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Delphine Girardin
1804 – 1855 |
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Quem são os Espíritos que assinam as mensagens da
Codificação? Em Prolegômenos, da
obra basilar O
Livro dos Espíritos, encontram-se
os nomes de São João
Evangelista, Santo Agostinho,
São Vicente de Paulo, São Luís,
O Espírito de Verdade, Sócrates,
Platão, Fénelon, Franklin,
Swedenborg, entre outros.
Em O
Evangelho segundo
o Espiritismo desfilam
mais de uma dezena de nomes de
Espíritos, mais conhecidos uns,
quase desconhecidos outros,
entre eles os de Delphine de
Girardin, Hahnemann, Henri
Heine, Lacordaire, Lamennais,
Morlot, Pascal, Vianney.
Mas, afinal, quem são esses
expoentes que compuseram a
equipe que descortinou ao mundo
a Terceira Revelação?
Aqui, interessa-nos alguns dados
biográficos de Delphine de
Girardin, que nasceu em
Aix-La-Chapelle, em 26 de
janeiro de 1804, o mesmo ano do
Codificador, e desencarnou na
capital francesa em 29 de junho
de 1855. Casou-se com Émile de
Girardin, jornalista e político
francês, passando então a ser
conhecida como sra. Émile
de Girardin. Ela
mesma se tornou jornalista, após
o casamento em 1831, escrevendo
no jornal La
Presse, no
período de 1836 a 1848, sob o
pseudônimo de visconde de Launay,
interessantes crônicas da
sociedade do tempo de Luís
Filipe. Essas crônicas ficaram
conhecidas como cartas
parisienses.
Publicou também romances,
tragédias e comédias. Era,
positivamente, grande médium
inspirada. Personalidade muito
conhecida no meio poético,
frequentando os salões
literários de Mme. Récamier,
onde se reuniam as celebridades
do momento, muito natural que
ela tomasse contato com as mesas
girantes.
Desde o primeiro contato com as
mesas, ela se convenceu da
veracidade das manifestações.
Teve oportunidade de se
encontrar, pessoalmente, com o
professor Rivail, possivelmente,
em alguma das reuniões que ele
frequentava nas suas pesquisas
em torno dos fenômenos que
assombravam Paris.
Amiga pessoal de Victor Hugo, os
acontecimentos políticos do ano
de 1851 e o exílio de seus
amigos a marcaram de forma
cruel.
Fiel a amizade, ela decidiu
levar conforto moral aos pobres
proscritos. Lançou-se ao mar e,
em 6 de setembro, no verão de
1855 (06 de dezembro), Madame
Delphine de Girardin ,
desembarca na Ilha de Jersey
para uma visita à família Hugo,
então instalada numa vivenda
conhecida como Marine
Terrace. Ela trazia, além
das novidades da vida política e
social de Paris, notícias sobre
a mania então em voga na capital
francesa: o contato com os
mortos através da mesa.
Ela, então, contou aos
incrédulos membros da família
Hugo que as mesas davam pancadas
e se inclinavam misteriosamente,
como podiam também ser levadas a
bater palavras inteiras e
sentenças em código. Dinâmica,
contudo, ela não se deixava
abater em demasia. Um pouco
triste e melancólica, mas
igualmente feliz por rever seus
amigos, ela reencontrou Victor
Hugo e a família.
Auguste Vacquerie (1819-1895),
que também visitava a família
Hugo, ele que fora cunhado da
jovem Leopoldine, filha de
Victor Hugo, morta tragicamente
em um acidente no Rio Sena,
registrou, com detalhe, a estada
de Madame Girardin em Marine
Terrace:
Era a intuição de sua morte (Mme.
Girardin sabia-se muito enferma
e viria a morrer um ano e pouco
depois) que a fazia
interessar-se pela vida
extraterrena? (...)Estava muito
preocupada com as mesas girantes
e, creio, a primeira palavra que
me dirigiu foi para perguntar se
eu acreditava nelas. Ela
acreditava, e passava a noite a
evocar os mortos... Ela fazia
questão absoluta que todos
participassem de sua convicção
e, no mesmo dia da sua chegada,
tivemos trabalho para fazê-la
esperar o fim do jantar.
Levantou-se à sobremesa e
arrastou um dos convivas para o
parlour onde atormentaram uma
mesa que, de resto, permaneceu
muda. Ela pôs a culpa na mesa,
cuja forma quadrada contrariava
os fluidos. Na manhã do dia
seguinte foi comprar, numa casa
de brinquedos, uma mesinha
redonda, de um pé só, terminando
em dedo-de-galo.
A mesa adquirida por Mme. de
Girardin servia exatamente a
seus propósitos; entretanto,
nada aconteceu. "Os Espíritos –
esclareceu – não eram cavalos,
que esperam pacientemente o
burguês, mas seres livres e
dotados de vontade; vêm quando
querem.” As sessões foram longas
e cansativas. Victor Hugo,
cético, aderiu às reuniões
somente para não desgostar a
amiga.
Após várias e fracassadas
tentativas, eis que se ouviu um
ligeiro estalido na madeira.
Finalmente, no domingo, 11 de
setembro, a concentração e o
silêncio foram recompensados. O
estalido se repetiu. De repente
um dos pés se ergueu. Mme. de
Girardin disse: “Há alguém
presente? Se houver e quiser
falar-nos, dê uma batida. O pé
caiu com um ruído seco – Há
alguém, gritou Mme. de Girardin.
Fazeis as perguntas”.
Uma comunicação aconteceu. Uma
comunicação que mudaria os rumos
da vida do grande poeta francês.
Quem se comunicou, através da
mesa foi nada mais, nada menos
que sua filha Leopoldine. Sua
amada filha, morta durante a
lua-de-mel, afogada em um lago,
num passeio de barco com o
marido.
Em O
Evangelho segundo
o Espiritismo,
o Espírito de Delphine de
Girardin assina a mensagem A
infelicidade real, no
capítulo V, item 24, a seguir
transcrita
"Todo o mundo fala da
infelicidade, todo mundo a
experimentou e crê conhecer seu
caráter múltiplo. Venho vos
dizer que quase todos se
enganam, e que a infelicidade
real não é tudo aquilo que os
homens, quer dizer os infelizes,
a supõem. Eles a veem na
miséria, no fogão sem lume, no
credor ameaçador, no berço vazio
do anjo que sorria, nas
lágrimas, no féretro que se
acompanha de cabeça descoberta e
de coração partido, na angústia
da traição, na nudez do
orgulhoso que gostaria de se
cobrir de púrpura e que esconde
com dificuldade sua nudez sob os
farrapos da vaidade; a tudo
isso, e a outras coisas ainda,
se chama de infelicidade na
linguagem humana. Sim, é a
infelicidade para aqueles que
não veem senão o presente; mas a
verdadeira infelicidade está nas
consequências de uma coisa, mais
do que na própria coisa.
Dizei-me se o acontecimento mais
feliz para o momento, mas que
tem consequências funestas, não
é em realidade mais infeliz que
aquele que causa primeiro uma
viva contrariedade, e acaba por
resultar no bem? Dizei-me se a
tempestade que quebra vossas
árvores, mas saneia o ar
dissipando os miasmas insalubres
que causariam a morte, não é
antes uma felicidade do que uma
infelicidade.
“Para julgar uma coisa é
preciso, pois, ver-lhe as
consequências; é assim que, para
apreciar o que é realmente feliz
ou infeliz para o homem, é
preciso se transportar além
desta vida, porque é lá que as
consequências se fazem sentir;
ora, tudo o que se chama
infelicidade segundo sua curta
visão, cessa com a vida e
encontra sua compensação na vida
futura.
“Vou vos revelar a infelicidade
sob uma nova forma, sob a forma
bela e florida que acolheis e
desejais com todas as forças das
vossas almas equivocadas. A
infelicidade é a alegria, é o
prazer, é a fama, é a agitação
vã, é a louca satisfação da
vaidade, que fazem calar a
consciência, que comprimem a
ação do pensamento, que atordoam
o homem sobre seu futuro; a
infelicidade é o ópio do
esquecimento que reclamais
ardentemente.
“Esperai, vós que chorais!
Tremei, vós que rides, porque
vosso corpo está satisfeito! Não
se engana a Deus; não se esquiva
do destino; e as provas,
credoras mais implacáveis que a
matilha excitada pela miséria,
espreitam vosso repouso ilusório
para vos mergulhar de repente na
agonia da verdadeira
infelicidade, daquela que
surpreende a alma enfraquecida
pela indiferença e pelo egoísmo.
“Que o Espiritismo vos
esclareça, pois, e recoloque em
sua verdadeira luz a verdade e o
erro, tão estranhamente
desfigurados pela vossa
cegueira! Então agireis como
bravos soldados que, longe de
fugirem do perigo, preferem as
lutas dos combates temerários, à
paz que não pode dar nem glória,
nem progresso. Que importa ao
soldado perder no tumulto suas
armas, sua bagagem e seus
uniformes, contanto que dele
saia vencedor e com glória! Que
importa àquele que tem fé no
futuro deixar sobre o campo de
batalha da vida sua fortuna e
seu manto de carne, contanto que
sua alma entre, radiosa, no
reino celeste?” (Delphine de
Girardin, Paris, 1861.)
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