Fecharam a porta
do céu?
Antes de entrarmos propriamente a cogitar sobre a
pergunta do artigo, vamos fazer algumas considerações.
Creio que, senão todos, a maioria dos leitores já viu um
tigre em zoológico. É um animal solitário, talvez
mal-humorado. O macho só se aproxima da fêmea na
época reprodutiva. Alguém teria coragem de entrar na
jaula de um animal desses que tivesse ficado trinta dias
sem comer nada?
Da mesma forma acreditamos que todos já viram um leão e
uma leoa enjaulados. Alguém teria coragem de entrar
nessa prisão se esses animais estivessem um mês sem
comer?
Vamos agora para o exemplo do urso. Quando fica em
posição de ataque, atinge cerca de três metros de
altura. De largura não sei, mas deve ser uma medida para
mais de metro. Alguém teria coragem de ficar na frente
dele se o animal estivesse em jejum prolongado?
Pois é. Agora vamos à pergunta acima: será que fecharam
a porta do céu? Sim, porque já não se vê mais um cego
ser curado, um surdo voltar a ouvir ou um mudo a falar,
um leproso a quem tenha-se devolvido a saúde sem o uso
da medicação adequada. Isso só para citar enfermidades
conhecidas na época em que Jesus esteve em um corpo
físico entre os homens. E então? Por que hoje em dia,
após mais de dois mil anos de Cristianismo, não se vê
esses acontecimentos que deixavam boquiabertos os homens
daquela época?
É só lembrarmos que os cristãos entravam na arena onde
os animais acima citados estavam famintos à espera deles
para encontrarmos a resposta. Isso sem falar nas
fogueiras, decapitações, caldeirões com óleo fervendo,
esquartejamento e tudo o mais que a maldade humana é
capaz de criar para supliciar o seu semelhante. Sim!
Hoje não temos mais a fé dos primeiros trezentos anos da
era cristã!
As portas do céu não se fecharam, foi nossa fé que ainda
não atingiu o grão de mostarda, não produzindo a força
de atração necessária ao socorro que existiu naquele
tempo e que continua existindo.
Leiamos Emmanuel no livro Vinha de Luz, na lição
intitulada Em que perseveras: “Asseveram muitos
que o Céu estancou a fonte das dádivas, esquecendo-se de
que a generalidade dos crentes entorpeceu a capacidade
de receber.
Onde a coragem que revestia corações humildes, à frente
dos leões do circo? Onde a fé que punha afirmações
imortais na boca ferida dos mártires anônimos? Onde os
sinais públicos das vozes celestiais? onde os leprosos
limpos e os cegos curados?
A Providência Divina é invariável em todos os tempos.
A atitude dos cristãos, na atualidade, porém, é muito
diferente. Raríssimos perseveram na doutrina dos
apóstolos, na comunhão com o Evangelho, no espírito de
fraternidade, nos serviços de fé viva.
A Bondade do Senhor é constante e imperecível.
Reparemos, pois, em que direção somos perseverantes”.
Podemos concluir, portanto, que a porta do céu não se
fechou. Continua aberta como sempre. Mas os braços que
se elevam em direção a ela são braços ausentes do
serviço na obra do bem ao próximo.
As vozes que se elevam para suplicar permanecem mudas
diante daquele necessitado de uma palavra de bom ânimo.
Os olhos que buscam o Alto são cegos diante da
necessidade alheia.
O coração que busca socorro é frio e indiferente para
com a dor do outro.
A fé que enfrentava os tipos de sofrimentos terríveis
daquela época, em que os cristãos eram caçados para
iluminar o circo romano, dorme na indiferença do
egoísmo.
Não somos capazes de entrar na jaula do animal faminto
nos dias de hoje como não somos capazes de entrar na
casa onde a dor fez morada.
Não enfrentamos as fogueiras de outrora, mas
incendiamos a vida alheia alimentando as maledicências.
Não padecemos pregados a uma cruz, mas crucificamos o
próximo na cruz de nossas exigências.
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão
e no partir do pão e nas orações.” – (Atos, 2:42)
Em que perseveramos nós para que a porta do Céu não
conceda os prodígios de outros tempos?