Continuamos nesta edição o estudo do livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, obra publicada por Allan Kardec no ano de 1858. As páginas citadas no texto sugerido para leitura referem-se à edição publicada pela Casa Editora O Clarim, com base na tradução feita por Cairbar Schutel.
Questões para debate
A. Em que ambiente, no século XIX, foram conseguidas a princípio comunicações através da pneumatografia ou escrita direta?
B. Que é psicofonia e quais as suas vantagens?
C. Sabemos que toda pessoa que sofre de alguma maneira a influência dos Espíritos é médium. Essa qualificação, no entanto, é reservada, no meio espírita, a que tipo de pessoas?
Texto para leitura
89. As aparições propriamente ditas se dão no estado de vigília e quando estamos desfrutando da plenitude e da inteira liberdade de nossas faculdades. Os Espíritos podem manifestar-se ostensivamente de diversas maneiras: sob a forma de chamas ligeiras ou de clarões mais ou menos brilhantes, ou sob os traços de uma pessoa conhecida ou desconhecida. (Cap. II, pág. 90.)
90. Em certos casos a aparição se torna tangível, isto é, adquire momentaneamente as propriedades da matéria sólida. Não é mais então somente pelos olhos que se verifica a realidade delas, mas pelo tato. (Cap. II, págs. 90 e 91.)
91. A maior parte dos fenômenos, principalmente os que pertencem ao gênero das manifestações físicas e aparentes, podem produzir-se espontaneamente, ou seja, sem que a vontade tenha alguma parte nisso. Essas manifestações não são raras, nem novas. O medo, sem dúvida, exagerou muitas vezes esses fatos. Com o auxílio da superstição, as casas onde eles se passaram ganharam a reputação de assombradas pelo diabo. E daí, todos os contos maravilhosos ou terríveis de almas do outro mundo. (Cap. II, pág. 91.)
92. As manifestações espontâneas se produzem muito raramente em locais isolados. É quase sempre em casas habitadas que elas se dão e motivadas pela presença de certas pessoas que exercem uma especial influência sem o perceberem. São médiuns, embora não o saibam, e por isso chamados de médiuns naturais. (Cap. II, pág. 92.)
93. Devemos nos precaver e não atribuirmos a uma origem oculta tudo quanto não compreendemos. Uma infinidade de causas muito simples e muito naturais podem produzir efeitos estranhos à primeira vista, e seria uma verdadeira superstição ver por toda parte Espíritos ocupados em derrubar móveis, quebrar louças, suscitar, enfim, mil e uma perturbações domésticas que, mais racionalmente, devem ser levadas à conta do desmazelo. (Cap. II, págs. 92 e 93.)
94. Deve-se, em tal caso, procurar a causa, e pode-se apostar cem contra um que se descobrirá uma bem simples onde se julgava estar às voltas com um Espírito perturbador. Quando ocorre um fenômeno inexplicado, o primeiro pensamento que devemos ter é que ele é devido a uma causa material, e não admitir a intervenção dos Espíritos senão com perfeito conhecimento. (Cap. II, pág. 93.)
95. De todas as manifestações espíritas, as mais frequentes e as mais simples são os ruídos e as pancadas. Mas uma multidão de causas naturais podem produzi-las: o vento que assobia ou agita um objeto, um corpo que movemos, sem perceber, um efeito acústico, um animal oculto etc. Os ruídos espíritas têm, aliás, um caráter particular, tomando embora um timbre e uma intensidade muito variadas, que se tornam facilmente reconhecíveis. São pancadas deliberadamente desferidas, ora surdas, fracas e ligeiras, ora claras, distintas, algumas vezes ruidosas, que mudam de lugar e se repetem sem ter uma regularidade mecânica. (Cap. II, págs. 93 e 94.)
96. De todos os meios de controle, o mais eficaz é a sua obediência ao comando do experimentador. Se as pancadas se fazem ouvir no local designado; se elas respondem ao pensamento por meio de sequências estabelecidas ou por sua intensidade, não se pode negar-lhes uma causa inteligente. A não obediência não é, porém, uma prova em contrário. (Cap. II, pág. 94.)
97. Na impossibilidade de dispor do concurso de um médium, a solução é o interessado tornar-se um deles. Na falta de um médium escrevente, pode-se interrogar diretamente o Espírito que bate e que pode responder fazendo uso do mesmo meio, isto é, por pancadas convencionais. Nove entre dez pessoas podem ser médiuns escreventes. (Cap. II, pág. 97.)
98. Toda manifestação que revela uma intenção ou uma vontade é, por isso mesmo, inteligente. (Cap. III, pág. 99.)
99. Acredita-se geralmente que interrogando o Espírito de um homem que foi sábio em uma certa especialização, quando na Terra, mais seguramente se obterá a verdade. Isto é lógico, mas nem sempre é verdadeiro. Os sábios, tanto quanto os homens, sobretudo os que deixaram a Terra há pouco tempo, estão ainda sob o império dos preconceitos da vida corporal. Assim, a ciência humana de que estão dotados não é sempre uma garantia de sua infalibilidade como Espíritos. (Cap. III, págs. 102 e 103.)
100. Regra geral: O Espírito é tanto menos perfeito quanto menos desprendido da matéria. A obstinação nas ideias terrestres é tanto maior quanto mais recente é a morte. (Cap. III, pág. 103.)
101. No momento da morte, a alma está sempre em um estado de perturbação durante o qual mal se reconhece: é um despertar que não é completo. Muitos não acreditam estarem mortos, principalmente os supliciados, os suicidas e, em geral, os que morrem de morte violenta. (Cap. III, pág. 103.)
Respostas às questões propostas
A. Em que ambiente, no século XIX, foram conseguidas a princípio comunicações através da pneumatografia ou escrita direta?
Colocavam-se a princípio uma folha de papel e um lápis sobre um túmulo, junto à estátua ou ao retrato de um personagem qualquer, e no dia seguinte, algumas horas depois, achava-se inscrito sobre o papel um nome, uma sentença, algumas vezes sinais ininteligíveis. É evidente que nem o túmulo, a estátua, ou o retrato exerciam qualquer influência por si mesmos; eram, simplesmente, um meio de evocação pelo pensamento. Segundo Kardec, foi o Barão L. Guldenstubbé, autor da obra La réalité des Esprits et le Phénomène merveilleux de leur écriture directe, publicada em Paris no ano de 1857, quem pôs em evidência esse fenômeno. (Instruções Práticas, cap. IV, págs. 117 a 119.)
B. Que é psicofonia e quais as suas vantagens?
Psicofonia é o nome que se dá à transmissão do pensamento do Espírito pela voz de certos médiuns dotados para esse fim de uma faculdade especial. Esse meio tem todas as vantagens da psicografia pela rapidez que possibilita o tratamento de assuntos extensos. É muito do agrado dos Espíritos Superiores, mas tem, talvez, para as pessoas que duvidam, o inconveniente de não acusar, de maneira bastante evidente, a intervenção de uma inteligência estranha. Convém, sobretudo, àqueles que, já suficientemente edificados sobre a realidade dos fatos espíritas, deles se servem para a complementação de seus estudos e não têm necessidade de mais acrescentar à sua convicção. (Obra citada, cap. IV, págs. 119 a 121.)
C. Sabemos que toda pessoa que sofre de alguma maneira a influência dos Espíritos é médium. Essa qualificação, no entanto, é reservada, no meio espírita, a que tipo de pessoas?
A faculdade mediúnica é inerente ao homem e, por conseguinte, não é um privilégio exclusivo. Por essa razão, raros são os indivíduos nos quais não se encontram ainda que simples rudimentos de mediunidade. Todavia, no uso corrente, essa qualificação não se aplica senão àquelas nas quais a faculdade mediúnica é nitidamente caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que depende, então, de uma organização mais ou menos sensitiva. (Obra citada, cap. V, pág. 122.)