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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 420 - 28 de Junho de 2015

DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO
bartolo.profuniv@mail.pt
Venade - Caminha
,
 Viana do Castelo (Portugal

 


Respeitar a dignidade
das pessoas


A constituição da pessoa humana, em todas as suas dimensões, é extremamente complexa, a que se juntam diversas componentes como: a educação/formação; o nível cultural; a hierarquia axiológica; um conjunto de princípios; normativos sociais, e jurídicos; ideologias; sentimentos e emoções; relações interpessoais; ambiente cívico-cultural; empresarial e comunitário, que ao longo do tempo desenham e consolidam uma determinada personalidade, à qual se adicionam, também, elementos genéticos, levando-a a pensar, reagir, decidir e afirmar-se, com diversas caraterísticas, no seio da família, da empresa e da sociedade.

Claro que se pode afirmar, com segurança, que não existem duas pessoas exatamente iguais, cada uma tem a sua própria personalidade, a sua escala de valores, um certo modo de intervenção, eventualmente, em função de circunstâncias que não domina, objetivos nem sempre fáceis de alcançar e meios que, muitas vezes, não lhe são acessíveis, levando, em situações de uma certa ansiedade, ou mesmo de desespero, a reagir perante fatos e pessoas, com atitudes e comportamentos inadequados.

Conhecem-se estratégias, métodos e recursos que, muitas vezes, algumas pessoas utilizam para alcançar determinados objetivos e que, como se costuma dizer: “Não olham meios para atingir os fins”, do gênero: “Vale Tudo”, provocando, assim, graves e, casualmente, irreparáveis estragos morais e patrimoniais em quem não concorda, e/ou não apoia as suas ideias e projetos.

É verdade que, em certos períodos, muito delicados, numa disputa para se alcançar um objetivo, este, contudo, nem sempre bem esclarecido, há pessoas que não respeitam, minimamente, a dignidade de quem não está em sintonia com os seus projetos e, nestas circunstâncias, recorrem a todo o tipo de “estratégias” por vezes, maquiavélicas, para afastar e, se possível, eliminar os seus opositores.

Hoje, mais do que nunca, é fundamental que tenhamos um comportamento de respeito e consideração pelos nossos semelhantes, independentemente do seu estatuto, ideologia, convicções filosóficas, religiosas, políticas, empresariais, objetivos, estratégias e recursos para os atingir.

Quando alguém se compromete com um projeto, e que para o concretizar tenha de se envolver numa disputa, é inaceitável que utilize métodos e expedientes que, direta e/ou indiretamente, por si próprio ou por interposta pessoa, difame, humilhe, denigra o bom nome, a honra e reputação de um seu concorrente. É inadmissível que para obter os fins a que se propõe recorra a “táticas” incivilizadas.

A pessoa que assim procede, revela bem a sua educação e formação, o seu caráter, demonstra, claramente, que “não olha os meios para alcançar os seus objetivos” cabendo, neste procedimento, se necessário for, eliminar todas as pessoas que se lhe opõem, não dando garantias de isenção, equidade e confiança, porque se hoje tem determinadas atitudes contra quem tem idênticos projetos, no futuro, comportar-se-á, da mesma maneira, incluindo-se contra os que hoje lhe dão apoio. Cuidado, muito cuidado com tais pessoas.

Qualquer pessoa que vai disputar um cargo, uma situação, um objetivo, deve preocupar-se consigo mesma, apresentar as suas ideias, os meios para as realizar podendo, isso sim, apontar, e só neste contexto e para as funções que pretende desempenhar, como tenciona intervir, criticando com verdade argumentos verossímeis e honestidade intelectual o que, outras, nas mesmas funções, fizeram de menos bem, ainda que involuntariamente, sem dolo, muito menos sem qualquer premeditação e aproveitamento próprio. Haja respeito, dignidade e ética.

Bem analisadas certas atitudes, situações e ideias, pode-se aprender como alguns princípios, traduzidos numa sabedoria popular e milenar: “Filho és, pai serás, como fizeres, assim receberás”; “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”; “Quem de mim hoje diz mal, amanhã dirá de ti”; “Quem está com todos, não está com ninguém”; “Quem muito fala, pouco acerta”; “Quem é amigo do meu inimigo, meu inimigo é”, “Quem o amigo despreza quando dele já não precisa, desprezar-te-á a ti quando já não lhe fores necessário” e muitos outros aforismos que, normalmente, mais tarde ou mais cedo, alguns deles se confirmam como realidades.

Pautar a nossa existência pelos valores da seriedade, da verdade e da ponderação, é condição essencial para uma relação digna, que revela respeito consideração e estima, para com os nossos semelhantes. As intervenções públicas e privadas devem obedecer àqueles valores, e se os interlocutores são pessoas das nossas relações particulares e íntimas, aqui no sentido da confidencialidade, cumplicidade e sigilo dos nossos atos, pensamentos, desejos, problemas e outras situações delicadas, então deveremos ser totalmente solidários, amigos, leais, por que não, carinhosos, meigos e atenciosos?

A verdade é só uma, sempre a mesma, tal como a lealdade, a solidariedade, a reciprocidade e outros valores que consolidam os laços da amizade e da confiança, entre pessoas que se querem bem, que se desejam o melhor do mundo uma à outra. Princípios, valores, sentimentos e emoções, exercidos e sentidos com verdade, não são negociáveis, nem se trocam por novas situações, interesses, aparências e pessoas.

Pelo contrário, a mentira, a traição, a indiferença, a rejeição, a altivez, a soberba e a ingratidão, mais tarde ou mais cedo, são como uma máscara de cera: derretem-se ao calor da verdade, da vaidade, do orgulho e da altivez; são como o verniz que estala, quando somos apanhados na hipocrisia, na bajulação do querer-se “Agradar a Gregos e Troianos”.

Quando as aparências deixam de produzir os efeitos que desejávamos, e continuamos com o jogo do “gato e do rato”, a diversão com todos e para todos, convivendo com “Deus e com o Diabo”, enfim, quando a nossa verdadeira personalidade se revela, chegou o nosso fim, inglório e condenável, porque as pessoas, hoje, como sempre, são inteligentes e sensíveis, acabam por descobrir a nossa verdadeira identidade ético-moral.

É mais que sabido que a dupla personalidade, e/ou a vida dupla, por muito tempo que as queiramos manter em segredo, haverá uma circunstância qualquer na vida, uma situação imprevista, uma necessidade que urge satisfazer, que nos vai conduzir à assunção de uma posição que nega todo um passado de aparências, de máscaras de conveniências interesseiras.

Então, a credibilidade que julgávamos ter conquistado, desmorona-se como um castelo de areia, precisamente porque construída em bases inseguras, com valores censuráveis, em cima da inverdade, da deslealdade, da ingratidão, da arrogância disfarçada em tolerância, qual “lobo vestido com a pele de cordeiro”, afinal, nunca deixou de ser a fera que todos temem, mas que foi enganada pelo falso cordeiro.

Qualquer que seja a nossa atividade, no exercício de inúmeros papéis, que num só dia desempenhamos, bem como ao longo da vida, a verdade sempre acaba por triunfar. Poderemos até levar uma vida inteira de hipocrisia, de cinismo, de bajulação, de aparências, mas ela vencerá para nossa reabilitação.

Podemos, inclusivamente: ter imensos sucessos; vencer obstáculos; dominar pessoas; submetê-las às nossas vaidades, caprichos, poder, qualquer que este seja; sermos capazes, certamente, de enganar todo o mundo, porém, bem lá no fim da vida, já numa situação-limite, onde nada, nem mais ninguém conseguimos enganar, surge uma entidade que nos vai julgar e condenar exemplarmente, sem direito a “recurso”.

Com efeito, no final existencial da pessoa, mas ainda lúcida, a Consciência julgará e, ainda que mais ninguém o saiba, a própria criatura, a única protagonista do mal, será ela a sofrer a condenação silenciosa do remorso, ela própria se atribuirá os mais cruéis qualificativos, terá repugnância de si mesma, vergonha das baixezas, falsidades, deslealdades e ingratidões que praticou.

A pessoa que durante a vida teve tais comportamentos será um farrapo humano, continuando, todavia, a vestir o fato do sucesso, da vaidade, da notoriedade, do protagonismo, mesmo sabendo que perante a sua Consciência não vale rigorosamente nada, que não tem dignidade, nem integridade, nem lealdade para ninguém. Jamais ela conseguirá riscar da sua vida esse passado tão sinuoso, tão adulterado e profundamente condenável.

Mas é muito provável que tais pessoas não fiquem circunscritas unicamente ao seu próprio conhecimento e que, paulatinamente, os seus semelhantes comecem a descobrir as suas verdadeiras personalidades, bem como tudo o que essas pessoas construíram ao longo de uma vida de mentiras, de bajulação, de prepotências e também de ingratidões, revelando, finalmente, a dupla personalidade e/ou a vida dupla que desenvolviam, ostensiva e arrogantemente.

É o fim de uma encenação, em que o protagonista morre às suas próprias mãos, ”bebendo o veneno que fabricou para os seus semelhantes” que, entretanto, descobrindo toda a maledicência, lhe deram a beber, em salva dourada, como que cumprindo aquela célebre frase: “A vingança serve-se fria, em bandeja de prata”. É que a vida dá muitas voltas e o mundo está repleto de esquinas.

Em todo o caso, não se defende aqui, nem está na formação do autor, o recurso àquele tipo de “desforras”. Os valores da tolerância (ainda que persistam a mágoa, a dor, o sofrimento e o desgosto), da solidariedade, da fraternidade e da paz, entre outros, devem sobrepor-se a quaisquer intenções malignas que não aproveitam ao desenvolvimento de uma sincera amizade entre as pessoas.

Como corolário, fique-se com a ideia de que é um erro grave querer-se conquistar as simpatias, os favores, o apoio das pessoas, com falsas promessas, com enganadores argumentos, que não são mais do que inverdades. Não é com agressões aos adversários que se conquista a adesão popular, porque “quem hoje me faz mal a mim, amanhã fará o mesmo contigo” e se pensar que já não mais precisará de ti, então poderá tornar-te a vida num inferno.

Quem utiliza a fraude, a hipocrisia, as falsas aparências, a deslealdade para obter a simpatia de todos, para ser agradável com todos, e como ninguém é igual a ninguém, então não é possível ser-se verdadeiro, leal, honesto e solidário com todos, porque ter-se-á que utilizar atitudes com as quais não se concorda, logo, surge, inevitavelmente, o jogo duplo e, para agradar a todos, terá de se ser desleal com alguns, infiel para com todos, hipócrita e indecente.

Estes comportamentos pagam-se bem caros, um dia mais tarde. Quando isso acontecer, certamente, todas as pessoas que assim agiram serão abandonadas, porque há aquele princípio, segundo o qual “Se hoje me enganas a mim, para obteres um qualquer benefício; amanhã vais enganar outro, porque tens um novo objetivo” e assim sucessivamente, nunca se tendo conhecimento de quando foi a primeira vez, apenas a própria pessoa o sabe, de resto, até será legítimo pensar que “Se procedeste assim comigo, provavelmente, já o fizeste com outras pessoas”, embora haja sempre uma primeira vez na vida, para tudo.

Este comportamento nunca se sabe como acaba, mas quem é vitima dele poderá pensar o seguinte: “afinal, quantos é que já enganaste e quantos mais vais ludibriar?”. Sejam, portanto, verdadeiros, amigos, solidários, respeitadores, carinhosos e gratos, principalmente com aqueles que têm iguais valores e idênticos comportamentos para convosco, sem contudo descurarem o bom relacionamento para com os restantes.

A Solidariedade, a Amizade, a Lealdade, a Verdade, a Gratidão, a Cumplicidade e a Reciprocidade só têm um rosto, são sempre assim em quaisquer circunstâncias da vida, desde que, realmente, exista consideração, estima e respeito, porque «É preciso que examinemos a forma como consumimos, como trabalhamos, como tratamos os outros, para percebermos de que maneira a nossa vida diária expressa o espírito da paz e da reconciliação, ou se estamos a fazer exatamente o oposto» (HANH, 2004:16).

 

Bibliografia: 

HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais: Pergaminho.


Blog Pessoal:
http://diamantinobartolo.blogspot.com


 

 


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