MATHEUS TUNES
matheus.tunes@gmail.com
São Paulo, SP
(Brasil)
|
|
Sobre a natureza
física
do
Espírito
Este é um
assunto muito
interessante. A
doutrina
espírita é
revolucionária.
Não por postular
e sedimentar o
conhecimento
sobre a
comunicabilidade
dos Espíritos
com o universo
físico, uma vez
que isto tem
sido observado e
reportado na
mais tenra idade
da raça humana
sobre o planeta
Terra. A
revolução
iniciada pelos
alicerces do
Espiritismo
deve-se ao fato
de seu mentor
principal, Allan
Kardec,
desenvolver um
mecanismo
sistêmico de
abordagem do
assunto – a ação
dos Espíritos
sobre a matéria
ponderável – sob
um aspecto
circular.
Ciência,
filosofia e
religião são
analisadas por
ele sob um ponto
de vista
integrador de
modo a permitir
que o
conhecimento
pudesse ser
solidificado e
estudado com
todo rigor
exigido pela
academia da
época. Nos
moldes
acadêmicos, o
Espiritismo foi
a primeira
doutrina que
contou com um
periódico
científico
difundido na
academia
parisiense, a
Revista
Espírita, que
reportava os
resultados de
pesquisas e
artigos dos mais
diversos
cientistas e
estudiosos que,
em sua época,
planejavam
entender o que
acontecia.
Essa atitude
científica de
Kardec de
integralizar
conhecimentos,
investigar
fenômenos
aparentemente
inteligíveis
pela ciência,
está
praticamente
ausente em todas
as nossas
Universidades ao
redor do mundo
neste século
XXI, onde o
materialismo e a
visão
separatista e
fragmentadora
das ciências são
elencados como
os baluartes da
produção do
conhecimento
humano.
Mas, podemos nos
perguntar a nós
mesmos: O que é
o Espírito? Qual
a sua natureza?
No Livro dos
Médiuns [1], o
codificador
enfatiza que “a
natureza íntima
do Espírito
propriamente
dito, isto é, do
ser pensante,
desconhecemo-la
por completo”.
Mais a frente é
dito que “o
Espírito
precisa, pois,
de matéria para
atuar sobre a
matéria. Tem por
instrumento
direto de sua
ação o
perispírito”.
Ainda mais
interessante é a
questão de
número 82 de O
Livro dos
Espíritos [2]. O
codificador
indaga: “Será
certo dizer que
os Espíritos são
imateriais?”.
Respondem os
Espíritos:
Imaterial não é
bem o termo;
incorpóreo seria
mais exato, pois
deves
compreender que,
sendo uma
criação, o
Espírito há de
ser alguma
coisa. É a
matéria
quintessenciada,
mas sem analogia
para vós outros,
e tão etérea que
escapa
inteiramente ao
alcance dos
vossos
sentidos”.
Pois bem, cabe a
nós cientistas a
tarefa de
evoluir buscando
entender algo
sobre a natureza
do Espírito.
Observamos que
os estudos
preliminares de
Kardec apontam
para uma espécie
de associação,
novamente
sistêmica, entre
espírito,
perispírito e
corpo físico.
Esta relação não
hierárquica
indica que o
Espírito não
domina o corpo
físico,
interagindo com
este de modo
indireto,
contemplando
também as
interações corpo
físico com o
Espírito,
realizando
trocas de
natureza
diversa, através
do perispírito.
Necessitando de
matéria para
agir sobre a
matéria, o
Espírito não
deve possuir uma
natureza muito
diferente da
própria matéria
como conhecemos.
Imaginemos por
exemplo que o
Espírito seja
constituído de
algo muito
próximo daquilo
que conhecemos
como a luz. Na
Física
contemporânea,
entendemos que a
luz tem uma
natureza dual:
ela se comporta
como onda
eletromagnética
com dois campos
– o Elétrico e o
Magnético –
oscilando
transversalmente,
mas também pode
se comportar
como partícula,
os fótons de luz
(concepção de
Wien-Einstein).
Em 1934, G.
Breit e John A.
Wheeler [3]
propuseram um
mecanismo
teórico onde é
possível
produzir matéria
utilizando luz:
o resultado da
colisão de dois
fótons de luz em
determinadas
condições seria
capaz de “criar”
matéria na forma
de um par
elétron-pósitron.
Nas últimas
semanas [4],
cientistas da
Alemanha e do
Imperial College
divulgaram na
imprensa
científica que
os experimentos
para produção de
matéria a partir
da luz serão
viáveis e
passíveis de
execução dentro
de 12 meses.
Caso confirmado,
este experimento
irá demonstrar,
em grau mais
singelo, que
luz, matéria e
energia são
faces de uma
mesma moeda.
Quem poderia
imaginar que luz
poderia ser
capaz de
produzir
matéria? Ou:
Quem poderia
imaginar que um
Espírito (que
não vemos, não
sentimos
diretamente, não
somos capazes de
tocar, tal como
a luz), dotado
de uma
específica e
delicada
natureza, possa
agir sobre a
matéria? Criar
matéria a partir
de luz é mais do
que estudar a
interação da luz
com a matéria: o
agente que
interage não
cria, dizem. Mas
a experiência
pode provar o
contrário,
mostrando que
matéria e
energia,
partículas e luz
que antes
acreditamos não
estarem
conectadas, são
na verdade algo
parecido, ou a
mesma coisa.
Este assunto
deve servir de
práxis para uma
elucidação
necessária:
embora não se
conheça a
natureza de
determinado
objeto, corpo ou
manifestação, a
atitude humana
sob a égide
científica deve
sempre estar
acompanhada de
dúvida e
curiosidade,
que, juntas,
deverão ser
revertidas ao
processo de
investigação. O
Espiritismo
precisa voltar
para o seio das
Universidades e
dos Centros de
Pesquisa. Para
que isso
aconteça, tanto
cientistas
quanto médiuns
devem se
preparar para
algo novo, que
surge com o
avanço da
ciência. Devemos
retomar a
prática espírita
antiga de
questionamentos
nas sessões de
psicografia, de
medidas físicas
nas sessões de
efeitos físicos
etc. As lacunas
outrora deixadas
nos trabalhos da
doutrina em
tempos
anteriores agora
podem ser
respondidas, ou
ao menos
redirecionadas a
uma nova
elucidação.
Precisamos ir
atrás desse novo
objetivo.
Referências:
[1] Kardec, A. O
Livro dos
Médiuns. Segunda
Parte, Cap. I –
Da ação dos
Espíritos sobre
a Matéria,
parágrafo 58,
Editora FEB
(1944).
Tradução:
Guillon Ribeiro.
[2] Kardec, A. O
Livro dos
Espíritos. Cap.
I – Dos
Espíritos.
Editora FEB
(1944).
Tradução:
Guillon Ribeiro.
[3] Breit, G. e
Wheeler, JA.
Collision of Two
Light Quanta.
Physical Review,
v. 46, pp.
1087-1091
(1934).
Matheus Tunes
é físico nuclear
da Marinha do
Brasil e
pesquisador
bolsista no
Centro de
Estudos
Avançados em
Materiais
Nucleares da
Escola
Politécnica.