Hugo Gonçalves, o "Paizinho". Assim é
conhecido e chamado, carinhosa-mente, em
todo o norte do Paraná, o Missionário
Hugo Gonçalves, discí-pulo de Cairbar
Schutel e susten-táculo da Doutrina
Espírita nesse Estado da Federação.
Já próximo dos 94 anos de idade,
continua o que começou desde criança,
sob a sábia orientação do saudoso
Bandeirante do Espiritismo. Não apenas
prega o amor e a caridade, mas
principalmente os pratica. Por isso, por
irradiar tanta simpatia, todos os que o
conhecem de há muito ou o vem a
conhecer, consideram-no uma verdadeira
graça de Deus.
Em 1880 chegava ao Brasil uma família de
imigrantes portugueses liderada por
Francisco Ferreira e Conceição dos
Santos. Dentre os filhos que constituíam
a prole, chamava à atenção a caçulinha,
de nome Cândida, com pouco mais de 1
ano. A família se instalou no povoado de
Boa Esperança, nas proximidades de Rio
Claro, no Estado de São Paulo. Alguns
anos depois, em 1888, já com 20 anos e
sozinho, chega ao Brasil e se instala no
mesmo lugar, outro imigrante português
com o imponente nome de José Maria
Gonçalves. José Maria chegou sozinho,
mas bem acompanhado por entidades
espirituais que o conduziram até Boa
Esperança, pois ali já estava sua
prometida consorte e companheira de toda
a vida − Cândida − ambos
com um sério compromisso de gerarem o
nosso abençoado Hugo Gonçalves. José
Maria e Cândida se casaram em 1893 e
mudaram-se para Matão por volta de 1897.
Já, em seguida, fizeram amizade com o
bondoso farmacêutico local, o Sr.
Cairbar de Souza Schutel.
Hugo Gonçalves retornou ao mundo físico
no dia 6 de outubro de 1913. O parteiro
foi Cairbar Schutel, o qual sugeriu que
o rebento se chamasse Vitor Hugo, seu
autor literário preferido. Dona Cândida
gostou de Hugo, mas não de Vitor.
Aos 12 anos de idade, revelou boa
tendência literária, passando a escrever
para o Jornal O
Clarim, fundado e dirigido por seu
mestre Cairbar Schutel, em Matão-SP.
Vale a pena relembrar um poema que o
menino Hugo escreveu nesse tempo:
MINHA ORAÇÃO
Jesus, Educador da Humanidade,
Que disseste: "Deixai que os pequeninos
Comigo venham ter..."
Ensina-me a formar os paladinos da
justiça, do bem e da verdade.
Ensina-me a ensinar o bem-viver.
Com palavras, exemplos e carinhos,
Dá que eu conduza ao porto desejado
Estas almas em flor.
Que cada coração por mim tocado
Tenha perfume bom dos rosmarinhos
Onde esteja o divino amor. Que eu nunca
seja pedra de tropeço,
Que eu nunca escandalize uma criança,
Que eu saiba respeitar seu coração,
Dá-me esta força poderosa e mansa,
Este dom de educar que não tem preço,
Talento, esforço, amor e inspiração.
A
partir dos 13 anos, passou a trabalhar
com os demais irmãos, executando duras
tarefas na pedreira de propriedade do
pai, tendo por companheira e
instrumento, uma sisuda marreta. Ainda
em plena adolescência, no âmbito
escolar, todos os dias fulminava com o
olhar uma bonita descendente de
italianos, que descobriu chamar-se Dulce
Ângela Caleffi ("A Mãezinha de Cambé").
Ela, só com o passar do tempo, veio a
notar aquele olhar interesseiro. Não
tardou a sentir umas fisgadas no
coração. Por alguns anos o futuro
romance ficou apenas na paquera.
O efetivo namoro somente se deu após a
morte de Arturo, pai de Dulce, em 1930.
Casaram-se no dia 21 de setembro de
1935. Por volta de 1940, já com o filho
Cairbar, mudou-se para a região de
Campinas, onde permaneceu alguns anos,
também quebrando pedras. Retornou a
Matão, agora com segundo filho, Emanuel,
para continuar seu trabalho na pedreira
da família. Logo depois, foi convidado a
trabalhar na administração de uma grande
fazenda, situada nas proximidades de
Matão.
Em 1947, mudou-se para o Paraná,
fixando-se na região de Londrina.
Continuou a trabalhar em administração
de fazendas, até 1953. Nesse ano,
instalou-se em Cambé (Paraná), passando
a dirigir o Lar
Infantil Marília Barbosa, o que faz
com muito amor e carinho até hoje.
Hugo Gonçalves teve treze irmãos, dos
quais três desencarnaram ainda crianças.
É o único sobrevivente da família. Diz
ele porque sempre foi o mais teimoso.
Tem dois filhos, treze netos, dezoito
bisnetos e trinta e seis sobrinhos. É
detentor de vários títulos honoríficos,
pelo seu trabalho incessante e
direcionado ao bem do próximo,
notadamente das crianças e idosos
desvalidos. Após uma semana de
internamento em UTI, dona Dulce, sua
adorada companheira de quase 68 anos,
acometida de problemas
cárdio-respiratórios, veio a desencarnar
no dia 19 de maio de 2003, prestes a
completar 87 anos de profícua e
abençoada existência.
Em março de 2003, deu-se o lançamento do
livro Hugo
Gonçalves e o homem que se lembra do
Sermão da Montanha. Trata-se de uma
obra biográfica. A par da homenagem, é
também um esforço no sentido de relegar
eventual e injusto olvido de uma vida
exemplar inteiramente dedicada ao amor
preconizado pelo Cristo, nas décadas
futuras, quando seus parentes, amigos e
companheiros de hoje, já não mais
estiverem no plano físico.
Instituições e Trabalhos Dirigidos
por Hugo Gonçalves
Centro Espírita Allan Kardec
Fundado na década de 40, por Luiz
Picinin, e mantido e dirigido por Hugo
Gonçalves, desde 1953, o Centro
Espírita Allan Kardec está
devidamente registrado no CNPJ sob nº
75.759.399/0001-98, com sede à Rua Pará,
292, na cidade de Cambe - PR. Esse
Núcleo vem funcionando, desde então,
ininterruptamente. Em todos os dias há
atividades. Às quartas-feiras, à tarde e
à noite, há trabalhos doutrinários, com
palestras, passes e distribuição
gratuita de livros (sorteios). Às
quintas e sextas, sessões mediúnicas.
Nos demais dias, reuniões várias,
inclusive de estudos do Evangelho.
A afluência de adeptos é muito grande. O
auditório, que tem capacidade para umas
200 pessoas, de vez em quando fica
lotado. Seguidamente, são convidados
eminentes estudiosos da doutrina
espírita para palestras. Tanto
paranaenses como de outros Estados.
Quando os palestrantes são oradores
célebres, como Divaldo Franco, Raul
Teixeira etc., os eventos são realizados
em outros recintos mais amplos. Por esse
Centro já passaram, além dos grandes
oradores e palestrantes da atualidade
(para citar apenas alguns: Divaldo,
Raul, Baccelli, Heloisa Pires, Eliseu
Mota, Felipe Salomão, Terezinha
Oliveira, Richardo Simonetti, Sebastião
M. Moura, Dayse Steagall Gomes, etc.),
figuras eminentes como José Soares
Cardoso, Eurícledes Formiga, João Leão
Pitta, Urbano Assis Xavier, Sergio
Lourenço e tantos outros.
Certa vez, Luiz Gonzaga, o famoso Rei
do Baião, esteve em Londrina para um
show. Hugo Gonçalves não deixou por
menos. Depois da apresentação lhe falou
sobre as crianças que mantinha no Lar e
que elas gostariam muito de ouvi-lo. No
dia seguinte Lua deu
um magnífico show no salão do Centro.
Hugo faz "expediente" ali todos os dias,
como se fosse um devotado e assíduo
funcionário. Além do trabalho de
direção, da coordenação das atividades,
atende a numeroso público que o procura
pelos mais variados motivos: ajuda
espiritual, conselhos, pedidos de
alimentos, roupas, dinheiro e por aí
afora. Hugo não tem qualquer rendimento,
a não ser uma mísera aposentadoria de um
salário mínimo. Certo dia, no
escritório, chegou uma senhora
aparentando extrema pobreza. Queria uma
ajuda em dinheiro para comprar leite e
outras coisas para os filhos, alegando
ter sido abandonada pelo marido. Era uma
pobre de muita sorte. O caridoso Hugo
devia ter recebido na véspera o seu
pagamento. Ela pediu expressamente R$
5,00. Hugo meteu a mão no bolso e
arrancou o que tinha: uma única nota de
R$ 50,00. Sem pestanejar, entregou-a
àquela mulher. Ficou sem nada, mas
feliz, pela grande felicidade que viu
estampada no rosto dela. Ficamos
imaginando o que Hugo pensou naquele
momento. A mulher pediu cinco reais. Ele
só tinha cinquenta. Como pedir troco de
quarenta e cinco? Era dar tudo ou nada.
Não teve dúvidas. Deu o tudo e ficou sem
o nada. Mas de coisinhas em coisinhas
como essa, ele vai acumulando tesouros
no Reino dos Céus. Os milhões e as
toneladas de ouro de nada servem na hora
da verdade, da prestação de contas. A
caridade é um valiosíssimo cartão de
crédito que se leva.
Lar Infantil Marília Barbosa
O
Lar Infantil Marília Barbosa é um
Departamento do Centro Espírita Allan
Kardec. Tem personalidade jurídica
própria e está registrado no CNPJ sob nº
78.302.650/0001-89, com sede à Rua
Dinamarca, 1.288, em Cambe - PR, com
edificação no mesmo terreno onde
funciona o Centro.
Quando se fala nessa abençoada e sempre
sólida instituição, mister se faz
lembrar de dois verdadeiros Atlas (gigante
que carregava a Terra e o Firmamento nas
costas) da caridade, responsáveis pelo
sucesso ininterrupto há meio século:
Luiz Picinin e Hugo Gonçalves.
Luiz Picinin, seu idealizador e
fundador, tinha ascendência paterna
italiana e materna alemã. Nasceu em
Taquaritinga-SP, em 6 de janeiro de
1919. A partir dos 15 anos de idade,
tomou gosto pela leitura de livros
espíritas, abraçando a Doutrina. Aportou
em Cambé em 1942, procedente de sua
cidade natal. Enfrentou muitas
dificuldades em razão dos preconceitos
de que padeciam os alemães e italianos,
por causa da guerra. Tal qual Hugo, que
passou sua adolescência e boa parte da
mocidade em duríssimo labor, Picinin
trabalhou arduamente em serviços
pesados. Trabalhando como saqueiro em
uma máquina de café, não tardou, muito
inteligente e dinâmico que era, a
idealizar um negócio próprio, com seus
colegas: abriram uma beneficiadora.
Picinin sugeriu e todos os sócios
aceitaram em destinar 20% dos lucros
para obras assistenciais.
Por influência dele, a maioria se tornou
espírita. O espiritismo também em Cambé
não era bem visto pela população, fato
que atrapalhava o negócio. Mesmo assim,
não houve desânimo. Ao contrário,
Picinin e seus companheiros resolveram
fundar um Centro e posteriormente um
albergue noturno. Quando Picinin chegou
a Cambé, muitas famílias de imigrantes,
desprovidas de quaisquer recursos,
ficavam amontoadas na praça central,
dormindo ao relento, até conseguirem
alguma colocação.
Em uma noite de frio intenso, uma
criança morreu enregelada. Esse fato
trágico calou fundo na alma sensível de
Picinin. Em visita à cidade de Nova
Iguaçu-RJ, conheceu uma instituição
dirigida por Leopoldo Machado, a qual
abrigava crianças desamparadas. Uma
imagem lhe ficou sempre viva na mente,
pela generosidade e disposição para
aquele trabalho: dona Marília Barbosa,
professora e dedicada esposa de
Leopoldo. Entusiasmado, Picinin e seus
amigos espíritas resolveram criar, em
Cambé, uma instituição semelhante àquela
que tanto o encantara.
Aí nasceu a ideia do Lar que não
tardaria a florescer. Foi inaugurado, em
sede própria, no dia 29 de março de
1953. Após poucos meses, Hugo passou a
dirigi-lo, contando com a colaboração
essencial e o trabalho heroico e
incansável de dona Dulce, sua saudosa
esposa. Nesse meio século por ali
passaram, em regime de internato, mais
de 300 meninas.
A maioria chegou em tenra idade, saindo
somente pelo casamento ou após adquirir,
por profissão ou emprego, condições do
próprio sustento. O Lar
Infantil Marília Barbosa, em razão
dos relevantes serviços que vem
prestando à comunidade, desde sua
fundação, é municipal, estadual e
nacionalmente reconhecida como de
utilidade pública. Para tanto, Hugo
Gonçalves não mediu esforços e contou
com o apoio da classe política. O Lar
sobrevive de doações que generosamente
lhe são dispensadas.
Creche
Além
do internato, o Lar mantém uma bem
organizada creche com todos os
requisitos indispensáveis ao
desenvolvimento físico e mental das
crianças, em número nunca inferior a 70.
Clube das Mães
Há
vários anos um grupo de senhoras vem
prestando relevantes serviços ao Centro
e ao Lar. São costureiras voluntárias
que se revezam, de sorte que todos os
dias há algumas trabalhando em sala
apropriada. Fazem e reformam roupas para
as internas do Lar, para as crianças da
creche, bem como para os recém-nascidos
de famílias carentes, nas maternidades
de Cambé. Os materiais são adquiridos
com recursos do Lar. Há também doações.
Gabinete Dentário
Também, há vários anos, o Centro
Espírita Allan Kardec mantém
um gabinete dentário em suas
dependências. Todos os equipamentos,
inclusive cadeira, foram doados por
terceiros. O atendimento é feito por
dentistas formados, do quadro de
servidores do município, o qual fornece,
também, os materiais necessários. Ali
são regularmente atendidas todas as
crianças.
Atendimento Médico
Embora contando com um consultório
próprio, geralmente os atendimentos são
feitos nos consultórios dos médicos.
Isso em razão dos maiores recursos e
maior comodidade dos profissionais que
atendem gratuitamente todas as crianças
da creche e internas do Lar. Toda a
classe médica de Cambé colabora. Não há
nenhum caso de recusa de atendimento às
solicitações de Hugo Gonçalves. Quando
há necessidade de tratamento mais
especializado, os pacientes são
encaminhados pelos próprios médicos aos
colegas de Londrina, sem nenhum custo.
Se os médicos não têm, em seus
consultórios, amostras grátis dos
remédios, estes são comprados pela
Entidade.
Cestas de Alimentos
Todos os sábados, ininterruptamente, o Centro
Espírita Allan Kardec distribui
cerca de 100 cestas de alimentos para
famílias carentes, com predominância de
produtos hortifrutigranjeiros. Antes da
distribuição, as pessoas que ali
acorrem, em busca de alimentos para o
corpo, recebem alimentos para a alma.
Ouvem, no auditório, ensinamentos
doutrinários. A presença não é condição
para o recebimento das cestas, mas todas
as pessoas, professando religiões
diversas, ouvem com atenção as lições
evangélicas, à luz do Espiritismo.
O
IMORTAL
Esse
jornal é um capítulo importante na vida
de Hugo Gonçalves. Circula no Brasil
inteiro, chegando também a alguns outros
países. Discretamente, mas chega.
Circula ininterruptamente desde dezembro
de 1953. Em algumas ocasiões, quando
pessoas foram visitar Chico Xavier,
disse o venerado Apóstolo do Mestre, ao
se identificarem como moradores de
Cambé: "Ah!, de Cambé, a terra de Hugo e
do Imortal?
Chico era um assíduo leitor. As
propagandas e o produto das assinaturas
têm dado, frequentemente com déficit,
apenas para cobertura das despesas de
edição e postagem. Seja você, amigo
leitor, também um assinante desse jornal
do futuro, como o classificou
Cairbar Schutel, em manifestação
mediúnica. A assinatura pode ser
solicitada à caixa postal 63, em Cambé,
ou telefonando para (043) 254-3261. O
e-mail é: jornalimortal@onda.com.br
Albergue Noturno
O
albergue noturno foi também ideia de
Luiz Picinin e cuja direção foi passada
a Hugo Gonçalves, juntamente com o Lar.
Funcionou desde 1942 até a década de 70,
sendo desativado em razão da paulatina
ausência de usuários.
No escritório de Hugo há um vetusto
livro, bastante marcado pelo intenso
manuseio que teve, onde eram registradas
as entradas de usuários do albergue. Na
última folha utilizada, consta a entrada
de Laudelina Cândida Talara, que recebeu
o nº 46.233. Esse teria sido o número de
pessoas (as registradas) atendidas no
albergue noturno fundado por Luiz
Picinin e carinhosamente mantido por
Hugo Gonçalves, até o último dia de
funcionamento.
Coral
O Coral
Hugo Gonçalves foi
criado em 3 de agosto de 1997 e, desde
então, apesar de todas as dificuldades,
principalmente financeiras, vem
desenvolvendo suas atividades com muita
pujança e brilho. Cada apresentação é um
sucesso, arrancando calorosos aplausos
dos auditórios. Em seu vasto repertório
estão músicas de cunho religioso e
também de natureza popular e folclórica.
Muitas peças encerram um conteúdo
doutrinário, com ensinamentos cristãos.
A regência está a cargo do competente
maestro José Mário Tomal. O Coral já fez
apresentações em vários Estados e
participou de muitos festivais e
encontros de Corais, com grupos até
estrangeiros, obtendo singulares
destaques. Recentemente fez uma pequena
temporada no nordeste, cantando com
muito êxito em Maceió e Salvador. Na
capital soteropolitana, a apresentação
foi na magnífica Mansão
do Caminho, recebendo altos elogios
de Divaldo Franco. Em razão das
dificuldades financeiras já esteve
várias vezes à beira da extinção. Como
cada integrante paga uma cota de
manutenção, hoje o número está reduzido
a menos da metade. Mesmo assim vai em
frente, transmitindo a todos muita
alegria, enlevamento e paz.
Sexteto
Além
do Coral, o Centro Espírita Allan Kardec
conta com um grupo musical (ainda sem
nome, mas que ficaria bem sendo chamado Sexteto
Hugo Gonçalves) composto por 6
integrantes doCoral que
se apresenta nas reuniões noturnas de 4ª
feira, cantando músicas exclusivamente
de cunho religioso. Não dispõe de um
maestro, mas é orientado por Wilson, um
dos integrantes, com seu conhecido
violão. Um grupo bem afinado que prepara
o ambiente para os trabalhos de
doutrinação, esparzindo eflúvios de paz
com seus cânticos suaves.