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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo - Espanhol  Inglês
Ano 8 - N° 388 - 9 de Novembro de 2014

 
 

 

O vendedor de balas

 

Sempre que passava por uma esquina, Daniel observava um garoto, que teria, no máximo, dez anos, oferecendo balas aos motoristas passantes.
 

O pai de Daniel via o menino aproximar-se do carro, abria a janela e, quando o garoto oferecia o pacotinho de balas, passava-lhe uma moeda e pegava os doces, agradecendo.

Daniel, que estranhava essa atitude do pai, um dia falou irritado:
 

— Papai! Minha professora disse que não devemos ajudar

essas crianças que ficam na rua. Elas deveriam estar na escola e não vendendo coisas nas esquinas!

O pai pensou um pouco e respondeu:

— Meu filho, sua professora tem razão. No entanto, é preciso que saibamos os motivos que levam uma criança a fazer isso, pois ela está trabalhando.

— Vai ver que esse menino não gosta de estudar, ora! Talvez seja mais lucrativo oferecer balas aos motoristas!...

O pai sorriu tristemente e respondeu:

— Filho, você não pode julgar sem conhecer os motivos dele para fazer isso. Quem sabe outro dia? Infelizmente, hoje não podemos conversar com ele, ou você perderá a aula.

Apressado, o pai entrou por pequena rua, cortou caminho e Daniel chegou à escola no horário. Despediu-se do pai e entrou. Mas não conseguia esquecer o garoto.

Daniel não teve a última aula, saiu mais cedo e resolveu caminhar. Sua casa não ficava longe e ele conhecia bem o caminho. De repente, teve uma ideia: Vou ver se o garoto continua naquela esquina!

E começou a andar rápido para chegar logo até naquela esquina. Atravessou a rua e, do outro lado, viu o garoto com a caixa de balas. Chegou perto dele e, ao ver que ele estava ocupado com um motorista, parou. Quando o garoto ficou sozinho, Daniel disse:

— Olá! Você trabalha sempre aqui?

O menino, espantado por alguém dirigir-lhe a palavra, respondeu:

— Deseja um pacotinho de balas?

— Sim, quero. Meu nome é Daniel, e o seu?

— Tiãozinho. Aqui está seu pacote.

Daniel tirou uma moeda do bolso e pagou ao menino. Tião, cansado, sentou-se na grama que separava um lado e outro da avenida. Respirou fundo e olhou para Daniel que o acompanhara.

— Ufa! Estou exausto! A caixa é pesada, e desde cedo estou aqui nesta esquina. Não ganhei quase nada! São poucas as pessoas ou os motoristas que compram balas.

Então, Daniel, fez a pergunta que martelava em sua cabecinha:

— Mas por que você trabalha, Tiãozinho? Aprendi que criança não pode trabalhar. Precisa estudar!...

O menino ficou triste e o sorriso sumiu de seu rosto:

— É que meu pai está desempregado. Mamãe se esforça, mas tenho mais dois irmãos pequenos, e ela lava roupas para fora, ganhando pouco. Então, para nos ajudar, um amigo, dono de um bar, me entrega os pacotinhos de balas para vender!

Ele parou de falar e, com os olhos úmidos, completou:

— Eu gostaria muito de poder ir à escola! Sinto falta dos colegas, da professora! Além disso, sempre passa alguém e me obriga a sair deste ponto e voltar para casa, pois criança não pode ficar na rua!
 

Daniel estava comovido com o relato do menino, e procurou animá-lo:

— Eles têm razão, Tião. Criança deve estudar e não trabalhar. Mas tenha confiança. Vou falar com meu pai. Quem sabe ele pode ajudar vocês? — disse Daniel, arrependido do julgamento que fizera antes de conhecer seu novo amigo.

Anotou o endereço de Tião e se despediram.

Chegando do serviço, o pai quis saber por que Daniel não o esperara na porta da escola, como sempre fazia, e o menino contou:

— Papai, hoje saí da escola mais cedo e, passando por aquela esquina, conversei com Tião, o garoto das balas, que ainda estava lá! Ele me contou seus problemas e creio que precisamos ajudá-lo, papai!

Diante da surpresa do pai, Daniel lhe entregou o endereço deles e repassou ao pai o que sabia sobre a família do garoto e suas dificuldades, sem ter dinheiro para nada.

— Tem razão, filho. Hoje mesmo nós iremos à casa dele, quando eu voltar do serviço. Está bem?

Daniel sorriu satisfeito. Ao entardecer, ambos se dirigiram à casa de Tião, que os recebeu cheio de alegria, apresentando-os aos pais, surpresos por verem pessoas estranhas em casa.
 

O pai de Daniel conversou com o casal, sabendo de suas dificuldades e explicando-lhes que queriam ajudá-los. Ao ser informado de que o pai de Tião era mecânico, passou-lhe o endereço da oficina de um amigo, que estava precisando de alguém. Quanto à mãe, sugeriu-lhe colocar os menores numa creche, onde seriam bem cuidados, pois a contrataria para trabalhar na casa deles,

como doméstica. E Tião voltaria a estudar, como precisava!

Todos estavam felizes! Com boa vontade, os problemas haviam sido resolvidos falando com a pessoa certa. O casal mostrava-se muito contente com a solução encontrada.

— Nem sabemos como lhe agradecer, senhor Guilherme! Obrigado! Deus o abençoe!...

— Agradeçam ao Daniel. Foi ele quem se empenhou por resolver a situação de vocês.

E Daniel, contente, entendeu que muito importante lhe fora aprender que não se pode, em qualquer situação, fazer julgamento apressado quando se desconhece o problema.

Essa lição lhe serviria para a vida toda. A partir daí, Daniel sempre procuraria primeiro conhecer a realidade para saber como agir com acerto.  

MEIMEI 

(Recebida por Célia X. de Camargo, em 21/07/2014.)

                                                 
                                                   
 


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