Camille Flammarion nasceu na
França e nela passou a sua
infância, adentrando a
adolescência com uma forte
paixão pela Astronomia. Muito
jovem, redigiu um trabalho de
grande fôlego sobre o universo,
que veio a cair nas mãos de um
médico que viera tratá-lo,
ocasião em que este,
impressionando-se com o
manuscrito, resolveu ajudar o
talentoso jovem, no que resultou
o seu ingresso no Observatório
de Paris como aluno-astrônomo.
Ainda jovem e
estudante, Flammarion teve o seu
primeiro contato com o Espiritismo,
associando-se à Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas, fundada e dirigida
por Allan Kardec.
Nessa oportunidade
escrevia ele o livro "A Pluralidade dos
Mundos Habitados" quando veio a conhecer
"O Livro dos Espíritos" identificando-se
de imediato com a obra. Como as sessões
da Sociedade eram em parte dedicadas à
psicografia, Flammarion iniciou um
treinamento, visando desenvolver esta
faculdade, e conseguindo, trouxe à luz o
trabalho intitulado "Uranografia Geral"
assinado por Galileu e que faz parte da
obra "A Gênese" de Allan Kardec.
Participando dos principais grupos
espíritas parisienses e sendo secretário
de um deles Flammarion enriquecia o seu
espírito e transcrevia para os livros as
maravilhas que os invisíveis lhes
transmitiam. "A Terra não tem nenhuma
proeminência no sistema solar de maneira
a ser o único mundo habitado", comenta
ao defender a teoria que muitos outros
planetas seriam habitados.
Em 1865, sob o título
"Forças Naturais Desconhecidas" ele
publicou o seu primeiro livro sobre
pesquisas psíquicas que era um estudo
crítico a propósito dos fenômenos
produzidos pelos irmãos Davenport e
sobre médiuns em geral.
Quando a 31 de março
de 1869 desencarnou Allan Kardec,
Flammarion foi convidado para proferir
uma das 4 orações à beira do túmulo, o
que o fez impressionando a todos ao
afirmar o caráter científico do
Espiritismo, a excelência do trabalho de
Kardec, a realidade das ciências físicas
no além, a existência da alma e da sua
indestrutibilidade, terminando por
considerar o desencarnante o bom senso
encarnado. Nesse mesmo ano a Sociedade
Dialética de Londres iniciou suas
investigações sobre os fenômenos
mediúnicos, havendo Flammarion
apresentado-se perante a comissão que
concluiu como relatório final, ser o
assunto digno de mais séria atenção e
cuidadosa investigação do que tinha sido
até então.
Em 1879 é publicado o
seu livro "Astronomia Popular",
considerada a melhor obra do gênero do
século XIX. Passa então a estudar o
fenômeno mediúnico no que resultou mais
um livro de sua autoria, que levou o
título de "Forças Psíquicas Misteriosas"
onde anota: "O fenômeno mediúnico tem
para mim a estampa de absoluta certeza e
incontestabilidade e amplia o suficiente
para provar que as forças físicas
desconhecidas existem fora do ordinário
e estabelecido domínio da filosofia
natural".
Em 1882, já destacado
como profissional, instalou um
observatório privado, sabedor de que a
Ciência, notadamente a Astronomia, como
sendo velha conselheira das verdades
espirituais, muito ajudaria os homens em
suas buscas para encontrar Deus. Nesse
mesmo ano ele fundou a revista "A
Astronomia" e em 1887 a Sociedade
Astronômica da França.
Em 1899, Flammarion
começou a fazer um censo sobre
alucinação. De 4.280 pessoas
consultadas, 1.824 responderam que elas
tinham tido visões de fantasmas. Deste
total, 786 casos foram coletados como de
valor evidencial. Revisados e ampliados,
estes artigos formaram a substância do
livro "O Desconhecido e os Problemas
Psíquicos", reforçando as provas de
telepatia, aparições de mortos, sonhos
premonitórios e clarividência. Na citada
obra, à vista do conjunto dos fatos,
Flammarion conclui: 1º) a alma existe
como personalidade real, independente do
corpo; 2º) a alma é dotada de faculdades
ainda desconhecidas da ciência; 3º) ela
pode agir e perceber, à distância, sem
os sentidos como intermediários; 4º) o
futuro é de antemão preparado;
determinado pelas causas que o
produzirão. A alma percebe-o algumas
vezes.
Ao mesmo tempo que se
dedicava às pesquisas psíquicas,
Flammarion desenvolvia fecundos estudos
no campo da Astronomia. Além deste,
abordava temas sobre Deus, reformas
políticas e sociais, evolução do homem,
fenômeno da morte e as pesquisas
psíquicas. Mas, evidentemente, que, como
popularizador de sua ciência predileta,
muitas de suas obras versaram sobre
Astronomia. É o caso de "Urânia": "A
missão da Astronomia ser mais elevada
ainda. Depois de vos haver feito sentir
e dado a conhecer que a Terra não é mais
do que uma cidade na pátria celeste, e
que o homem é cidadão do céu, ir mais
longe. Descobrindo o plano sobre o qual
o universo físico está construído,
mostrar que o universo moral se acha
alicerçado sobre esse mesmo plano; que
os dois mundos não formam senão um mesmo
mundo, e que o Espírito governa a
Matéria. (...) A Astronomia ser é pois,
eminentemente e antes de tudo, a
diretriz da Filosofia. E a filosofia
astronômica ser a religião dos espíritos
superiores".
Assim foi Flammarion.
Um poeta dos céus, de Deus e da
natureza. Um pesquisador que tinha o
sonho de tornar a religião científica e
a ciência religiosa, equilibrando o
espírito em seus vôos pelo infinito.
Cientista emérito, escritor de brilho,
garimpeiro das galáxias, dedicou todo o
seu talento em mostrar as maravilhas que
Deus criou para que pudéssemos definir e
materializar a paz. Com o olho no céu e
a mão no papel foi poeta o bastante para
transportar as estrelas para a Terra, a
fim de que eles viesse a ser apenas um
minúsculo mundo perdido no universo. Seu
nome brilha entre os estudiosos do
Espiritismo como os sóis que pesquisou,
e, não há névoa por mais espessa, que um
dia lhe venha a ofuscar a magnitude.