Identidade espírita
“Eu vivo, mas já não sou
eu, é Cristo que vive em
mim.” (Paulo aos Gl
2,20)
A Psicologia
esclarece-nos que temos
duas identidades, a
pessoal e a social. A
identidade pessoal é
composta por alguns
elementos, tais como
nome, idade, gênero,
cidade de nascimento,
filiação etc. A
identidade social possui
outras características,
como família a que se
pertence, religião,
nacionalidade, etnia,
ideologia política etc.
As duas se sobrepõem,
contudo, a identidade
social é mais ampla e,
frequentemente,
dominante. Fatores
externos ao indivíduo
podem “eliciar” uma
expressividade maior de
uma característica sobre
as demais, mesmo que por
períodos não muito
longos. Por exemplo, nos
EUA na ocasião das
eleições presidenciais,
o país se divide em
democratas e
republicanos. À
pergunta: quem é você? A
resposta mais comum é:
“sou republicano ou sou
democrata”. Nesse caso,
a característica de
identidade que se
sobrepõe às demais é a
partidária ideológica.
No Brasil, por ocasião
da Word Cup, uma forte
tendência de brasilidade
parece se generalizar.
Tem-se, então, uma
predominância dessa
característica
nacionalista.
E a identidade
religiosa? Ela pode
permanecer obscurecida
ou saliente, dependente,
também, de fatores
externos. Quando esses
fatores têm um caráter
ameaçador e a pessoa se
vê diante da situação
que exige “testemunho”,
o conflito (sou/não sou)
pode ser muito pesado. É
o caso de Pedro, ao
negar ser membro
participante do grupo de
Jesus. Em alguns grupos
religiosos a identidade
pode ser mais saliente e
permanente do que em
outros, especialmente
quando seus líderes
manipulam técnicas de
controle, criando
seguidores fanatizados e
obedientes.
O trecho da carta de
Paulo aos Gálatas, acima
citada, é exemplo de
prevalência da
identidade cristã sobre
as demais, por exemplo,
gênero. Tal identidade
foi construída aos
poucos, tendo o notável
apóstolo vivido diversos
conflitos. Por exemplo,
Paulo assistiu, entre
perplexo e irritado, às
concessões feitas por
Tiago aos fariseus
quanto à obrigatoriedade
da circuncisão e à
incapacidade de Pedro em
intervir (Mt 26, 33-35;
Lc 22, 60-62). O que
parece ter ajudado
bastante na formação de
sua nova identidade foi
o contato com diferentes
novos cristãos, cada
grupo com culturas
diferenciadas e, também,
a adoção do nome Paulo,
em lugar de Saulo,
conforme sugestão de
Ananias.
Quanto à identidade
espírita, certamente ela
não se define pelo
número de sessões
frequentadas, palestras
realizadas, passes
ministrados, doações
feitas, embora essas
atividades possam ser
importantes na sua
construção. Por outro
lado, é evidente que não
podemos estabelecer como
paradigma de nossa
identidade espírita
emblema semelhante
contido na afirmativa de
Paulo. Para o nosso
caso, com a posição
espiritual que ocupamos,
melhor emblema é o que
nos oferece Allan
Kardec. E é o que melhor
define nossa identidade
espírita. Disse o
professor Rivail: “O
espírita se reconhece
pela sua transformação
moral e pelo esforço que
faz para domar suas más
inclinações” (ESE, cap.
XII, 4). Quanto mais
utilizamos essa
afirmação como uma
bússola para nossas
vidas, mais estamos
construindo nossa
identidade de espíritas.