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por Bruno Abreu

Afinal, quem “manda”?!

Diz-nos a Espiritualidade, em O Livro dos Espíritos, que nosso livre-arbítrio vai aumentando em paralelo ao crescimento da moral, que no estágio atual em que vivemos muitas das vezes somos influenciados de tal forma, que somos dirigidos.

Para quem acha que é Dono de sua vida, e penso que sejamos a maioria, perto do máximo percentual, isto nos parece uma afirmação absurda. Em certo tempo perguntei-me como seria possível?

Normalmente nós vemos a Lei de Ação - Reação, ou Causa -  Efeito, como queiramos chamar, externamente a nós. Tudo o que fazemos tem um retorno a nós próprios; se for negativo, iremos sofrer da mesma forma por desconhecermos o sofrimento que causamos aos outros, se for positivo, nos trará algo de bom, instantaneamente ou mais tarde.

Por que falo na Lei Ação e Reação num tema de livre-arbítrio?

Será que nós agimos ou reagimos? São duas coisas totalmente diferentes. A primeira é fruto de uma escolha porque se baseia em uma nova ação, a segunda é uma resposta automatizada por um determinado conhecimento com base nas experiências de um passado, não trazendo nada de novo.

Quando alguém nos maltrata nasce em nós a agressividade, este instinto ligado ao instinto de sobrevivência com um funcionamento completamente errado para a época em que vivemos; é herança dos tempos primitivos de quando éramos atacados e ficávamos em perigo existencial, e, como tal, a resposta necessária era a agressividade para podermos defender nossa vida em um mundo primitivamente agressivo. Com o passar do tempo, pudemos verificar que o mais agressivo era o mais forte, o mais respeitado; podemos ver isto no National Geographique em quase todas as espécies animais. Nos humanos, ainda podemos constatar através das nações que acumulam armamento para criarem a figura do País mais forte; no ser individual, em tempos correntes serve para defender uma imagem de honra ligada ao orgulho. Esta agressividade nasce instintivamente e torna-se uma reação quando acuamos com base nela, onde não temos qualquer escolha, porque a escolha seria manter a calma e, quando esta acontece e vemos os malefícios de um sistema nervoso alterado, desestruturando o corpo biológico e mental, trazendo consequências nefastas a nós e aos outros, não queremos voltar atrás e dizer “vou ficar agressivo”.

Será que existe livre-arbítrio nesta reação? Podemos dizer que agi agressivamente porque quis? Se alguma vez agiram desta forma, relembrem-se de como foi, se houve alguma escolha na ação, ou se simplesmente seguiram um caminho automatizado de resposta, levando-os por vezes ao arrependimento do ato.

Na verdade, ninguém escolhe agir de forma errada, seja pela agressividade, pelo egoísmo, pelo orgulho etc. Estes fazem parte da ignorância do ser, orquestrados pelos instintos da individualização, permitida pelo Ego, em resposta à procura dos benefícios próprios pela educação Egoísta da nossa sociedade terrena.

Até tenra idade, antes da adolescência, captamos todos os ensinamentos de nossa família e sociedade, formamos um ser de caráter aceitável socialmente. Conforme a idade passa, aprendemos a reagir e construímos nossa vida nessa forma de (re)ação. A cada situação nova imitamos o nosso passado, tendo o cuidado de analisar em nosso conhecimento qual a melhor forma de ultrapassar a situação, e reagimos. Não conseguimos sair dos nossos limites mentais porque para isso é necessária uma humildade enorme de dizer que não sabemos, são raras as vezes que conseguimos descer as escadas da humildade, porque nos assusta, abalando a nossa estrutura de autoconfiança e deixando-nos completamente desnorteados.

Se a nossa vida é preenchida e estruturada por reações ligadas aos instintos impulsionantes para o ato, será que nós utilizamos o nosso livre-arbítrio?

Disse um sábio da antiguidade que o verdadeiro sábio é aquele que consegue criar tempo entre o pensamento e a ação. Não sei se fará de nós sábios, mas, pelo menos, diminui o percentual de reação, dando-nos tempo de escolher a forma como vamos agir.

Vigiemos os pensamentos,  e criemos tempo para “mandar” em nossa vida  fazendo frente aos nossos instintos de reação!
 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita