E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
9)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Qual era o motivo que
impedia Evelina de
compreender que se
encontrava desencarnada?
Essa pergunta foi feita
também por Evelina e o
Instrutor Ribas
esclareceu: "Falta de
preparo na vida física".
Segundo ele, a surpresa
de Evelina era comum à
maioria das criaturas
terrestres, em virtude
da ausência de
integração real com as
experiências religiosas
a que se afeiçoam. O
Instrutor Ribas
acrescentou que ela, na
condição de católica,
deveria apresentar um
índice mais completo de
comunhão com a verdade
espiritual. Afinal, se
ela meditasse na
essência dos ofícios
religiosos de sua fé,
todos eles dirigidos a
Deus e, depois de Deus,
aos mortos sublimes,
como Jesus, sua mãe e os
Espíritos heroicos que
veneramos por santos da
vida cristã, decerto não
experimentaria o
assombro que até então
lhe insensibilizava os
centros de força.
(E a Vida Continua, cap.
10, pp. 74 e 75.)
B. Um dos motivos da
tristeza que acompanhou
os últimos dias de
Evelina na Terra foi a
traição de seu esposo.
Como ela lidou com isso?
O aborto espontâneo que
ocorreu logo que
engravidou levou-a a um
estado de deperecimento
orgânico progressivo.
Seu esposo (Caio)
procurou então uma nova
companheira, uma moça
solteira, com quem
passou a conviver,
simulando vida conjugal
na cidade grande. A
situação vexatória em
que Evelina se achou
passou a arrasá-la, e
sucessivas humilhações,
a que se viu exposta
dentro de casa,
amargaram-lhe a
existência. O Instrutor
Ribas perguntou-lhe se
ela chegou a desculpar o
esposo infiel e a
compadecer-se da rival.
Evelina respondeu: "De
modo nenhum. Estou numa
confissão em que tomo a
Jesus por minha
testemunha e não posso
mentir. Nunca pude
perdoar a meu marido
pela deslealdade com que
me afronta e nem tolerar
a presença da outra
em nosso caminho".
(Obra citada, cap. 10,
pp. 78 e 79.)
C. Por que, estando
desencarnado e
consciente do fato, o
Espírito não recorda as
peripécias ligadas às
outras existências?
As potências da alma, no
período da encarnação,
jazem orientadas na
direção desse ou daquele
trabalho, segundo os
propósitos que a pessoa
tenha assumido ou que
tenha sido constrangida
a assumir. Isso
determina o
obscurecimento das
memórias pregressas. A
passagem pelo claustro
materno, os sete anos de
semi-inconsciência no
ambiente fluídico dos
pais, a meninice, o
retorno à juventude e os
problemas da madureza
estruturam em nós uma
personalidade nova que
incorporamos ao nosso
patrimônio de
experiências. É, pois,
compreensível que, no
espaço de tempo que
transcorre imediatamente
à desencarnação, a
memória profunda esteja
ainda hermeticamente
trancada nos porões do
ser. Mas isso é
transitório e
gradativamente o
Espírito penetra o
domínio do seu passado.
(Obra citada, cap. 11,
pp. 80 a 82.)
Texto para leitura
33. Falta de
preparo para a morte
- Perante o benfeitor
espiritual, Evelina
encheu-se de coragem e
perguntou: "Instrutor
Ribas, conquanto o
senhor tenha feito
referências a meus `primeiros
tempos de vida
espiritual', é
verdade que somos
Espíritos desencarnados,
pessoas que não mais
habitam a Terra?"
"Perfeitamente –
respondeu-lhe o mentor
–, embora a irmã não
consiga ainda
certificar-se disso."
"Por que semelhante
inadaptação?", indagou
Evelina. "Falta de
preparo na vida física",
esclareceu Ribas. "De
modo geral, a sua
posição de surpresa é
comum à maioria das
criaturas terrestres, em
virtude da ausência de
integração real com as
experiências religiosas
a que se afeiçoam." O
Instrutor Ribas
acrescentou que ela, na
condição de católica,
deveria apresentar um
índice mais completo de
comunhão com a verdade
espiritual. Afinal, se
ela meditasse na
essência dos ofícios
religiosos de sua fé,
todos eles dirigidos a
Deus e, depois de Deus,
aos mortos sublimes,
como Jesus, sua mãe e os
Espíritos heroicos que
veneramos por santos da
vida cristã, decerto não
experimentaria o
assombro que até então
lhe insensibilizava os
centros de força.
Evelina viu-se, então,
transportada ao seu
velho templo religioso e
passou, desse momento em
diante, a penetrar o
verdadeiro sentido dos
rituais litúrgicos de
que participara. Como
não os interpretara,
antes, por invocações
ao Mundo Espiritual?
como não lhes percebera
a função de canais de
comunicação com as
Forças Divinas?
Refletindo nisso,
Evelina debulhou-se em
pranto: "Oh! meu
Deus!... por que
precisei morrer
para compreender? por
quê, Senhor? por
quê?!..." (Cap. 10, pp.
74 e 75)
34. A
história de Evelina
- O generoso amigo
deixou que as lágrimas
estancassem e, ao vê-la
asserenar-se, falou-lhe,
comovido: "A depressão
momentânea lhe faz bem.
A dor moral nos mede a
noção de
responsabilidade. Seu
sofrimento de espírito,
ao recordar-se do Senhor
Jesus, evidencia a sua
confiança nele". A
conversação tomou, no
entanto, outro rumo. Era
imprescindível colher o
depoimento da jovem
desencarnada, porquanto,
de posse dele, o
Instituto estaria mais
amplamente informado
quanto à tarefa do
auxílio a ser-lhe
ministrado. Todos nós
somos conhecidos no
mundo espiritual,
esclareceu o Instrutor,
mas a versão dela seria
muito importante,
considerando-se que suas
anotações
autobiográficas se lhe
jorrariam da própria
consciência. "Há que
provermos um
autoencontro, no plano
das realidades da alma,
para o balanço preciso
de nossas necessidades
imediatas", acrescentou
o benfeitor. Em seguida,
ele rogou-lhe
rememorasse, de viva
voz, alguns traços da
própria história, a
começar das
reminiscências mais
antigas. Evelina narrou,
então, humilde: "Minhas
memórias principiam,
confusamente, ao perder
meu pai. Era uma criança
tenra, quando escutei os
gritos de minha mãe,
agarrando-se a mim, a
dizer-me que eu estava
órfã... Pouco tempo
decorrido, minha mãe
deu-me um padrasto bom e
amigo. Realizado o
segundo matrimônio, ela
e meu segundo pai
resolveram abandonar a
região em que morávamos,
decerto no intuito de
fugir a recordações
indesejáveis". Evelina
revelou que sentia,
então, falta instintiva
de seu pai e que, acerca
do seu falecimento, nada
mais pudera colher de
sua mãe, a não ser que
ele morrera de modo
repentino, quando se
achava num passeio. Mais
tarde, compreendeu que a
mãe reprimia comentários
em torno do pretérito,
esquivando-se a
conflitos possíveis com
o segundo esposo, que
lhe dedicava enternecido
afeto. Aos doze anos,
fora internada num
educandário católico,
onde se diplomou para o
magistério, sem
exercê-lo, porém, em
tempo algum, visto que,
desde o baile de
formatura, viu-se
requestada por dois
rapazes, Túlio Mancini e
Caio Serpa. (Cap. 10,
pp. 76 a 78)
35. A
morte de Túlio
– Evelina prosseguiu:
"Confesso que, muito
moça e muito
irresponsável ainda,
deixei que o meu coração
balançasse, entre os
dois, prometendo
fidelidade a ambos,
simultaneamente. Quando
admiti minha escolha
definitiva na pessoa de
Caio, que veio a ser meu
esposo, Túlio tentou o
suicídio e, ao vê-lo
salvo, pensei no
sacrifício a que se
dera por minha causa e,
de novo, me inclinei
para ele... Quando me
dispunha a requisitar de
meu noivo a exoneração
de qualquer compromisso,
Túlio matou-se com um
tiro no coração...
Depois da terrível
ocorrência, casei-me...
Caio e eu fomos felizes,
por alguns meses, até
que vimos frustrado o
anseio de possuir um
filhinho... Abortei,
logo ao engravidar-me.
Em seguida, caí em
deperecimento orgânico
progressivo". Caio
procurou nova
companheira, uma moça
solteira, com quem
passou a conviver,
simulando vida conjugal
na cidade grande... A
situação vexatória em
que se achou passou a
arrasá-la, e sucessivas
humilhações, a que se
viu exposta dentro de
casa, amargaram-lhe a
existência. O Instrutor
a fitou, comovido, e
perguntou-lhe se ela
chegou a desculpar o
esposo infiel e a
compadecer-se da rival.
Evelina refletiu alguns
momentos e respondeu:
"De modo nenhum. Estou
numa confissão em que
tomo a Jesus por minha
testemunha e não posso
mentir. Nunca pude
perdoar a meu marido
pela deslealdade com
que me afronta e nem
tolerar a presença da
outra em nosso
caminho". O benfeitor
disse compreender-lhe os
sentimentos e
despediu-a, atendendo,
na sequência, a Ernesto
Fantini. (Cap. 10, pp.
78 e 79.)
36. Porque o
Espírito não se lembra
do passado -
Fantini, que não
acreditava estivesse
realmente morto,
principiou seu
depoimento com uma
pergunta. "Instrutor –
disse ele –, se deixei
meu corpo na Terra, sem
lembrar-me disso, não é
o caso de ter voltado ao
ambiente natural do
Espírito, com a
obrigação de retomar a
memória do tempo em que
vivia, na condição de
Espírito livre, antes de
envergar, entre os
homens, o corpo de que
me desfiz? por que
motivo isso não
acontece?" Ribas
esclareceu: "A
existência no carro
físico, além de ser um
estágio para
aprendizagem ou cura,
resgate ou tarefa
específica, é igualmente
um longo mergulho no
condicionamento
magnético, em que
agimos, no mundo,
induzidos ao que nos
cabe fazer. O
livre-arbítrio, na
esfera da consciência,
permanece vivo e
intocado, porquanto, em
quaisquer posições, a
criatura encarnada é
independente para
escolher os próprios
rumos; no entanto, as
demais potências da
alma, no período da
encarnação, jazem
orientadas na direção
desse ou daquele
trabalho, segundo os
propósitos que tenha
assumido ou que tenha
sido constrangida a
assumir. Isso determina
o obscurecimento das
memórias pregressas que,
aliás, não é senão um
fenômeno temporário,
mais ou menos curto ou
longo, conforme o grau
de evolução que tenhamos
atingido". A passagem
pelo claustro materno,
os sete anos de
semi-inconsciência no
ambiente fluídico dos
pais, a meninice, o
retorno à juventude e os
problemas da madureza
estruturam em nós uma
personalidade nova que
incorporamos ao nosso
patrimônio de
experiências. É, pois,
compreensível que, no
espaço de tempo que
transcorre imediatamente
à desencarnação, a
memória profunda esteja
ainda hermeticamente
trancada nos porões do
ser. Mas isso é
transitório e
gradativamente
reaveremos o domínio de
nossas reminiscências.
"O senhor quer explicar
– disse Fantini – que,
nesta cidade, sou ainda
Ernesto Fantini?"
"Perfeitamente",
respondeu o benfeitor.
"Cada um de nós
permanece aqui, em
núcleos de trabalho e
renovação, na
vizinhança do plano
físico, sob a mesma
ficha de identificação,
através da qual éramos
conhecidos nela. Até que
nos promovamos por
merecimento próprio a
círculos mais altos de
sublimação,
quedar-nos-emos entre a
Espiritualidade
Superior e o Estágio
Físico, operando no
aperfeiçoamento
pessoal, da internação
no berço à liberação
para a vida espiritual e
regressando da
liberdade na vida
espiritual a nova
segregação no berço."
(Cap. 11, pp. 80 a 82)
(Continua na próxima
semana.)