Questões preliminares
A. Nas experiências em
que Katie King apareceu
materializada, poderia a
médium Florence Cook ter
preparado previamente o
local da sessão, com
vistas a enganar os
experimentadores?
Poderia, sim. Ocorre que
tanto William Crookes
como o sábio Aksakof
afirmam que as sessões
nem sempre foram
realizadas na casa da
família Cook. No dia 28
de outubro, por exemplo,
a sessão ocorreu na
residência do Sr.
Luxmoore – um homem rico
–, antigo juiz de paz,
na presença de quinze
convidados. (Fatos
Espíritas - O Espírito
Katie King
materializa-se nas
sessões do sábio Aksakof.)
B. Que cuidados para
prevenir a fraude eram
tomados pelos
experimentadores?
O que ocorreu na reunião
do dia 28 de outubro dá
uma pista do que era
feito naquela
oportunidade. Assim que
a médium Florence Cook
chegou, foi colocada em
uma cadeira perto da
porta que dava para a
sala e o Sr. Luxmoore
amarrou-a: o busto e os
braços foram ligados
separadamente, a fita
que cingia o busto foi
ainda esta vez passada
por baixo de um gancho
de cobre, fixado no
soalho perto da cadeira
em que se achava a Srta.
Cook, e em seguida
conduzida para a sala.
Os nós da fita foram
selados pelo Sr.
Luxmoore. Todos os
convidados assistiram a
essa operação. O
aposento estava
suficientemente
iluminado. Dentro em
pouco, a cortina
afastou-se cerca de um
pé e Katie King apareceu
na porta, vestida como
de ordinário, fazendo
seus discursos
habituais. A fita que
repousava no soalho não
se movia. (Obra
citada - O Espírito
Katie King
materializa-se nas
sessões do sábio Aksakof.)
C. O sábio Aksakof
acreditou na veracidade
das experiências de
materialização de Katie
King?
Sim. Ante uma pergunta
que lhe fora feita por
William Crookes, Aksakof
disse: “Respondi-lhe que
me via forçado a
considerá-las
autênticas”. (Obra
citada - O Espírito
Katie King
materializa-se nas
sessões do sábio Aksakof.)
Texto para leitura
214. Diz Aksakof que o
Sr. Luxmoore convidou-o
a examinar bem as
ligaduras, nós e selos
colocados na médium:
tudo estava intacto.
Quando teve de cortar os
laços, sentiu grande
dificuldade para
introduzir a tesoura sob
as fitas, tão fortemente
tinham sido atados os
punhos.
215. Ele examinou de
novo o gabinete, logo
que a Srta. Cook o
deixou. Para ele era
evidente que não haviam
sido joguete de
mistificação por parte
da Srta. Cook.
216. Mas, então, donde
tinham vindo e por onde
haviam desaparecido
aquelas formas brancas,
vivas, falantes – uma
verdadeira personalidade
humana?
217. Escreveu Aksakof:
“Lembro-me muito bem da
impressão que
experimentei nesse dia.
Eu estava certamente
preparado para ver essas
coisas, entretanto,
foi-me custoso acreditar
nos meus olhos. O
testemunho dos sentidos,
a lógica mesmo, me
forçavam a crer,
enquanto a razão a isso
se opunha; tanto é
verdade que a força do
hábito subjuga os nossos
raciocínios. Quando
estamos habituados a uma
coisa, supomos
compreendê-la.
Um observador
superficial suporá,
naturalmente, que o
papel de Katie foi
representado por uma
pessoa qualquer,
introduzindo-se por uma
abertura habilmente
dissimulada. Mas não nos
esqueçamos de que as
sessões nem sempre eram
realizadas na casa
ocupada pela família
Cook.”
218. Ele teve depois
oportunidade, no dia 28
de outubro, de tornar a
ver Katie em uma sessão
organizada na residência
do Sr. Luxmoore – um
homem rico –, antigo
juiz de paz. Os
convidados eram em
número de quinze.
Enquanto era esperada a
Srta. Florence Cook, foi
examinado o
compartimento que devia
servir de câmara escura
e que se abria para a
sala. Achava-se nele uma
segunda porta, que o Sr.
Dumphey (redator do
Morning-Post) fechou à
chave, guardando-a no
bolso.
219. Logo depois chegou
a Srta. Florence,
acompanhada de seus
pais; foi colocada em
uma cadeira perto da
porta que dava para a
sala e o Sr. Luxmoore
amarrou-a, mas não da
mesma forma por que o
tinha feito na sessão
precedente: o busto e os
braços foram ligados
separadamente, a fita
que cingia o busto foi
ainda esta vez passada
por baixo de um gancho
de cobre, fixado no
soalho perto da cadeira
em que se achava a Srta.
Cook, e em seguida
conduzida para a sala;
os nós da fita foram
selados como da primeira
vez pelo Sr. Luxmoore.
Todos os convidados
assistiram a essa
operação, depois da qual
passaram para a sala.
220. As cortinas foram
corridas e o grupo se
colocou diante, em meio
círculo. O aposento
estava suficientemente
iluminado. Dentro em
pouco, a cortina
afastou-se cerca de um
pé e a forma de Katie
apareceu na porta,
vestida como de
ordinário, e fazia os
seus discursos
habituais. A fita que
repousava no soalho não
se movia.
221. Katie insistiu de
novo para que se lhe
apresentassem perguntas
sensatas. Aksakof
exprimiu-lhe o desejo de
ela se aproximar mais do
grupo e de avançar no
aposento ainda que fosse
um só passo, como já o
tinha feito em outras
sessões; ela, porém,
respondeu que não podia
fazê-lo nessa noite.
222. Katie desapareceu
por um instante e tornou
a aparecer segurando um
grande vaso japonês que
estava no aposento onde
se achava a Srta. Cook,
mas a grande distância
da cadeira onde estava
amarrada. O vaso foi
retirado das mãos de
Katie e esta volteou
três vezes sobre o
lugar. Por esses
movimentos, queria
evidentemente
demonstrar-nos que seu
corpo e suas mãos
estavam livres de
obstáculos e, por
consequência, que não
era a médium que se
mostrava.
223. A sessão foi quase
de uma hora, durante a
qual Katie apareceu e
desapareceu repetidas
vezes. Enfim, a Srta.
Cook acordou; teve ainda
uma conversa com Katie e
a sessão terminou como
precedentemente. Um dos
assistentes examinou os
selos e os nós, cortou
as fitas e levou-as.
224. Entre as notas de
Aksakof ele encontrou
esta notícia, que se
relaciona com a época
das experiências em
questão: “Confesso que
as sessões da Srta. Cook
me impressionaram
vivamente; de um lado eu
hesitava em crer nos
meus olhos; entretanto a
evidência dos fatos, as
condições em que se
produziram, obrigaram-me
a aceitá-los...”
225. Katie cumpriu sua
promessa de deixar-se
fotografar. Ninguém
suporia, nessa época,
que essas experiências
fotográficas fossem
feitas pelo Sr. Crookes,
descrente ainda dos
fenômenos de
materialização.
226. Durante a conversa
que teve com Crookes
após as sessões
relatadas, Aksakof
deu-lhe, a pedido dele,
sua opinião sobre essas
manifestações.
“Respondi-lhe que me via
forçado a considerá-las
autênticas”, afirmou
Aksakof. Mas Crookes,
ainda incrédulo,
observou: “Nenhuma
ligadura me fará crer
nesse fenômeno; a meu
ver, a ligadura não
oferece embaraços à
força que age; não me
darei por convencido
enquanto não vir, ao
mesmo tempo, a médium e
a figura materializada”.
227. Relatório
da comissão dos sábios
que se reuniram em
Milão, em 1892, para o
estudo dos fenômenos
psíquicos –
Tomando em consideração
o testemunho do
Professor César Lombroso
sobre os fenômenos
mediúnicos que se
produzem por intermédio
da Sra. Eusápia
Paladino, sábios de
renome reuniram-se em
Milão para fazer com ela
uma série de estudos
tendentes a verificar
esse fenômenos,
submetendo-a a
experiências e a
observações tão
rigorosas quanto
possíveis. Os dados
adiante reproduzidos
constam do citado
relatório. (1)
228. Houve ao todo
dezessete sessões, que
se realizaram na
residência do Sr. Fínzi,
(Rua do Mont de Piété),
das 9 horas à
meia-noite. A médium,
convidada para essas
sessões pelo Sr. Aksakof,
foi apresentada pelo
Cavalheiro Chiaia, que
assistiu somente à terça
parte delas e quase
unicamente as primeiras
e menos importantes. À
vista do ruído produzido
na imprensa e das
diversas apreciações
feitas a respeito da
Sra. Eusápia e do
Cavalheiro Chiaia,
resolveu-se publicar,
sem demora, o mencionado
relatório.
229. Os resultados
obtidos nem sempre
corresponderam à
expectativa dos
pesquisadores, não
porque não tivessem, em
grande quantidade,
fatos, em aparência ou
realmente importantes e
maravilhosos; mas na
maioria deles não
puderam aplicar as
regras da arte
experimental, que em
outros campos de
observação são
consideradas necessárias
para chegar a resultados
certos e incontestáveis.
A mais importante dessas
regras consiste em mudar
um por um os modos de
experimentação, de
maneira a descobrir a
verdadeira causa, ou
pelo menos as
verdadeiras condições de
todos os fatos.
230. As mudanças que nos
pareciam necessárias
para pôr fora de dúvida
o verdadeiro caráter dos
resultados, ou não foram
aceitas como possíveis
pela médium, ou, se
foram realizadas, apenas
serviram para tornar
quase sempre a
experiência nula, ou
pelo menos produziram
resultados obscuros.
231. A respeito disso,
os sábios escreveram:
“Não temos o direito de
explicar esses fatos com
o auxílio dessas
suposições injuriosas,
que muitos consideram
ainda as mais simples e
das quais os jornais se
têm constituído
campeões. Pensamos, ao
contrário, que se trata
aqui de fenômenos de
natureza desconhecida e
confessamos ignorar as
condições necessárias
para que eles se
produzam.
Querer fixar essas
condições por nós mesmos
seria, pois, tão
extravagante como
pretender fazer a
experiência do barômetro
de Torricelli, com um
tubo fechado em baixo,
ou experiências
eletrostáticas, em uma
atmosfera saturada de
umidade, ou ainda
fotografar, expondo a
placa sensível à plena
luz, antes de colocá-la
na câmara escura.
Entretanto, admitindo
tudo isso (de que
nenhuma pessoa sensata
pode duvidar), não é
menos verdadeiro que a
impossibilidade bem
assinalada de variar as
experiências, à nossa
vontade, diminuiu
singularmente o valor e
o interesse dos
resultados obtidos,
tirando-lhes, em muitos
casos, esse rigor de
demonstração que se tem
o direito de exigir para
fatos dessa natureza,
ou, antes, ao qual se
deve aspirar.”
232. Por essas razões,
entre as inumeráveis
experiências efetuadas,
o relatório não
mencionou, ou o fez
somente de forma rápida,
as que parecerem aos
sábios pouco prováveis e
a respeito das quais as
conclusões puderam
facilmente variar entre
os diversos
experimentadores. Os
sábios mencionaram,
porém, e com mais
detalhes, as ocasiões
nas quais, apesar do
obstáculo indicado, as
experiências parecem ter
atingido um grau
suficiente de
probabilidade. (Continua
no próximo número.)
(1) Firmaram
o relatório os seguintes
sábios: Alexandre
Aksakof, Diretor do
jornal “Os Estudos
Psíquicos”, em Leipzig,
Conselheiro de Estado de
S. M. o Imperador da
Rússia; Giovanni
Schiaparelli, Diretor do
Observatório Astronômico
de Milão; Carl Du Prel,
Doutor em Filosofia, de
Munique; Angelo
Brofferio, Professor de
Filosofia; Giuseppe
Gerosa, Professor de
Física da Escola Real
Superior de Agricultura
de Portici; G. B.
Ermácora, Doutor em
Física; Giorgio Fínzi,
Doutor em Física;
Charles Richet,
Professor da Faculdade
de Medicina de Paris,
Diretor da “Revista
Científica”; e César
Lombroso, Professor da
Faculdade de Medicina de
Turim.