, as que
visam ao
desenvolvimento
das habilidades
do indivíduo
portador de
necessidades
especiais e,
caso isso não
seja possível, a
sua
suplementação
por um terceiro.
Dessa forma,
tais indivíduos,
tornam-se, por
natureza,
Aglutinadores de
Bondade; Escolas
Vivas de
Solidariedade,
Caridade e Amor.
Nesse aspecto,
suas funções e
retornos sociais
transcendem os
limites
estritamente
materiais,
atingindo o
âmago moral das
coletividades
das quais fazem
parte.
Seus papéis são
de fundamental
importância para
a construção de
sociedades mais
condizentes com
os princípios e
ensinos de
Jesus, daquilo
que o
Espiritismo, em
sua escala de
evolução
planetária,
costuma chamar
de “Mundos ou
Planetas de
Regeneração”.
Portanto, mesmo
que façamos uso
da visão
utilitarista,
esta adquirirá
feições
transcendentes,
por justamente
fundamentar-se
em premissas de
natureza
espiritual.
Sendo mais
pragmático, a
aplicação de
recursos visando
à manutenção de
indivíduos com
alto índice de
mobilização
social
representa, sob
essa nova
abordagem, um
verdadeiro
investimento na
transformação
moral de toda a
coletividade.
É claro que o
desenvolvimento
material
da humanidade é
e sempre será
necessário,
porém, tão
importante
quanto é o seu
desenvolvimento
moral. É de
conhecimento
comum e
ordinário que a
necessidade
figura como o
maior estímulo à
alma humana em
seu caminho
ascensional. Por
mais que
desenvolvamos o
intelecto,
quando este se
desprende do
lastro da
moralidade, os
resultados se
mostram
catastróficos. A
mente humana
desprovida do
norte luminoso
do bem ruma
desvairada,
destruindo tudo
aquilo que vai
de encontro à
concretização de
seu desejo. O
desenvolvimento
moral do
indivíduo é a
célula mater
do
desenvolvimento
social, somos
como pequenas
partículas deste
gigantesco
corpo; nosso
aprimoramento é
imediatamente
somado à
evolução deste
Todo, ao qual
pertencemos.
Assim, façamos
nossa jornada
interior em
busca de nossas
necessidades
evolutivas e nos
coloquemos a
caminhar em sua
direção. Como
novos Paulos, o
inesquecível
Mestre Nazareno
nos aparecerá e
curará nossas
cegueiras,
fazendo-nos
enxergar a
Verdadeira
claridade que só
a Caridade pode
trazer aos
corações
chagados dos
viajantes da
Vida.
Possamos nós
também nos fazer
ser aquele que
leva as bênçãos
do alto a todos
os que dela
necessitam,
sejam estes
vistos como
“normais” ou
não.
Muita Paz!