Afinal, quem
“manda”?!
Diz-nos a Espiritualidade, em O Livro dos Espíritos,
que nosso livre-arbítrio vai aumentando em paralelo ao
crescimento da moral, que no estágio atual em que
vivemos muitas das vezes somos influenciados de tal
forma, que somos dirigidos.
Para quem acha que é Dono de sua vida, e penso que
sejamos a maioria, perto do máximo percentual, isto nos
parece uma afirmação absurda. Em certo tempo
perguntei-me como seria possível?
Normalmente nós vemos a Lei de Ação - Reação, ou Causa
- Efeito, como queiramos chamar, externamente a nós.
Tudo o que fazemos tem um retorno a nós próprios; se for
negativo, iremos sofrer da mesma forma por
desconhecermos o sofrimento que causamos aos outros, se
for positivo, nos trará algo de bom, instantaneamente ou
mais tarde.
Por que falo na Lei Ação e Reação num tema de
livre-arbítrio?
Será que nós agimos ou reagimos? São duas coisas
totalmente diferentes. A primeira é fruto de uma
escolha porque se baseia em uma nova ação, a segunda é
uma resposta automatizada por um determinado
conhecimento com base nas experiências de um passado,
não trazendo nada de novo.
Quando alguém nos maltrata nasce em nós a agressividade,
este instinto ligado ao instinto de sobrevivência com
um funcionamento completamente errado para a época em
que vivemos; é herança dos tempos primitivos de quando
éramos atacados e ficávamos em perigo existencial, e,
como tal, a resposta necessária era a agressividade
para podermos defender nossa vida em um mundo
primitivamente agressivo. Com o passar do tempo,
pudemos verificar que o mais agressivo era o mais
forte, o mais respeitado; podemos ver isto no National
Geographique em quase todas as espécies animais. Nos
humanos, ainda podemos constatar através das nações que
acumulam armamento para criarem a figura do País mais
forte; no ser individual, em tempos correntes serve para
defender uma imagem de honra ligada ao orgulho. Esta agressividade nasce instintivamente e torna-se uma
reação quando acuamos com base nela, onde não temos
qualquer escolha, porque a escolha seria manter a calma
e, quando esta acontece e vemos os malefícios de um
sistema nervoso alterado, desestruturando o corpo
biológico e mental, trazendo consequências nefastas a
nós e aos outros, não queremos voltar atrás e dizer “vou
ficar agressivo”.
Será que existe livre-arbítrio nesta reação? Podemos
dizer que agi agressivamente porque quis? Se alguma vez
agiram desta forma, relembrem-se de como foi, se houve
alguma escolha na ação, ou se simplesmente seguiram um
caminho automatizado de resposta, levando-os por vezes
ao arrependimento do ato.
Na verdade, ninguém escolhe agir de forma errada, seja
pela agressividade, pelo egoísmo, pelo orgulho etc.
Estes fazem parte da ignorância do ser, orquestrados
pelos instintos da individualização, permitida pelo Ego,
em resposta à procura dos benefícios próprios pela
educação Egoísta da nossa sociedade terrena.
Até tenra idade, antes da adolescência, captamos todos
os ensinamentos de nossa família e sociedade, formamos
um ser de caráter aceitável socialmente. Conforme a
idade passa, aprendemos a reagir e construímos nossa
vida nessa forma de (re)ação. A cada situação nova
imitamos o nosso passado, tendo o cuidado de analisar em
nosso conhecimento qual a melhor forma de ultrapassar a
situação, e reagimos. Não conseguimos sair dos nossos
limites mentais porque para isso é necessária uma
humildade enorme de dizer que não sabemos, são raras as
vezes que conseguimos descer as escadas da humildade,
porque nos assusta, abalando a nossa estrutura de
autoconfiança e deixando-nos completamente desnorteados.
Se a nossa vida é preenchida e estruturada por reações
ligadas aos instintos impulsionantes para o ato, será
que nós utilizamos o nosso livre-arbítrio?
Disse um sábio da antiguidade que o verdadeiro sábio é
aquele que consegue criar tempo entre o pensamento e a
ação. Não sei se fará de nós sábios, mas, pelo menos, diminui o percentual de reação, dando-nos tempo de
escolher a forma como vamos agir.
Vigiemos os pensamentos, e criemos tempo para “mandar”
em nossa vida fazendo frente aos nossos instintos de
reação!