Saulo Cesar
Ribeiro da
Silva:
"A mensagem do
Cristo precisa
ser conhecida,
meditada,
sentida e
vivida"
O organizador do
projeto O
Evangelho por
Emmanuel
fala sobre
o NEPE - Núcleo de
Estudos e
Pesquisas do
Evangelho, sua
criação,
objetivos,
funcionamento e
propostas
|
Saulo Cesar
Ribeiro da Silva
(foto),
nascido em Ceres
(GO), atualmente
reside em
Brasília. De
família
espírita, foi,
quando jovem,
morando em
Goiânia,
evangelizador e
coordenador de
Mocidade. Hoje
vinculado à
Federação
Espírita do
Distrito Federal
e à Federação
Espírita
Brasileira, é
palestrante e
organizador do
projeto O
Evangelho |
|
|
por Emmanuel,
além de membro
da Comissão
Administrativa
do NEPE – Núcleo
de Estudos e
Pesquisas do
Evangelho, que
funciona no
Distrito
Federal. |
|
Como e quando
surgiu o Núcleo
de Estudos e
Pesquisas do
Evangelho na
Federação
Espírita do
Distrito Federal
(FEDF)?
O núcleo teve
duas fases
distintas. A
primeira começou
na verdade antes
do próprio nome
NEPE, no final
do ano 2011.
Alguns
companheiros da
FEDF sentiam a
necessidade de
retornar ao
estudo do
Evangelho e
iniciamos uma
reunião aos
domingos com
esse fim. Esse
grupo evoluiu e
consolidou-se.
Com a criação do
Núcleo de
Estudos e
Pesquisas do
Evangelho (NEPE)
da Federação
Espírita
Brasileira (FEB)
e a
possibilidade de
troca de
experiências
entre diversos
grupos de estudo
do Evangelho, o
projeto foi
evoluindo, o
nome do grupo
foi alterado
para NEPE-FEDF e
consolidou-se
como uma das
atividades da
Diretoria de
Estudos
Doutrinários. O
grupo continuou
se desenvolvendo
e hoje já conta
com a
participação de
companheiros de
diversas casas
espíritas do DF
e já realizou
dois seminários
de estudo do
Novo Testamento
sob o enfoque
espírita.
O trabalho foi
influenciado
pela prática de
alguma
instituição ou
de iniciativa
particular?
A princípio a
iniciativa foi
própria, mas com
o passar do
tempo tivemos
contato com
outras propostas
e incorporamos o
que pareceu
adequado ao
grupo, contexto
e propósitos.
Qual a proposta,
o objetivo e o
perfil do Grupo
e seus
participantes?
A proposta do
grupo é promover
um espaço de
diálogo, estudo
e reflexão sobre
os ensinos e
exemplos de
Jesus contidos
no Novo
Testamento, na
linha do que foi
iniciado por
Allan Kardec em
O Evangelho
segundo o
Espiritismo.
O objetivo é
promover entre
os participantes
uma melhor
compreensão dos
ensinos de Jesus
à luz da
Doutrina
Espírita. Essa
compreensão não
se limita ao
aspecto teórico,
por entendermos
que o Evangelho
só será bem
compreendido
quando
conseguirmos
praticá-lo no
cotidiano de
nossas vidas,
como bem resume
Alcíone no livro
Renúncia: "a
mensagem do
Cristo precisa
ser conhecida,
meditada,
sentida e
vivida". Sem
essa vivência
sabemos que o
ciclo de
interpretação
dos ensinos do
Mestre não
estará completo.
Em termos de
objetivo, existe
também a
proposta de
compartilhar com
o movimento
espírita essas
reflexões, o que
já foi feito
através de dois
seminários e
outras formas de
divulgação em
projeto. O
perfil dos
participantes
desse grupo
específico é
predominantemente
de pessoas com
três ou mais
anos de
movimento
espírita, embora
essa não seja
uma restrição.
As reuniões são
abertas e delas
pode participar
qualquer pessoa
que esteja
interessada.
Atualmente o
grupo conta com
pessoas oriundas
de mais de oito
casas espíritas
do Distrito
Federal.
Como funciona o
Grupo? Como
participar?
As reuniões têm
a duração de
duas horas e são
realizadas
sempre nos
segundos e
quartos domingos
de cada mês, das
17h30 às 19h30.
O acesso é livre
para qualquer um
que queira
participar.
Sempre no início
do ano ou ao
término de um
ciclo de
estudos,
definimos em
grupo quais os
temas que serão
abordados, e a
partir daí os
estudos são
realizados
através do
diálogo e do
debate entre os
participantes.
Já terminamos um
ciclo de
introdução aos
27 escritos do
Novo Testamento,
um sobre as
bem-aventuranças
nas três
revelações e
atualmente
estamos
estudando as
parábolas
exclusivas do
evangelho de
Mateus. Estão
programados
ainda um ciclo
sobre o Sermão
Profético e
outro sobre as
referências à
vinda de Jesus.
Como você vê a
qualidade dos
estudos
espíritas, em
geral, no
momento atual?
Particularmente
temos uma visão
bastante
positiva sobre o
desenvolvimento
dos estudos
espíritas na
atualidade.
Alguns anos
atrás esses
estudos eram
preponderantemente
sobre os temas
da mediunidade e
dos princípios
da Doutrina.
Atualmente,
temos visto se
juntarem a esses
temas, que são
importantes e
necessários,
outros relativos
aos estudos do
Novo Testamento
e do Evangelho.
Dessa forma,
acho que estamos
caminhando na
direção do que
Kardec sempre
enfatizou quanto
ao tríplice
aspecto do
Espiritismo:
ciência,
filosofia e
religião.
Obviamente, não
encontramos o
mesmo nível de
desenvolvimento
desses três
aspectos em
todas as casas
espíritas e
instituições,
mas, quando
olhamos para o
movimento
espírita, é
nítido esse
desenvolvimento.
Além disso,
outro fator,
específico do
estudo do
Evangelho, que
vemos como sendo
muito positivo,
é a capacidade
desse estudo de
despertar o
interesse de
jovens e de
promover a
interação da
geração mais
antiga com a
mais nova dentro
da casa
espírita, em
torno do
Evangelho.
Aliado a isso,
surge algo que
temos visto com
bastante
entusiasmo, que
é o crescente
uso das
tecnologias de
comunicação e
das redes
sociais, como
meios de
interação,
estudo e
compartilhamento
de informações.
Essa é uma
característica
da nossa
sociedade que
abre muitas
oportunidades.
Outro aspecto
que percebemos
como
desenvolvimento
positivo na
atualidade é um
maior diálogo
com outras
denominações
religiosas. Isso
também está de
acordo com o que
Kardec dizia
quanto ao futuro
das religiões e
à contribuição
que a Doutrina
poderia dar a
todas elas. Por
muito tempo esse
diálogo foi
quase
incipiente. Acho
que agora
estamos
encontrando as
pontes que
possibilitarão
que ele cresça
cada vez mais.
Isso é muito
positivo, porque
a paz, a
caridade e a
fraternidade
devem ter, nos
diversos
movimentos
religiosos, a
sua expressão
mais viva.
Quais as
principais
dificuldades a
superar?
Creio que as
dificuldades
principais são
de três
naturezas
distintas. A
primeira diz
respeito à
tendência
natural de
algumas pessoas
que, diante de
algo novo,
sentem receio e
tendem a
desestimular o
florescimento de
novas ideias. Em
certa medida, as
precauções são
necessárias para
conter abusos e
desvirtuamento
de certos
caminhos. Em
excesso, essa
postura pode
comprometer
atividades
importantes para
o futuro do
movimento. Aqui,
há que se buscar
o justo
equilíbrio, nem
sempre fácil,
mas que através
de um diálogo
franco e aberto
certamente será
encontrado.
A segunda
dificuldade é a
de encontrar
caminhos
metodológicos
que atendam às
características
de cada grupo.
Às vezes, parece
muito mais fácil
adotar uma
determinada
metodologia ou
apoiar-se em uma
pessoa, mas isso
traz o risco de
inadequação às
necessidades e
realidades do
grupo específico
e da casa
espírita onde
ele está
inserido. As
trocas de
experiências
são, nesse
sentido, muito
importantes e
podem oferecer
um quadro mais
amplo, a partir
do qual as
demandas de cada
grupo serão
atendidas.
A terceira
dificuldade
reside em não se
completar o
ciclo
interpretativo e
de estudo da
forma como
Kardec nos
orienta, pois
este só se
conclui na vida,
no cotidiano, na
experiência
conjunta.
Qualquer estudo
que permaneça
exclusivamente
no âmbito
intelectual
ainda não está
completo. Não se
trata aqui do
falso dilema
entre estudo e
prática. Em
matéria de
Evangelho, todo
estudo deve
terminar na
prática e toda
prática deve
promover uma
nova reflexão.
Evangelho é lei
da vida e o seu
estudo tem como
locus
fundamental a
nossa vivência
como indivíduo e
como
coletividade.
Qual a
importância
desse tipo de
grupo de estudos
espíritas?
Allan Kardec, na
introdução de
O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
diz
explicitamente:
"Muitos pontos
dos Evangelhos,
da Bíblia e dos
autores sacros
em geral só são
ininteligíveis,
parecendo alguns
até irracionais,
por falta da
chave que se
permita
apreender-lhes o
verdadeiro
sentido, esta
chave está
completa no
Espiritismo".
Essa afirmação
do codificador é
ao mesmo tempo
um alerta, em
relação ao papel
do Espiritismo
no resgate da
essência dos
ensinamentos
contidos na
primeira e na
segunda
revelação, como
também um
convite para
que, de posse
dos princípios
trazidos pelos
Espíritos na
codificação,
possamos melhor
compreender uma
Lei Divina que
vem sendo
paulatinamente
revelada ao
homem. Essa lei,
como a resposta
à questão 614 de
O Livro dos
Espíritos
nos esclarece,
diz respeito à
nossa
felicidade.
Portanto, em
última
instância, a
importância
desses grupos é
a de iluminar
caminhos que nos
possibilitarão
trabalhar em
favor da nossa
felicidade como
indivíduos,
agrupamento e
sociedade.
O que, na sua
percepção,
precisa e pode
melhorar na
organização de
grupos espíritas
específicos como
esse?
As experiências
são ainda muito
recentes, o que
não nos permite
ainda abarcar um
conjunto muito
grande de
dificuldades e
possibilidades
de melhoria. O
que temos
percebido, até o
momento, é a
importância do
diálogo dentro
da casa e com
outros grupos.
Nesse quesito,
toda iniciativa
na direção de
intensificar o
diálogo com a
direção do
centro espírita
e com outros
grupos é
necessária.
Quais os planos
em relação a
esse grupo no
futuro? Que
atividades podem
ser
implementadas?
Que resultados
podem ser
alcançados?
As expectativas
são de que no
futuro as
experiências
desenvolvidas no
grupo possam
contribuir para
outros
interessados
nesse tipo de
estudo em outras
casas espíritas.
As atividades
estão
relacionadas à
criação de
biblioteca,
material de
referência e
canais de
compartilhamento
e divulgação. Em
termos de
resultados,
acredito que
eles se dividem
em duas frentes.
Uma externa, com
uma mudança na
forma como a
Doutrina é
percebida dentro
do seu aspecto
cristão e
religioso, e
outra de
natureza
interna. Essa
última creio ser
a mais
importante.
Jesus disse no
sermão do monte
para seus
discípulos: "vós
sois a luz do
mundo", o que
nos faz refletir
sobre a tarefa
de fazer brilhar
a luz que todos
trazemos dentro
de nós. Sabemos
quanto um
indivíduo
iluminado pode
fazer diferença
em uma
sociedade.
Martin Luther
King, Madre
Tereza,
Francisco de
Assis, Gandhi,
Chico Xavier,
Divaldo, Irmã
Dulce são alguns
dos grandes
exemplos.
Existem,
contudo, outros,
desconhecidos do
grande público,
mas que nem por
isso deixam de
ser
demonstrações
daquela luz a
que Jesus se
referia. As
ações de um
médico ou
enfermeiro em um
hospital, de um
funcionário
público em uma
repartição, de
um operário em
uma indústria,
de um
profissional
liberal, de uma
mãe, um pai, um
filho, um amigo,
podem também ser
uma luz
brilhando onde
haja a sombra do
desespero, do
desânimo, do
pessimismo, da
falta de fé.
Essas luzes são
tão ou mais
importantes do
que a dos
grandes homens e
mulheres que
continuarão a
ser necessários
para nos
orientar, mas a
sociedade humana
é muito grande e
vivemos no
limiar de uma
civilização
global que não
prescindirá do
esforço
individual na
esfera de ação
em que estejamos
atuando.
Precisaremos dos
holofotes, mas,
e cada vez mais,
das pequenas
chamas acesas.
Cada um que já
teve a
oportunidade de
observar uma
vela numa noite
escura sabe
quanto ela pode
fazer a
diferença. Se
tivermos muitas
pequenas chamas
acesas,
atenderemos a
fala do Mestre
quando, em
complemento à
citação
anterior, nos
dizia: "brilhe a
vossa luz".
Sua mensagem
final aos nossos
leitores.
No prefácio do
livro Caminho
Verdade e Vida,
Emmanuel nos
traz a seguinte
frase: "... no
imenso conjunto
de ensinamentos
da Boa Nova,
cada conceito do
Cristo ou de
seus
colaboradores
diretos
adapta-se a
determinada
situação do
Espírito, nas
estradas da
vida". Estudar o
Evangelho
significa
encontrar nesses
conceitos,
palavras,
parábolas,
exemplos, o
caminho de uma
vida mais plena
e feliz.
Aproximemo-nos
desses textos
com as luzes que
a Doutrina
Espírita nos
concede, sem
prescindir da
contribuição de
outros que se
congregam no
mesmo esforço de
compreensão, e a
música inesquecível do
amor ressoará em
nosso íntimo, em
cânticos de paz
e felicidade.