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Auta de Souza
1876 – 1906 |
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Nasceu em Macaíba, então Arraial, depois
cidade do Rio Grande do Norte, a 12 de
setembro de 1876. Era magrinha, calada,
de pele clara, um moreno doce à vista
como veludo ao tato. Era filha de Eloi
Castriciano de Souza, desencarnado aos
38 anos de idade, e de Dona Henriqueta
Rodrigues de Souza, desencarnada aos 27
anos, ambos tuberculosos. Antes de ela
completar 3 anos, ficou órfã de mãe e,
aos 4 anos, de pai. A sua existência foi
assinalada por sofrimentos acerbos.
Muito cedo conheceu a orfandade e ainda
menina, aos dez anos, assistiu à morte
de seu querido irmão Irineu Leão
Rodrigues de Souza, vitimado pelo fogo
produzido pela explosão de um lampião de
querosene, na noite de 16 de fevereiro
de 1887.
Auta
de Souza e seus quatro irmãos foram
criados em Recife, no velho sobrado do
Arraial, na grande chácara, pela avó
materna, Dona Silvina Maria da Conceição
de Paula Rodrigues, vulgarmente chamada
Dindinha, e seu esposo Francisco de
Paula Rodrigues, que desencarnou quando
Auta tinha 6 anos.
Antes dos 12 anos, foi matriculada no
Colégio São Vicente de Paulo, no bairro
da Estância, onde recebeu carinhosa
acolhida por parte das religiosas
francesas que o dirigiam e lhe
ofereceram primorosa educação:
literatura, inglês, música, desenho e
aprendeu a dominar também o francês, o
que lhe permitiu ler no original:
Lamartine, Victor Hugo, Chateubriand,
Fénelon.
De
1888 a 1890, a jovem Auta estuda,
recita, verseja, ajuda as irmãs do
Colégio, aprimora a beleza de sua fé, na
leitura constante do Evangelho.
Aos
14 anos, ainda no Educandário Estância,
em 1890, manifestaram-se os primeiros
sintomas da enfermidade que lhe roubou,
em plena juventude, o viço e foi a causa
de sua morte, ocorrida na madrugada de 7
de fevereiro de 1901, quinta-feira, à
uma hora e quinze minutos, na cidade de
Natal, exatamente com 24 anos, 4 meses e
26 dias de idade. Os médicos nada
puderam fazer e Dindinha retornou com
todos para o Rio Grande do Norte. Auta
foi sepultada no cemitério do Alecrim e,
em 1906, seus restos mortais foram
transladados para o jazigo da família,
na Igreja de Nossa Senhora da Conceição,
em Macaíba, sua terra natal.
O
forte sentimento religioso e mesmo a
doença não impediram de ter uma vida
absolutamente normal em sociedade.
Era
católica, mas não submissa ao clero. Ela
não se macerou, não jejuou e jamais se
enclausurou. Era comunicativa, alegre,
social. A religiosidade dela era
profunda, sincera, medular, mas não
ascética, mortificante, mística. Seu
amor por Jesus Cristo, ao Anjo da
Guarda, não a distanciaram de todos os
sonhos das donzelas: amor, lar, missão
maternal. Com 16 anos, ao revelar o seu
invulgar talento poético, enamorou-se do
jovem Promotor Público de Macaíba, João
Leopoldo da Silva Loureiro, com a
duração apenas de um ano e poucos meses.
Dotada de aguda sensibilidade e
imaginação ardente, dedicava ao namorado
amor profundo, mas a tuberculose
progredia e seus irmãos convenceram-na a
renunciar. A separação foi cruel, mas
apenas para Auta. O Promotor não
demonstrou a menor reação. É verdade que
gostava de ouvi-la nas festas caseiras a
declamar com sua belíssima voz
envolvente, aveludada e com ela dançar
quadrilhas, polcas e valsas, mas não era
o homem indicado para amar uma alma tão
delicada e sonhadora como Auta de Souza.
Faltava-lhe o refinamento espiritual
para perceber o sentimento que
extravasava através dos olhos meigos da
grande poetisa.
Essa
sucessão de golpes dolorosos, marcou
profundamente sua alma de mulher,
caracterizada por uma pureza cristalina,
uma fé ardente e um profundo sentimento
de compaixão pelos humildes, cuja
miséria tanto a comovia. Era vista lendo
para as crianças pobres, para humildes
mulheres do povo ou velhos escravos, as
páginas simples e ingênuas da História
de Carlos Magno, brochura que corria
os sertões, escrita ao gosto popular da
época.
A
orfandade da poetisa, ainda criança, o
desencarne trágico de seu irmão, a
moléstia contagiosa e a frustração no
amor, esses quatro fatores amalgamados à
forte religiosidade de Auta, levaram-na
a compor uma obra poética singular na
história da Literatura Brasileira: Horto,
seu único livro, é um cântico de dor,
mas, também, de fé cristã. A primeira
edição do Horto saiu
do prelo em 20 de Junho de 1900.
O
sofrimento veio burilar a sua inata
sensibilidade, que transbordou em versos
comovidos e ternos, ora ardentes, ora
tristes, lavrados à sombra da
enfermidade, no cenário desolador do
sertão de sua terra.
Em
14 de novembro de 1936, houve a
instalação da Academia Norte-Rio
Grandense de Letras, com a poltrona XX,
dedicada a Auta de Souza.
Livre do corpo, totalmente desgastado
pela enfermidade, Auta de Souza,
irradiando luz própria, lúcida e
gloriosa alçou voo em direção à
Espiritualidade Maior. Mas a compaixão
que sempre sentira pelos sofredores fez
com que a poetisa, em companhia de
outros Espíritos caridosos, visitasse
constantemente a crosta da Terra. Foi
através de Chico Xavier, que ela, pela
primeira vez, revelou sua identidade,
transmitindo suas poesias enfeixadas em
1932, na primeira edição do Parnaso
de Além Túmulo, lançado pela
Federação Espírita Brasileira.
Em
sua existência física, Auta de Souza foi
a ave cativa que cantou seu anseio de
liberdade; o coração resignado, que
buscou no Cristo o consolo das
bem-aventuranças prometidas aos aflitos
da terra. Além do túmulo, é o pássaro
liberto e feliz que, tornado ao ninho
dos antigos infortúnios, vem trazer aos
homens a mensagem de bondade e
esperança, o apelo à fé e à caridade,
indicando o rumo certo para a conquista
da verdadeira vida.
A Campanha
de Fraternidade Auta de Souza,
idealizada pelo companheiro Nympho de
Paula Corrêa e aprovada, em 3 de
fevereiro de 1953, pelo Departamento de
Assistência Social, da Federação
Espírita do Estado de São Paulo, então
dirigido pelo saudoso confrade José
Gonçalves Pereira, é uma bela homenagem
à nossa querida Poetisa, Auta de Souza.
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