Lidando com os
fracassos
Quem nesse mundo de Deus já não passou, ao menos uma
única vez, pela experiência do fracasso? Se há alguém
que não a “saboreou”, então, aguarde, pois ela mais
cedo ou mais tarde o atingirá. E nem poderia ser
diferente considerando que o revés sempre traz algo novo
a ser assimilado. Em consequência disso, precisamos
viver o fracasso para evoluir. Esse tema não foi
desprezado por Allan Kardec, que o endereçou
apropriadamente aos Espíritos, conforme se lê na questão
862 de O Livro dos Espíritos, ou seja: “Pessoas
existem que nunca logram bom êxito em coisa alguma, que
parecem perseguidas por um mau gênio em todos os seus
empreendimentos. Não se pode chamar a isso fatalidade?
Será uma fata-lidade, se lhe quiseres dar esse nome, mas
que decorre do gênero da existência escolhida. É que
essas pessoas quiseram ser provadas por uma vida de
decepções, a fim de exercitarem a paciência e a
resignação. Entretanto, não creias seja absoluta essa
fatalidade. Resulta muitas vezes do caminho falso que
tais pessoas tomam, em discor-dância com suas
inteligências e aptidões. Grandes probabilidades têm de
se afogar quem pretender atravessar a nado um rio, sem
saber nadar. O mesmo se dá relativamente à maioria dos
acontecimentos da vida. Quase sempre obteria o homem
bom êxito, se só tentasse o que estivesse em relação com
as suas faculdades. [...]”.
Portanto, evidencia-se claramente aqui que nem tudo de
ruim que nos acontece se deve necessariamente à nossa
programação reencarnatória estabelecida pela
espiritualidade. Há igualmente outros fatores que
influenciam as nossas decisões e que podem ter um peso
considerável nos eventos subsequentes. É preciso, assim,
ter discernimento para julgar as coisas que se sucedem
em nossas vidas, e entender as causas de certas
dificuldades e problemas que nos afligem.
Em assim procedendo perceberemos que, em muitos casos,
eles se devem simplesmente à nossa imprudência, aliás,
como sugeriram os Espíritos na resposta acima. Às vezes,
superestimamos as nossas potencialidades. Em outras
ocasiões julgamo-nos livres de reveses de qualquer
natureza como se tal coisa fosse possível na Terra e, em
especial, no estágio evolutivo em que nos encontramos.
Vale mencionar ainda aquelas decisões e op-ções que as
pessoas tomam baseadas na pura emoção do momento e sem
maior espaço à análise criteriosa, racionalidade ou
sabe-doria. Enfim, a lista de desatinos é extensa, mas
nem sempre os observamos como deveríamos e, assim, fica
mais fácil culpar a Deus pela nossa “má sorte”.
Para ilustrar o raciocínio é pertinente lembrar que uma
das dimensões mais delicadas da vida contemporânea diz
respeito às iniciativas tomadas pelos empreendedores.
Afinal de contas, não são poucas as pessoas pressionadas
a seguir esse caminho, até por conta da escassez de bons
empregos. Não raro o cidadão dedica todos os seus
recursos financeiros à execução de um projeto ou ideia.
É a busca de realização de um sonho na vida material: a
suposta independência.
Um estudo recente publicado no Journal of Management,
Spirituality & Religion lançou um pouco mais de luz
sobre esse assunto. Pesquisadores neozelandeses
investigaram como a percepção espiritual – interpretada
como a consciência in-terna de uma força maior ou poder
além do self individual – afetou a
experiência de empreendedores em lidar com o fracasso.
Os resultados foram muito interessantes à medida que
revelaram um grau considerável de consciência
espiritual dos respondentes. Os autores identificaram
dois grandes temas, a saber, profundo engajamento
com o fracasso e aprofundamento da
espiritualidade através do fracasso. No primeiro
caso, os achados identificaram como subtemas: a
percepção do fracasso como parte de um plano maior, enxergando-se além do self, e engajamento com o
fracasso devido à espiritualidade. No segundo caso, os
subtemas que emergiram foram: tomar uma ação positiva,
tornando-se mais autoconsciente, obtendo um novo
significado do fracasso e assumindo responsabilidade
pelos erros.
Entre outras coisas, o estudo sugeriu como primeira
implicação das descobertas o entendimento de que a noção
de espiritualidade – fortemente revelada pelos
respondentes ao seu modo e jeito – oferece uma
alternativa para o quadro psicológico de recuperação do
fracasso. Em segundo lugar, as evidências coligidas
sugeriram também que espiritualidade pode proporcionar
aprendizado, particularmente quando os empreendedores
mergulham portas adentro da alma e reconhecem a sua
contribuição pessoal para o fracasso dos seus negócios.
No geral, esses resultados condu-zem às pertinentes
observações dos Espíritos a respeito. Na obra
Cora-gem (psicografada por Francisco Cândido
Xavier), o Espírito André Luiz observa: “Fracassos? Não
acre-dite em derrotas. Lembre-se de que, pela bênção de
Deus, você está agora em seu melhor tempo – o tempo de
hoje, no qual você pode sorrir e recomeçar, renovar e
servir, em meio de recursos imensos”.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, o Espírito
Emmanuel
(no mesmo livro) pondera que “Fracassos de
hoje são lições para os acertos de amanhã”. Assim sendo,
quando temos um olhar mais crítico sobre nós mesmos
podemos extrair precisas conclusões sobre o nosso ser.
Aprendendo a melhor nos conhe-cer tenderemos a errar
menos. E desenvolvendo a nossa espiritualidade
haveremos de compreender o que pode estar atrás de
certos eventos que nos atingem de maneira aparentemente
negativa.