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Maria Dolores
1900 - 1959
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Maria Dolores veio ao mundo como Maria
de Carvalho Leite, na cidade
sertaneja de Bonfim de Feira
(BA), no dia 10 de setembro de
1900, filha de Hermenegildo
Leite, escrivão da Prefeitura, e
da doméstica Balbina de Carvalho
Leite. Em Bonfim passou a
infância. Do casal Hermenegildo
e Balbina nasceram, com Dolores,
três homens e duas mulheres. Os
biógrafos, sem exceção,
desconheceram o fato de que a
grande poetisa baiana possuía
dotes mediúnicos.
Em 1916, diplomou-se professora
pelo Educandário dos Perdões,
considerada pelas colegas e
professores como adolescente
prodígio, graças à rara
inteligência.
A poesia, Dolores começou a
senti-la na cidade natal, ainda
quase criança, a transformar-se,
mais tarde, na poetisa de bons
versos que todos conhecemos.
Lecionou no Educandário dos
Perdões e no Ginásio Carneiro
Ribeiro, em Salvador. Além
disso, também ministrava aulas
particulares. Daí por que
entendemos seu modo todo
especial de ensinar, por meio
dos versos, às almas aflitas.
Seu Espírito não se limitou
somente aos versos. Ela tocava
piano, pintava, gostava da
costura e da arte culinária.
Humana por excelência, viveu
desenvolvendo em si qualidades
inatas.
Sua vida não poderia, porém, ser
somente flores: estava-lhe
reservada uma prova de
sofrimentos morais.
Casada com o médico Odilon
Machado, suportou o infeliz
consórcio durante alguns anos, o
qual se interrompeu finalmente
pela solução do desquite. Não
houve filhos dessa união, como
nunca os teria Maria Dolores.
Em sua peregrinação, morou em
várias cidades da Bahia e foi em
Itabuna que conheceu Carlos
Carmine Larocca, italiano
radicado no Brasil, de quem se
tornou companheira ajudando-o,
ombro a ombro, em suas
atividades. Proprietário
do Café Baiano e de uma
tipografia denominada A
Época. Por
ocasião da II Guerra Mundial, o
Sr. Larocca foi prisioneiro
político devido à sua
nacionalidade. Em 1947, mudou-se
para Salvador, onde Maria
Dolores continuou com suas
sessões mediúnicas.
Notamos em seus versos o quanto
sofrera, buscando algo que não
encontrava: a sua complementação
afetiva, tal como fora planejado
pela Providência, para que
buscasse o Amor Maior, que ela
soube encontrar um dia: Jesus!
Tanto sofrimento, contudo, não
foi capaz de torná-la
indiferente ao sofrimento
humano.
Na imprensa, falava dos direitos
humanos e do sofrimento dos
menos felizes. Não foi
compreendida: tacharam-na de
"comunista", pelo que teve de
responder às acusações que lhe
faziam, pois fora a isso
intimada.
Em menina, fora católica; em
adulta, o sofrimento fizera-lhe
conhecer a Doutrina de Allan
Kardec e veio a consolação, a
aceitação do sofrimento.
A dor que suportou a fez
conhecer o então combatido
Espiritismo. De alma caridosa
integrou-se à Legião
da Boa Vontade, fundada pelo
saudoso Alziro Zarur. Era
frequente ver-se Maria Dolores
dedicando-se aos sofredores dos
bairros pobres da cidade de
Salvador. Afastando-se das lides
literárias, Maria Dolores
dedica-se, então, à caridade
infatigável, criando meninas,
sonhando edificar o Lar
das Meninas sem Lar.
Receando a apreciação da crítica
especializada, guardou para si
sua obra poética durante muito
tempo, segundo confessa no
prefácio do livro Ciranda
da Vida, cuja renda
possibilitou a realização de seu
antigo desejo. Com isso, Maria
Dolores, que não fora mãe
biológica, tornava-se mãe
espiritual de várias meninas,
abrigando em seu próprio lar
crianças desvalidas, orientando e
assistindo-as.
Sendo reconhecida na Capital
pela sua arte, passou a escrever
nos jornais Diário
de Notícias e O
Imparcial sendo,
neste último, redatora-chefe da Página
Feminina. Durante 13 anos,
escreveu nos jornais citados,
mostrando o mundo de ternura que
trazia dentro de si, com o
pseudônimo de Maria
Dolores.
Apelidada pelos amigos e
familiares de Madô e Mariinha,
era reconhecida pela simpatia e
bondade com que a todos
cativava.
Fazia campanhas, prendas para os
bazares realizados em sua
própria casa. Fundou um grupo
que se reunia em sua residência
todas as semanas, quando saíam
para distribuir, nos bairros
carentes escolhidos, farnéis,
roupas, remédios... Chamavam-se As
Mensageiras do Bem. No
Natal, faziam campanhas e
distribuíam donativos assim como
no Dia das Mães.
Dolores costurava enxovais,
vendia o que era seu ou os
empenhava e, às vezes, contraía
dívidas para desse modo ajudar
alguém. Uma de suas filhas
adotivas relatou certa vez que,
quando ela desencarnou, alguém
viera com joias que lhe
pertenceram, as quais foram
dadas por ela para que se
tornasse viável uma das
campanhas que então se fazia.
No trabalho do Senhor, na
dedicação à causa evangélica,
foi desenvolvendo diversas
faculdades mediúnicas. Isso a
ajudou a suportar injúrias, como
quando fora acusada de
"comunista", e outros
sofrimentos que, em vez de
abaterem-na, elevavam-na.
Perdoando sempre por cima de
suas lágrimas, qual ensinou
Jesus, trazia
em si um grande sentido maternal
e, como não lhe foi dado o
direito da maternidade, adotou
seis meninas.
Carlos (o esposo) estava na
Itália quando Dolores adoeceu. A
pneumonia a atacara de forma
violenta. Antonieta
Bastos foi visitá-la com José e
Faustino e, vendo seu estado
dispneico e de real abatimento,
providenciaram o internamento no
Hospital Português. Inúteis
foram, porém, os esforços
médicos. Poucos dias depois,
quatro ou cinco dias, em 27 de
agosto de 1959, partiu de volta
à Pátria Espiritual. Era 1h40
min. E, como disse Mara, em sua
crônica, Partiu-se
o Guizo de Cristal. Nilza
foi avisar, imediatamente,
Antonieta e Maria Alice. Levaram
o corpo para a Casa
de Tia Sara − sede
da LBV − e
de lá partiu, com grande
acompanhamento, para o Campo
Santo.
Numa carta escrita a Maria
Alice, Francisco Cândido Xavier
narra o seguinte: Maria
Dolores lhe aparecera no dia 29
de março de 1964, bela e
remoçada. As lágrimas vieram-me
aos olhos, de vê-la tão
claramente junto a mim. Que
emoção!
Dolores era alva, de cabelos e
olhos pretos, alegre e
brincalhona, de estatura mediana
e robusta de físico.
Desencarnara aos 59 anos, mas a
sua lira continuou vibrando em
benefício do amor, da caridade e
do perdão, o seu hino ao Senhor,
não diferente dos hinos que
tocava e cantava cheia da
alegria de servir.
Perguntaram a Chico Xavier qual
o primeiro poema que Maria
Dolores escreveu por seu
intermédio, e ele disse ser o
belíssimo Anseio
de Amor, inserido nas
páginas deAntologia da
Espiritualidade.
Desde então, ela nos envia,
antes pelas mãos abençoadas do
médium mineiro e ainda por
intermédio de Divaldo Franco,
suas páginas normalmente em
forma de poesia e rimas, sendo
muito comum enviar as
tradicionais mensagens das mães
e do Natal, por ocasião dessas
comemorações.
Maria Dolores, a poetisa que
ressurgiu pelas mãos abnegadas
de Francisco Cândido Xavier,
quando encarnada quase sempre
engavetava os seus poemas. Em
seu livroCiranda da Vida ela
diz o porquê: O
pavor à crítica, cujos apupos
são uma das formas mais comuns
em que se extravasa a vaidade
humana, tem-me feito recuar ante
a possibilidade de publicar os
meus versos simplórios e
passadistas. E, por isso, foi-se
a mocidade, chegou a velhice, e
eles continuam a entulhar o
fundo de velha gaveta. Nunca
tive jeito para versejá-lo
moderno, atualizado até por
alguns poetas da velha guarda.
Nem mesmo cheguei a tentá-lo.
Agora, porém, com a reforma
espiritual que traçou um novo
caminho para este meu fim de
vida, sinto-me disposta e capaz
de enfrentar a crítica, porque
este livro se destina, com sua
venda, a oferecer pequena ajuda
a algumas instituições de
caridade. Despretensiosa a minha
atitude. Mas sincera. Bem
intencionada.
Não tardou, porém, e a poetisa
reaparece com seu iniludível
estilo depois de uma existência
inteira consagrada ao próximo,
compondo, sobretudo para os
leitores espíritas, os mais
belos poemas de encorajamento e
reconhecimento da excelsitude de
Jesus.
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