Nasceu em
23 de maio de 1734, em
Iznang, aldeia próxima
do lago de
Constança, filho do
casal Franciscus Antonius Mesmer e
Maria Ursula Michel, membros de
uma grande família católica da
Suábia, região que hoje
pertence à
Alemanha. Mesmer
desencarnou em
5 de março de 1815.
Em 1743, foi levado
pelos pais para o
monastério
Reichenau, em
Constança, onde durante
seis anos estudou línguas,
literatura clássica e
música com os
monges.
Provido
de recursos, dedicou-se a longos
estudos científicos, chegando a
dominar os conhecimentos de seu
tempo, época de acentuado orgulho
intelectual e ceticismo. Era um
trabalhador incansável, calmo,
paciente e ainda um exímio músico.
Freqüentava constantemente
círculos ocultistas, locais onde
obteve conhecimentos de alquimia.
Estudou com profundidade a vida e a
obra de Paracelso (1493-1541), que
entendia que havia correspondência
entre o mundo exterior
−
o
macrocosmo
−
e as diferentes
partes do organismo
−
o
microcosmo.
Em 1750, ingressou
na Universidade
jesuíta de
Dillingen, na
Bavária, onde estudou
filosofia por quatro
anos, chegando ao doutorado. Leu
as obras de
Galileu,
Descartes,
Leibniz,
Kepler,
Newton etc. Em 1754,
iniciou o curso de
teologia na
Universidade de
Ingolstadt, também na
Bavária. Cinco anos
depois, em 1759, ingressou na
Universidade de
Viena, dedicando seu
primeiro ano nesta universidade ao
estudo das leis. Transferiu-se,
logo depois, para o curso de
medicina. Seis anos depois, no dia
27 de maio, conquistou o doutorado
com uma
dissertação inspirada
na obra de Newton e talvez de
Paracelso. Nesse texto,
que trata da influência dos
planetas sobre o corpo humano,
usou pela primeira vez o conceito
de
fluido universal.
A tese de
formatura de Mesmer fazia
referência a uma medicina de
outros tempos: De Influxo
Planetarum In Corpus Humanum.
Nela, descrevia a influência dos
planetas por intermédio de um
fluido universal com poderes
magnéticos sobre a matéria viva.
Aludia, também, ao magnetismo
animal, que, segundo ele, existia
em duas formas opostas e tenderia
a emanar dos lados direito e
esquerdo do corpo humano.
Explicava que a cura das
enfermidades consistia na
restauração do equilíbrio ou
harmonia alterada entre os
fluidos. Com base nessas teorias,
Mesmer construiu sua técnica
terapêutica utilizando a fixação
dos olhos e os passes com as
mãos. As teorias de Mesmer
afirmavam que um princípio
imponderável atuava sobre os
corpos. Em todo o organismo
vivente existia um fluido
magnético no qual circulava uma
força especial, animando tanto o
mundo orgânico como o inorgânico;
que esse fluido se transmitia,
podendo revigorar os corpos
debilitados; que as pessoas
dotadas de grande vitalidade
poderiam transmitir essa energia
para os outros, se soubessem
dirigi-la, utilizando as mãos.
Mesmer casou-se com
Maria Anna Von Bosch,
numa concorrida cerimônia, em 10
de janeiro de 1768, celebrada, na
catedral de
Santo Estevão, pelo
arcebispo de
Viena. Mudou-se para
uma mansão em
Landstrasse, onde
promovia
saraus musicais com
Mozart,
Gluck,
Haydn e outros. Ainda
em 1768, em outubro, estreou no
teatro de seu jardim a primeira
apresentação em
Viena de uma ópera de
Mozart.
O primeiro
tratamento pelo
magnetismo animal teve
início em 1773. A paciente foi uma
parenta da esposa de
Mesmer e amiga da
família de
Mozart, Franziska
Esterlina, uma senhorita de 29
anos bastante debilitada. Mais
tarde, em 1790,
Mesmer foi homenageado
por
Mozart, em sua ópera
Così fan tutte. No
final do primeiro ato, a
personagem Despina, fantasiada de
médico, imita
Mesmer e seu
tratamento.
Em 1775, com a
pouca acolhida dada à sua
descoberta, determina-se a nada
mais realizar publicamente em
Viena. Após
muitas experiências, reconhece que
pode curar mediante a aplicação de
suas mãos. Acredita que dela se
desprende um fluido que alcança o
doente. De todos os corpos da
Natureza – declarou então
−, é o
próprio homem que com maior
eficácia atua sobre o homem. A
doença seria apenas uma desarmonia
no equilíbrio da criatura. Ele,
que nada cobrava pelos
tratamentos, preferia cuidar de
distúrbios ligados ao sistema
nervoso. Além da imposição das
mãos sobre os doentes, para
estender o benefício a maior
número de pessoas, magnetizava
água, pratos, cama etc., a cujo
contato submetia os enfermos.
Ele definiu o
magnetismo animal como
sendo a capacidade de um indivíduo
causar efeitos similares ao
magnetismo mineral em
outra pessoa. Em 1776,
Mesmer deixa de fazer
uso do
ímã como simples
condutor do
magnetismo animal, para
evitar mal-entendido por parte dos
médicos e físicos. Continua a usar
água, garrafas, barras
de
ferro. No ano seguinte,
aceita como paciente a famosa
pianista
Maria Theresa Paradis,
curando sua
cegueira, fato que
gerou muitas controvérsias.
Na luta pela
divulgação do
Magnetismo Animal,
Mesmer chega a
Paris no mês de
fevereiro de 1778 e
começa a apresentar suas
descobertas para os sábios e os
médicos dessa capital,
retirando-se para a cidade de
Creteil no mês de
maio, juntamente com
alguns doentes. Requisita
comissários da
Sociedade Real de Medicina
de
Paris para que eles
fiscalizem as curas, o que foi
recusado. Mesmer praticou
durante anos o seu método de
tratamento em Viena e em Paris,
com evidente êxito, mas acabou
expulso de ambas as cidades pela
inveja e incompreensão de muitos.
Depois de cinco tentativas para
conseguir exame judicioso do seu
método de curar pelas academias, é
que publica, em 1779, a
Dissertação sobre a descoberta do
magnetismo animal, na qual afirma
que este é uma ciência com
princípios e regras, embora ainda
pouco conhecidas. Suas descobertas
baseavam-se em 27 teses. Eis
algumas:Por meio deste fluido,
doenças nervosas são curadas
imediatamente e suas virtudes
podem estender-se à cura universal
e a preservação da humanidade, a
um grau tão elevado, que não se
sabia quão longe poderia ir.
Existe uma influência recíproca
entre os corpos celestes, a Terra
e todos os organismos animados. O
fluido universal é o agente dessa
influência. Essa ação recíproca
está sujeita às leis da mecânica.
Os corpos gozam de propriedades
análogas ao ímã. Essas
propriedades podem ser
transmitidas a outros corpos
animados ou inanimados. A moléstia
é apenas a resultante da falta ou
desequilíbrio na distribuição do
magnetismo pelo corpo.
O trabalho de
Mesmer, devido a seus métodos e a
essas curas miraculosas, provocou
um alvoroço em Paris. Ali foi
cultuado por muitos e perseguido
por outros, principalmente por
colegas médicos que o chamavam de
charlatão e embusteiro. Sua
popularidade prosseguiu por muitos
anos, mas outros médicos o
tachavam de impostor e charlatão.
Em uma derradeira
tentativa, propõe à
Faculdade de Medicina
de
Paris, em 1780, um
teste comparativo de seu método
com a
medicina tradicional.
Em 18 de
setembro, houve uma
assembléia geral e, após uma
leitura e um discurso,
d'Eslon, seu discípulo,
foi excluído do quadro dos médicos
e as
proposições de
Mesmer foram rejeitadas
com desdém e animosidade. Depois,
em 1781,
Mesmer publica o que
viria a ser a mais importante
descrição histórica da ciência do
magnetismo animal.
Em 1784, o governo francês
nomeou uma comissão de médicos e
cientistas para investigar suas
atividades. Benjamin Franklin foi
um dos membros dessa comissão, que
acabou por constatar a veracidade
das curas, porém as atribuiu não
ao magnetismo animal, mas a outras
causas fisiológicas desconhecidas.
Mesmer envia uma carta
a
Benjamin Franklin
denunciando os equívocos da
comissão nomeada para examinar
d'Eslon, desautorizada para
agir em seu nome, e a
impropriedade do
método adotado. O rei
da
França nomeia uma
comissão de sábios da
Academia de Ciências de Paris
−
Bailly,
Darcet,
Franklin,
Lavoisier
−, que em
quatro meses concluiu que as
proposições de
Mesmer não passavam de
imaginação, além de
redigir um relatório secreto
alegando implicações sexuais. Uma
outra comissão formada por médicos
da
Sociedade Real de Medicina
também rejeitou a existência do
magnetismo animal.
Porém, um de seus membros,
Jussieu, divergiu dos
colegas e admitiu as curas. Em
1785, alguns dos discípulos de
Mesmer publicam as
anotações de suas aulas. Em 1790,
sua esposa, von Posh, morre de
câncer no seio. De
retorno a
Viena, em 1793, é preso
pela polícia, pois estava sendo
investigado por questões
políticas, suspeito de ser
favorável aos
jacobinos. Liberado,
ficou sob custódia até 5 de
dezembro. Continuaria,
porém, sendo observado pelas
autoridades.
Mesmer vê-se então forçado a
retirar-se de Paris e, vilipendiado, instala-se
numa pequena cidade suíça, onde
viveu durante 20 anos sempre
servindo aos necessitados e sem
nunca desanimar nem se queixar.
Um grupo de
médicos da Academia de
Berlim redescobre o seu
paradeiro, mas, já com setenta e
cinco anos, ele não aceita
acompanhá-los. Em 1812, aos
78 anos, a Academia de Ciências de
Berlim convida-o para prestar
esclarecimentos, pois pretendia
investigar a fundo o magnetismo.
Era tarde; ele recusou o convite.
Também a Igreja condenava o
magnetismo, e, por tabela, a ele.
Em 1813, um teólogo francês
escrevia que "o sonambulismo e o
magnetismo eram sobrenaturais e
diabólicos, anticristãos,
anticatólicos e antimorais. Tudo
provinha da ação de fluidos de
origem infernal". A Academia
encarrega o Prof. Wolfart de
entrevistá-lo. O depoimento desse
professor é um dos mais belos a
respeito do caridoso médico:
Encontrei-o dedicando-se ao
hospital por ele mesmo escolhido.
Acrescente-se a isso um tesouro de
conhecimentos reais em todos os
ramos da Ciência, tais como
dificilmente acumula um sábio, uma
bondade imensa de coração que se
revela em todo o seu ser, em suas
palavras e ações, e uma força
maravilhosa de sugestão sobre os
enfermos. No início de 1814, ele
regressou para Iznang, sua terra
natal, onde permaneceria os seus
últimos dias até falecer em 5 de
março de
1815,
aos 81 anos de idade.
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