Os três crivos
Irmão X
Diz você meu
amigo, no trecho
final de sua
carta:
“Que fazer,
Irmão X, para
desmanchar a
trama de
intrigas que nos
sufoca a
instituição? Dia
a dia cresce o
diz que diz. E,
enquanto isso
ocorre, a treva
da obsessão, em
nossas bandas,
parece tiririca
em terra
largada. É
perturbação
trazendo
perturbação. Que
medida nos
aconselha, que
ideia renovadora
você nos dá?”
Conselhos, meu
caro, não os
tenho.
Os princípios
salvadores que
abraçamos, no
Evangelho de
Jesus, falam por
si e, de tal
modo, que seria
temeridade
articular
diretrizes no
intento de
ultrapassá-los.
Se posso, no
entanto,
formular
referência
ligeira, peço
permissão para
reportar-me a
antiga lição que
vários
escritores
atribuem a
Sócrates.
Certa feita, um
homem esbaforido
achegou-se ao
grande filósofo
Sócrates e
sussurrou-lhe
aos ouvidos:
–
Escuta,
Sócrates... Na
condição de teu
amigo, tenho
alguma coisa
muito grave para
dizer-te, em
particular...
–
Espera!... –
ajuntou o sábio
prudente.
–
Já passaste o
que me vais
dizer pelos três
crivos?
–
Três crivos?! –
perguntou o
visitante,
espantado.
–
Sim, meu caro
amigo, três
crivos.
Observemos se a
tua confidência
passou por eles.
O primeiro é o
crivo da
verdade. Guardas
absoluta
certeza, quanto
àquilo que me
pretendes
comunicar?
–
Bem, ponderou o
interlocutor –
assegurar,
mesmo, não
posso... Mas
ouvi dizer e...
então...
–
Exato. Decerto
peneiraste o
assunto pelo
segundo crivo, o
crivo da
bondade. Ainda
que não seja
real o que
julgas saber,
será pelo menos
bom o que me
queres contar?
Hesitando, o
homem replicou:
–
Isso não!...
Muito pelo
contrário...
–
Ah! – tornou o
sábio – então
recorramos ao
terceiro crivo:
o da utilidade,
e notemos o
proveito do que
tanto te aflige.
–
Útil?!... –
aduziu o
visitante ainda
mais agitado –
Útil não é...
–
Bem – rematou o
filósofo num
sorriso –, se o
que me tens a
confiar não é
verdadeiro, nem
é bom e nem é
útil, esqueçamos
o problema e não
te preocupes com
ele, já que nada
valem casos sem
qualquer
edificação para
nós...
Aí está, meu
amigo, a lição
de Sócrates, em
questões de
maledicência...
Se pudermos
aplicá-la, creio
que teremos
ganho tempo e
recursos
preciosos para
rearticular o
serviço, refazer
a paz, realizar
o melhor e
seguir para a
frente.
Do livro
Aulas da Vida,
obra mediúnica
psicografada
pelo médium
Francisco
Cândido Xavier.