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Divaldo Franco: “Todos
nós erramos, exceto
Jesus”
O
conhecido orador
ministrou em São Paulo,
a um público numeroso e
interessado, o seminário
“Liberta-te do Mal”
A metrópole se agita. É
sexta-feira, dia 19 de
fevereiro, e as pessoas
de todos os cantos da
capital de São Paulo se
preparam para o fim de
semana. O trânsito,
normalmente caótico se
intensifica ainda mais.
Contudo, os corredores e
saguões do Hotel
Jaraguá, no centro da
cidade, vive outro
ambiente. Os executivos
e turistas que
regularmente são seus
hóspedes foram
substituídos por uma
população muito
diferente. Alegres e
joviais como os são os
turistas, mas com o
semblante respeitoso
como os dos executivos.
O encontro inicial: 19
de fevereiro
Essa massa de mais de
300 almas encarnadas
busca no subsolo do
prédio o salão de
convenções. São os
participantes do
seminário organizado
pelo Centro Espírita Dr.
Bezerra de Menezes, de
Santo André (SP) que em
2016 abordará o tema
“Liberta-te do Mal”.
O local previamente
preparado por
incontáveis
trabalhadores abnegados
e anônimos da
Espiritualidade Amiga
recebe em uma psicosfera
de paz, harmonia e
serenidade a todos os
encarnados os quais se
acomodam e aguardam com
controlada expectativa o
início do estudo do
Evangelho.
Um exemplar de O
Evangelho segundo o
Espiritismo é aberto
no seu capítulo 12 (Amai
os Vossos Inimigos),
baseado nas palavras de
Jesus e registradas pelo
evangelista Mateus no
capítulo 5, versículo
20: “Aprendestes que foi
dito: Amareis o vosso
próximo e odiareis os
vossos inimigos. Eu,
porém, vos digo: Amai os
vossos inimigos; fazei o
bem aos que vos odeiam e
orai pelos que vos
perseguem e caluniam, a
fim de serdes filhos do
vosso Pai que está nos
céus e que faz se
levante o Sol para os
bons e para os maus e
que chova sobre os
justos e os injustos”.
Uma voz feminina se
levanta e com contida
emoção lê o trecho
escolhido: “Os inimigos
desencarnados”: “Ainda
outros motivos tem o
espírita para ser
indulgente com os seus
inimigos. Sabe ele,
primeiramente, que a
maldade não é um estado
permanente dos homens;
que ela decorre de uma
imperfeição temporária e
que, assim como a
criança se corrige dos
seus defeitos, o homem
mau reconhecerá um dia
os seus erros e se
tornará bom...”
Acompanhada atentamente
pela plateia silenciosa,
a leitura segue pelos
itens 5 e 6.
Divaldo convida, então,
seis integrantes do
público para comen-
|
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Divaldo
Franco
durante
o evento |
|
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Público
presente |
|
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Momento
de
autógrafos |
|
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Livraria
do
evento |
|
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Voluntários
que
ajudaram
no
evento |
|
tarem o texto
evangélico.
Revezam-se na
tribuna Dr.
Sergio Henrique
Lourenço, depois
a Sra. Luiza
Leontina Andrade
Ribeiro
(Federação
Espírita do
estado do Mato
Grosso), seguida
da escritora e
conferencista
mineira de Juiz
de Fora, Sra.
Suely Caldas
Schubert, e
ainda do
ex-prefeito de
Campinas e atual
colaborador do
Centro Espírita
Allan Kardec,
Sr. Lauro
Péricles
Gonçalves, que é
seguido depois
pela presidente
do Spiritist
Group of New
York (USA), Sra.
Jussara Korngold
e, por fim, o
radialista da
Rede Boa Nova e
dirigente da
Fraternidade
Cristo-Redentor
e apresentador
do programa
Fraternidade, o
enfermeiro Sr.
Antonio Carlos
Laferreira. |
Cada um, a seu turno,
forneceu sua
interpretação do texto
evangélico lido. Apesar
das nuances
diferenciadas naturais
de cada interpretação a
caridade e o perdão
foram as abordagens que
permearam todos os
comentários.
Divaldo, assumindo a
tribuna, emociona a
todos narrando a
história de Ilse, um
caso registrado pelo
renomado psicanalista
americano Dr. James
Hollis e publicado no
livro “Os Pantanais da
Alma” (editado no Brasil
pela Paulus Editora –
Título no original:
Swamplands of the Soul).
Ilse era uma jovem
polonesa e cristã que no
ano de 1942, enquanto
fazia compras, foi
equivocadamente tida
como judia e levada como
prisioneira para o
terrível campo de
Sobibor na própria
Polônia. Em nada
resultou seu protesto e
apresentação de
documentos comprovando
não ser ela judia.
Chegando ao campo de
concentração, foi
empurrada para a fila de
triagem de onde seria
enviada para a câmara de
gás ou para o barracão
de prisioneiros. À sua
frente estava uma mulher
frágil acompanhada de
duas filhinhas muito
pequenas. Antecipando
seu destino que seria a
morte pelo gás, tentou a
enfraquecida mãe deixar
com Ilse ambas as
meninas para que
pudessem escapar da
morte terrível pela
asfixia.
Temendo ser envolvida
naquela situação – o que
fatalmente resultaria na
sua morte – Ilse
empurrou com forças as
criancinhas na direção
da senhora que já se
afastava em direção à
execução. O nazista,
compreendendo o que
ocorria e a tentativa da
verdadeira mãe de salvar
as filhinhas, com
requintes de crueldade e
impiedade, removeu as
meninas para junto da
verdadeira mãe,
destinando-as todas à
morte.
Ilse jamais pôde
esquecer o olhar da
mulher que, fragilizada
física e emocionalmente,
lhe direcionou naquele
momento. Ilse jamais se
esqueceria das lágrimas
que verteram daqueles
olhos entristecidos e
desesperados.
Mais alguns anos e
finalmente o campo de
concentração foi
liberado pelos aliados.
Ilse estava entre os
sobreviventes e mais
tarde mudou-se para os
EUA. Jamais se perdoara.
Recusava-se ao
casamento, pois não se
considerava digna de ser
mãe nem merecia ser
amada. Não lograra obter
a paz para sua
consciência. Peregrinara
por diversas religiões,
mas em nenhuma
conseguira encontrar o
que tanto almejava: o
perdão de sua covardia
moral, que resultara na
morte de mãe e
filhinhas.
Finda a narrativa,
Divaldo relata que em
suas mais profundas
reflexões em torno do
drama considera que o
sofrimento de Ilse faz
lembrar a todos a ação
dos inimigos
desencarnados
(obsessores) que não
perdoam nossos equívocos
que contra eles
cometemos. Na realidade
não são obsessores. São
pessoas que nós atiramos
ao abismo da dor –
física e moral – e que,
por serem doentes, não
nos compreendem nem nos
perdoam.
Mas com quais meios
podemos combater a
obsessão?
Partindo de O Livro
dos Médiuns em cujo
capítulo 23 - Da
Obsessão - são
apresentados os tipos de
obsessão, bem como suas
causas e os meios de a
combater, Divaldo deixa
claro que a forma mais
eficaz de neutralizar a
obsessão é a aplicação
do amor, a oração, a
paciência e a
misericórdia para com
aqueles que não nos
perdoaram.
E, coroando a noite de
bênçãos, Divaldo
transporta as
recomendações de O
Livro dos Médiuns
para a prática e narra a
todos o caso da
perseguição que sofreu
por 40 anos de um
Espírito que era
identificado por Divaldo
como o Máscara de Ferro
e que finalmente o
perdoou pelas ações do
passado quando Divaldo
tomou em seus braços uma
criança recém-nascida
abandonada às portas da
Mansão e passou a
dedicar-lhe total
atenção, carinho e amor.
Emocionado com o fato, o
Espírito que o
perseguira por todos
aqueles anos pousou
gentilmente a mão em seu
ombro e falou-lhe:
– Divaldo, até agora tu
não me convenceste.
Venceste-me pela
paciência. Contudo hoje
já não tenho mais como
te odiar. Essa criança
que aninhas com tanto
carinho entre teus
braços abriga o Espírito
de minha mãe que retorna
ao plano físico.
Encerrando a noite,
Divaldo afirma: “Todos
nós erramos, exceto
Jesus”. O mal é uma
experiência que trouxe
um resultado
perturbador. O mal –
filosoficamente – não
existe: é o bem que
enlouqueceu e que nos
ensina a não mais fazer
daquele modo. Por essa
razão, estamos todos
convidados a autoanálise
para identificarmos
nossas culpas. A
Libertação do Mal tem
início no tratamento de
nossos complexos de
culpa que insistimos em
carregar conosco.
O segundo encontro: 20
de fevereiro
O convite ao autoperdão
formulado na véspera
ainda repercutia nas
mentes e também nos
corações que haviam
participado do culto do
Evangelho. Um novo ânimo
luzia nos olhos
expectantes de todos
naquela manhã radiosa de
verão.
Assumindo a tribuna,
Divaldo estabelece o
roteiro para a
Libertação do Mal. A
terapêutica será de
natureza psicológica, a
partir daquele que é
maior adversário do
nosso processo
evolutivo: o egoísmo.
E é no Espiritismo que
Divaldo inicia a
compreensão e
entendimento do real
significado em nossas
vidas do egoísmo e, para
tanto, cita o
questionamento de Allan
Kardec aos Venerandos
Espíritos identificados
em O Livro dos
Espíritos pela
questão 913: Dentre os
vícios, qual o que se
pode considerar radical?
E os Bons Espíritos
respondem: Temo-lo dito
muitas vezes: o egoísmo.
Daí deriva todo mal.
Estudai todos os vícios
e vereis que no fundo de
todos há egoísmo.
(Capítulo XII, Da
Perfeição Moral.)
Fica claro: o egoísmo é,
sem dúvida o maior
inimigo de nossa
plenitude.
Como a abordagem
terapêutica será pela
Psicologia, Divaldo
busca equalizar os
diferentes níveis de
conhecimento existentes
na plateia e resume
didaticamente e de forma
muito clara a trajetória
das diversas
psicoterapias surgidas e
as histórias de seus
principais
protagonistas.
Inicia por Jean-Martin
CHARCOT (1825-1893) que
em 1880 busca tratar a
histeria mediante a
utilização do
hipnotismo. Os
resultados obtidos
ganham visibilidade
mundial, atraindo a
atenção de um jovem
médico neurologista de
Viena: Sigmund Freud
(1856-1939) que se
desloca até Paris para
aprender diretamente com
Charcot a técnica.
A hipnose representou um
grande passo para
compreender a mente
humana, mas era
insuficiente para
entender as razões de
haver tantos doentes sem
a manifestação de
doenças.
Perseguindo seu objetivo
de interpretar a
criatura humana, Freud
vai palmilhando os
comportamentos humanos e
finalmente logra
identificar serem os
conflitos no
subconsciente os
principais geradores dos
distúrbio. Nasce a
psicanálise e a notável
contribuição de
desmistificar o sexo,
considerado pela
Religião dogmática como
imundícia.
Parafraseando Paulo de
Tarso que na Epístola
aos Romanos (14:14)
anotou: Como uma pessoa
que está no Senhor
Jesus, tenho plena
convicção de que nenhum
alimento é por si mesmo
ritualmente impuro, a
não ser para aquele que
assim o considera – para
esse é impuro, Freud
estabelece que o sexo
somente é impuro para
aquele que assim o
igualmente considera.
A humanidade começa a
sair das trevas da
ignorância no tratamento
dos conflitos e
distúrbios
psiquiátricos. O impacto
da Psicanálise de Freud
atrai a atenção do
psiquiatra e
psicanalista suíço Carl
Gustav Jung (1875-1961),
que se junta ao Pai da
Psicanálise. Ambos,
porém, se afastam
irreconciliavelmente.
Freud considerava Jung
por demais místico,
enquanto Jung
considerava que nem
todos os problemas
decorriam da libido.
Jung formula novos
conhecimentos e
técnicas, e surge então
a Psicologia analítica.
Nesse instante Divaldo
passa a esclarecer e a
definir o significado
dos principais termos e
expressões específicas
da Psicologia
(Consciente,
Subconsciente,
Inconsciente Individual,
Inconsciente Coletivo,
Ego e Self), com
destaque para a
expressão Arquétipos
(marcas antigas) adotada
por Jung para
caracterizar os nossos
conflitos, Dá-se conta
Jung de que somos
compostos por uma
duplicidade: O Self
(aquilo que somos) e o
Ego (aquilo que
aparentamos, a máscara).
Na realidade somos o
Self, que agrega as
experiências de todas as
gerações, e que contém
nosso inconsciente
coletivo, denominado
pelo Espiritismo de
Perispírito. Já o Ego é
a nossa personalidade,
que o Espiritismo
esclarece serem as
nossas paixões negativas
(o mal do qual devemos
nos libertar).
Findo o esclarecimento
sobre as ciências de
interpretação da
criatura humana e de
suas terapias, Divaldo
dá inicio ao
entendimento de que
devemos centrar nossas
energias na
transformação do Egoísmo
em Altruísmo mediante o
contínuo trabalho e
esforço para nos
libertarmos da
escravização do EGO
(aquilo que aparentamos)
e dos seus malefícios,
desenvolvendo a primazia
do SELF (Ser profundo).
Para tanto, Divaldo
referiu-se à obra “O
Cavaleiro Preso na
Armadura” (editora
Record) do escritor e
roteirista americano
Robert Fischer, citando
a dificuldade vivida
pelo cavaleiro da fábula
que busca livrar-se da
armadura (EGO) em que
vive preso.
O Espiritismo nos dá o
caminho: “O egoísmo se
enfraquecerá à proporção
que a vida moral for
predominando sobre a
vida material e,
sobretudo, com a
compreensão, que o
Espiritismo vos faculta,
do vosso estado futuro,
real e não desfigurado
por ficções alegóricas”.
(O Livro dos
Espíritos, Editora
FEB, questão 917.)
Para que essa conquista
seja permanente, a
transformação deve ser
de dentro para fora. Mas
como operacionalizar a
reforma íntima
preconizada por Jesus e
enfatizada pela Doutrina
Espírita?
Divaldo dá o roteiro
buscando uma vez mais o
repositório da Doutrina
Espírita, O Livro dos
Espíritos, em que
Kardec indaga aos
Espíritos Superiores na
questão 919: Qual o meio
prático e eficaz que tem
o homem de se melhorar
nesta vida e de resistir
à atração do mal?
A resposta sucinta dos
Tarefeiros do Cristo não
deixa margem alguma a
dúvidas: “Um sábio da
antiguidade vo-lo disse:
Conhece-te a ti mesmo”.
Esta é a nossa
prioridade: A viagem
interior que nos
auxiliará no
reconhecimento das
múltiplas imperfeições
que aguardam serem,
ainda, identificadas
para depois, então,
serem transformadas em
virtudes, como também
daquelas outras que,
apesar de já
reconhecidas, aguardam
nossa decisão firme para
sublimá-las.
Deixar o Ego e ser o
Self, como fez Francisco
de Assis, que diante da
multidão que lotava a
Catedral de Assis ouviu
as acusações do pai e
diante de todos
desnudou-se das finas
roupas que trajava e foi
buscar no monturo de
lixo um casaco ali
atirado e vestiu-o,
cingindo na cintura uma
corda à guisa de cinto.
Mostrava por esse gesto
a luta que ele travava
com o Ego.
Fazia-o não para
afrontar o pai, mas por
ser essa a forma de
simbolizar a separação
do Ego. Desnudou-se pelo
anseio da liberdade de
encontrar a Verdade.
“Todo mundo pensa em
mudar o mundo, mas
ninguém pensa em mudar a
si mesmo”, afirmou Leon
Tolstói (1828-1910).
Quem desejar, portanto,
mudar o mundo mude-se em
primeiro lugar. Não é o
mundo que se muda. Somos
nós que mudamos o mundo,
mudando-nos. Francisco
de Assis não recomendou
a ninguém a necessidade
de vestir-se de tal ou
qual forma. Ele impôs
isso a si mesmo.
O Caminho da Verdade na
busca do
autoconhecimento é muito
difícil pelo fato de nós
nos ignorarmos. A
eliminação da ignorância
de nós mesmos passa pela
aquisição do
conhecimento. Divaldo
citou, então, o
professor, sociólogo,
médico psiquiatra e
psicólogo Emilio Mira y
Lopez (1896-1964) que
entendia que, do ponto
de vista psicológico, o
ser humano é constituído
de cinco elementos:
1. Personalidade (A
máscara que afivelamos à
face)
2. Conhecimento (São as
aquisições intelectivas
e formada pelas lições
de aprendizagem)
3. Identificação (São as
sintonias daquilo com o
que nos afinizamos)
4. Consciência (Que
atuando com o
conhecimento forma a
base do discernimento. A
consciência possui
níveis diferenciados
como será abordado a
seguir)
5. Individualidade (O
elemento que o egoísmo
procura defender a todo
custo).
Divaldo aborda a seguir
os níveis de consciência
que vamos galgando nas
sucessões das vivências
e ilustrou cada um
desses níveis permitindo
a todos identificar
aquele em que
estagiamos,
permitindo-nos, assim,
estabelecer um programa
pessoal de
aperfeiçoamento:
1. Consciência de sono
SEM sonhos
2. Consciência de sono
COM sonhos
3. Consciência de sono
ACORDADO (identificação)
4. Consciência de Si
mesmo.
5. Consciência Cósmica.
A respeito do nível 5,
lembrou a célebre frase
de Paulo: Já não sou eu
quem vive, mas Cristo
que vive em mim.
(Gálatas 2:20.)
Para finalizar, Divaldo
nos convida a não
desistirmos da busca do
autoconhecimento, não
nos deixando arrastar
pelas Ilusões, mas
optando pelo
enfrentamento da
Realidade.
Encorajando-nos a
perseverar nessa busca,
Divaldo cita vários
exemplos de constância
de propósito como o
descobridor da lâmpada
elétrica Thomas Alva
Edson que, mesmo após
mais de 700 experiências
infrutíferas, não
desistiu, permanecendo
no laboratório até obter
êxito.
Só amamos os outros
quando nos amarmos... E
o amor solucionará todos
os problemas, por mais
intrincados se
apresentem.
Amar, como amou
Francisco de Assis, que
experimentou doenças que
lhe despedaçavam o corpo
frágil e afligiam a alma
veneranda: malária em
surtos contínuos com
febre e dores
estomacais, com o baço e
o fígado comprometidos,
não conseguira
desanimá-lo
Ao lado dessas aflições
lentamente desabrochou
as primeiras rosas
arroxeadas da
hanseníase.
Diante das dores quase
insuportáveis da
conjuntivite
tracomatosa, aceitou
submeter-se ao
tratamento especial
contra o tracoma nas
mãos do médico que
aqueceu dois ferros até
os tornar brasas vivas e
o cegou. Francisco não
reclamou, exclamando,
confiante: Oh! Irmão
fogo!... Sê bondoso
comigo nesta hora...
Como se não bastasse,
posteriormente, a fim de
estancar a purulência
dos ouvidos, novamente
experimentou barras de
ferro em brasa que os
penetraram, sem que
exteriorizasse um gemido
único.
Francisco renasceu para
sofrer – sem dever – e
nos ensinar – a nós que
temos dívidas – a arte
sublime de dedicação a
Jesus. Toda uma epopeia
de sacrifícios e
abnegação ficaria
inscrita nas páginas da
História demonstrando
quanto se pode fazer e
viver sob a inspiração
do amor de totalidade.
O encontro derradeiro,
dia 21 de fevereiro
Divaldo iniciou o
terceiro e último dia do
seminário, falando-nos
das origens e causas da
situação atual da
sociedade. Evocou,
então, o filósofo
Francis Bacon
(1561-1626) e sua
afirmativa de que uma
filosofia superficial
leva o homem para o
materialismo e que em
contrapartida uma
filosofia profunda leva
a criatura humana à
verdadeira religião.
Lembrou, na sequência,
Blaise Pascal
(1623-1662), filósofo
francês que firmou
posição na questão que
dominava a humanidade
nos séculos XVI e XVII –
O materialismo (ou
Atomismo) versus
Religião (existência de
Deus). Cientista
renomado, escreveu
ensaios filosóficos que
reuniu no livro Les
Pensées (Os
Pensamentos, Editora
Martin Claret), em que
aborda os temas de “le
sprit de Géometrie” (o
Espírito de Geometria a
representar a razão
calculatória, analítica,
instrumental que se
dedica a investigar e
entender a matéria e as
leis que a governam, que
impulsionou o progresso
da humanidade e mudou a
face da Terra) e “le
sprit de Finesse” (o
Espírito de Gentileza a
representar a razão
cordial –- que apoiada
pela logique du coeur, a
lógica do coração – se
dedica às relações
sociais e humanas, a
ciência a estudar a
subjetividade da vida e
do sentido e real
objetivo da vida e da
espiritualidade).
O Espírito da Razão e o
da Gentileza não são
antagônicos e
excludentes; antes, pelo
contrário, ambos são
necessários para a
existência humana. Mas o
Espírito da Razão passa
a prevalecer e comandar
os destinos da
humanidade em detrimento
da Gentileza a tal ponto
que hoje vivemos a
ditadura da Razão.
Assim passamos a eleger
as metas imediatistas e
materiais e a
felicidade, falsamente
elegida, é TER em
detrimento ao SER. Com
isso, o homem perdeu o
endereço de Deus. Como
consequência, a
humanidade colhe – pelas
suas escolhas – o quadro
da atualidade:
violência, no âmbito
doméstico e coletivo. A
vida perde o seu
significado
transcendental. A
religião passa a se
assemelhar a um clube,
para onde as criaturas
vão somente em ocasiões
sociais ou quando não
possuem outra atividade
prioritária.
Essa situação é
brilhantemente ilustrada
por Divaldo através da
narrativa da vida da
assistente social Eunice
Weaver (1902-1969), que
nos anos 50 do século XX
altruisticamente se
mobilizou para criar os
Preventórios (albergues
para cuidar das crianças
saudáveis, filhos dos
hansenianos e evitar que
o convívio íntimo
acabasse por
contaminá-las), salvando
assim milhares de vidas
em todo o Brasil.
Eunice Weaver – cujo
pensamento estava
resumido na frase O
Verdadeiro ideal é a
Arte de Servir –
morreu em 1969 e somente
84 pessoas compareceram
ao seu velório. A
imprensa quase nada
noticiou. As manchetes
abriam espaço para
comentar em todos os
detalhes a separação de
Brigitte Bardot do
playboy e
multimilionário alemão
Gunter Sachs.
Enfatizando o paradoxo
da falsa felicidade que
o TER nos proporciona,
Divaldo narra a história
do Rei Creso (séc. V
antes de Cristo), da
Lídia (parte da atual
Turquia), tido como o
homem mais rico do mundo
em sua época e que se
autointitulava o homem
mais feliz pela fortuna.
Sólon, um dos sete
sábios da Grécia, porém,
o alertou de que a
felicidade somente pode
ser avaliada ao final da
existência. Orgulhoso e
arrogante, Creso
desprezou o ensinamento
do sábio, mas os eventos
da vida terminaram por
ensiná-lo da verdade.
O Ego, a máscara que
afivelamos à face e que
luta por defender a
qualquer preço nossa
individualidade, nos
escraviza,
encarcerando-nos no
sofrimento e frustração
de não lograrmos
encontrar as metas
vazias e imediatas. E
aguarda a nossa decisão
firme e resoluta de
abandonarmos a armadura
que nos impede de fruir
a verdadeira felicidade.
Jesus, por intermédio
dos Tarefeiros de Seu
Incondicional Amor,
aguarda a nossa decisão
de enfrentar os desafios
existenciais, com
otimismo, com constância
de propósito.
Quando erramos não
devemos desistir.
Scheilla - a sublime
enfermeira alemã -
ensinou Divaldo: Quando
retornamos ao Plano
Espiritual, Jesus não
nos pergunta o que
fizemos de ruim. Não
interessa. Ele nos
pergunta o que aspiramos
de melhor, o que
desejamos.
Para nos libertarmos do
mal, pensemos no bem.
Todas as vezes que
surgirem pensamentos
pessimistas, negativos,
depressivos, devemos
substituí-los por
pensamentos positivos,
otimistas, alegres e
joviais.
Findo o seminário, todos
saíram pensativos, mas
felizes, e no âmago de
cada um ressoava o
ensinamento de Jesus:
Onde estiver o vosso
tesouro (os valores, os
ideais) ali também
estará o vosso coração.
Nota do Autor:
As fotos que ilustram
esta reportagem são de
autoria de Sandra
Patrocínio.
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