Partida e
chegada
Toda semana o nosso Jornal Correio de Capivari
anuncia a partida de vários capivarianos de retorno à
vida espiritual, na sua coluna falecimentos.
Imortalidade da alma – qual a sorte dos homens depois da
sepultura?
Segundo a doutrina niilista, sendo a matéria a única
fonte do ser, a morte é considerada o fim de tudo.
De acordo com a doutrina panteísta, o Espírito, ao
encarnar, é extraído do todo universal. Individualiza-se
em cada ser durante a vida e volta, com a morte, à massa
comum.
De maneira geral, cristãos, islâmicos e judeus acreditam
que após a morte há a ressurreição.
Já a doutrina espírita, também cristã, demonstra a
continuação da vida no plano espiritual após a morte do
corpo físico. E explica pela reencarnação que Deus abre
novas possibilidades para o Espírito no futuro retornar
em novo corpo, para continuar o processo de evolução.
Aqueles que praticam o bem, evoluem mais rapidamente.
Os que praticam o mal, recebem novas oportunidades de
melhoria através das inúmeras reencarnações. Portanto,
creem na imortalidade e na individualidade da alma e na
existência de Deus, mas não como Criador de pessoas boas
ou más. Deus criou os Espíritos simples e ignorantes,
sem discernimento do bem e do mal. Quem constrói o céu e
o inferno é o próprio homem em seu interior.
Gosto muito deste pensamento do poeta francês Victor
Hugo (1802/1885): – Quando estiver no túmulo poderei
dizer, como tantos outros: ‘Terminei minha jornada’ e
não ‘terminei minha vida’. Minha jornada recomeçará no
outro dia, de manhã. O túmulo não é um labirinto sem
saída; é uma avenida, que se fecha no crepúsculo e volta
a abrir na aurora.
Gosto muito dessa mensagem que é sempre comentada e não
tem um autor identificado que compara a partida e a
chegada para a Pátria espiritual.
Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da
costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa
matinal, estamos diante de um espetáculo de rara beleza.
O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai
ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno
ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o
céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte,
certamente exclamará: “Já se foi”. Terá sumido?
Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.
O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma
capacidade que tinha quando estava próximo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de
destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou,
apenas não o podemos mais ver.
Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em
que alguém diz “já se foi”, haverá outras vozes, mais
além, a afirmar: “Lá vem o veleiro”!!!
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um
amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que
separa o visível do invisível, dizemos: “Já se foi”.
Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o
perdemos de vista. Na verdade são invisíveis e não
ausentes.
O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas e
afeições persistem na nova dimensão espiritual.
Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais
se necessita. E é assim que, no mesmo instante em que
dizemos “já se foi”, no Além, outro alguém dirá: “Já
está chegando”. Chegou ao destino levando consigo as
aquisições feitas durante a vida.
Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de
afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se
do que julgar desnecessário ou incômodo.
A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros
é a chegada. Retorno ao que escreveu o poeta francês
Victor Hugo: – O berço tem um ontem e o túmulo um
amanhã.
Assim, um dia, todos nós partimos como seres imortais
que somos, ao encontro d’Aquele que nos criou.
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é editor da Editora
EME.