Diligente,
honesto e Espírito dócil, Batuíra, como
entregador de jornais, ia formando
amigos e admiradores em toda parte.
Parece que foi neste período que
aprendeu a arte tipográfica, certamente
nas próprias oficinas do Correio
Paulistano.
Batuíra,
muito ativo, correndo daqui para acolá,
foi apelidado "o batuíra", nome que o
povo dava à narceja, ave pernalta, muito
ligeira, de voo rápido, que frequentava
os charcos na várzea formada, no atual
Parque D. Pedro II, pelos
transbordamentos do Rio Tamanduateí. O
nome do rapazinho era Antonio Gonçalves
da Silva, mas, de então em diante, tomou
para si o apelido de Batuíra.
Dentro de
pouco tempo, com as economias que
reuniu, e naturalmente com o auxílio de
pessoas amigas, montou um teatrinho nos
fundos de uma taverna da rua Cruz Preta.
Naquela modesta casa de espetáculos,
muitos amadores fizeram sua estreia,
inclusive Batuíra.
Perseverando na sua faina, dedicou-se
depois à fabricação de charutos. Assim,
com bastante trabalho e economia,
Batuíra fazia crescer suas modestas
finanças, o que lhe permitiu esposar
Brandina Maria de Jesus, de quem teve um
filho, Joaquim Gonçalves Batuíra, que
veio a falecer depois de homem feito e
casado.
Audaz, tal
como os grandes empreendedores, investiu
seu dinheiro na compra de áreas
desvalorizadas, iniciando a construção
de pequenas casas para alugar,
tornando-se assim um abastado
proprietário, cujos haveres traduziam o
fruto de muitos anos de trabalho árduo e
honrado, unido a uma perseverança
inquebrantável.
Na ocasião
em que tudo parecia correr bem, falece,
quase repentinamente, o filho único de
sua segunda esposa, D. Maria das Dores
Coutinho e Silva. Era uma criança de
doze anos, por quem o casal se extremava
em dedicação e carinho.
Este golpe
feriu profundamente aquele lar, que só
pode encontrar lenitivo para a dor na
consoladora Doutrina dos Espíritos.
Tão grande
foi a paz que o Espiritismo lhes
infundiu, que Batuíra imediatamente pôs
mãos à obra, no desejo ardente de que
outros companheiros de labutas terrenas
tivessem conhecimento daquela abençoada
fonte de esperanças novas. E dentro
daquele corpo baixo e de compleição
robusta, um coração de ouro daria mais
larga expansão aos seus nobres
sentimentos de amor ao próximo.
No ano de
1889, Batuíra passou a ser, na cidade de
São Paulo, o agente exclusivo do Reformador,
função de que se encarregou até 1899 ou
1900.
No dia 6 de
abril, de 1890, restabeleceu o Grupo
Espírita Verdade e Luz, que havia
muito se achava adormecido.
Adquiriu
então uma pequena tipografia, destinada
à divulgação e propagação do
Espiritismo, editando a publicação
quinzenal chamada Verdade
e Luz, que atingiu, no ano de 1897,
a marca de 15.000 exemplares.
Batuíra era
também médium curador, sendo centenas as
curas de caráter físico e espiritual que
obtinha ministrando água fluidificada ou
aplicando passes magnéticos.
Em virtude
de todos esses fatos, o povo, o mais
beneficiado por Batuíra, passou a
denominá-lo médico
dos pobres, cognome que igualmente
aureolou o nome de Adolfo Bezerra de
Menezes.
A ação
benemérita de Batuíra não se
circunscrevia, entretanto, a essas
manifestações da caridade cristã. Foi
muito mais além. Criou ele Grupos e
Centros Espíritas em São Paulo, Minas
Gerais, Estado do Rio, os quais animava
e assistia; realizou conferências sobre
diversos temas doutrinários, em inúmeras
cidades de vários Estados, ocasião em
que também visitava e curava irmãos
sofredores; espalhou gratuitamente
prospectos e folhetos de propaganda do
Espiritismo, por ele próprio impressos,
e distribuiu milhares de livros pelo
interior do País.
Batuíra,
unido a outros confrades ilustres,
constituiu na capital paulista, em 24 de
maio de 1908, a União
Espírita do Estado de S. Paulo, que
federaria todos os Centros e Grupos
existentes no Estado.
Assim era o
valoroso obreiro da Terceira Revelação,
o incansável lidador que nunca se deixou
abater pelas asperezas da jornada, tendo
sido incontestavelmente um dos maiores
propagandistas do Espiritismo no Brasil.
Carregando
sobre os ombros muitas
responsabilidades, não sentiu, tão preso
se achava ao cumprimento dos seus
deveres, que suas forças vitais se
esgotavam rapidamente. Súbita
enfermidade assalta-lhe o corpo e, desse
modo, em poucos dias, transpõe as
aduanas do além. Aos 22 de janeiro, de
1909, sexta-feira, cerca de uma hora da
madrugada, faleceu Sr. Antônio Gonçalves
da Silva Batuíra.