Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do
livro Sexo e Obsessão, obra de autoria de Manoel
Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco
e publicada originalmente em 2002.
Questões preliminares
A. Na entrevista
com padre Mauro, o Bispo chegou a fazer considerações
acerca da reencarnação?
Sim. Disse ele que não
poucas vezes, nos seus devaneios espirituais, perguntara
a si mesmo se uma existência única seria suficiente para
alcançar-se a meta, para adquirir-se a sabedoria, para
conquistar a plenitude. Eis palavras ditas por ele ao
padre Mauro: “Como poderia Deus exigir de pessoas
diferentes, portadoras de valores diversos, resultados
idênticos? Como entender a salvação dos réprobos morais,
que já nasceram assinalados pelas deformidades do
caráter, ou vitimados pelas heranças genéticas
degradantes irreversíveis?”
(Sexo e Obsessão, capítulo
21: Recomeço feliz.)
B. Os chamados Pais da Igreja, como Orígenes, Tertuliano,
Ambrósio e Santo Agostinho, admitiam a realidade da
reencarnação?
Segundo o Sr. Bispo, sim.
Eis o que este disse ao padre Mauro: “Alguns pensadores
da Igreja cristã primitiva, tais Orígenes, Tertuliano,
Santo Agostinho, Ambrósio, para citar apenas alguns,
acreditavam na transmigração das almas em diversos
corpos, por cujo meio adquiriam sabedoria, depuravam-se
e cresciam para Deus. Os seus erros, por mais hediondos,
sempre podiam ser reparados na Terra mesmo, onde haviam
sido cometidos. Todos os crimes e práticas
comprometedoras eram reparáveis, o que explicaria as
aberrações físicas e morais que caracterizam muitos
seres, aprendendo na dor a valorizarem o amor,
aprisionadas no cárcere carnal, caso não hajam sido
alcançadas pela justiça que as não corrigiu nem
edificou. Dessa forma, Deus concederia iguais
oportunidades a todos os filhos, facultando-lhes o
crescimento interior a esforço pessoal, sem que alguns
sejam agraciados em detrimento de outros que teriam que
lutar para alcançarem os mesmos recursos e fruírem os
mesmos direitos”.
(Sexo e Obsessão, capítulo
21: Recomeço feliz.)
C. Na entrevista com padre Mauro, o Bispo lhe fez uma
revelação surpreendente. Que revelação foi essa?
Ele disse a Mauro que seu
caso não era um fato isolado na Igreja, referindo-se,
assim, à pedofilia. Eis suas palavras: “Outros
sacerdotes também, na sua condição de criaturas humanas
falíveis, têm sido vítimas de situações psicológicas e
mentais semelhantes ou com algumas variantes, o que tem
preocupado as nossas autoridades, que vêm recorrendo ao
auxílio da Medicina, para socorrer aqueles que são
vítimas desses transtornos e de outros problemas na área
do comportamento e da emoção. O assunto é sempre tratado
com o máximo de discrição, a fim de evitar-se ampliar as
proporções da ocorrência, que não trariam qualquer
benefício a quem quer que seja, ao mesmo tempo buscando
recuperar aquele que se haja comprometido ou tombado nas
armadilhas da insensatez”.
(Sexo e Obsessão, capítulo
21: Recomeço feliz.)
Texto para leitura
203. Mauro fala
sobre o lar para crianças – A pedido do Bispo,
padre Mauro deu curso à narração das suas experiências
fora do corpo físico: “Na noite anterior, acompanhando
as ocorrências que não me estão muito claras na mente,
mas que retornam agora, como que sob uma ação mágica em
um caleidoscópio vivo da memória, fui convidado à
renovação e foram desenhadas possibilidades para o meu
reencontro e equilíbrio, devendo dedicar-me a Jesus e à
Sua mensagem, especialmente reabilitando-me mediante a
edificação de um lar para crianças profundamente
marcadas, infelizes, inspiradoras de constrangimento e
de compaixão, em cujo convívio poderei superar as minhas
más tendências e tornar-me um verdadeiro servidor do
Evangelho... A princípio, fui tomado de espanto e medo,
pensando nos riscos de estar ao lado das tentações mais
graves e com imensas possibilidades de repetir os crimes
de que me desejo libertar. No entanto, nobre ser
espiritual me elucidou que a ternura e a misericórdia
ante as deformidades que as caracterizarão, ser-me-iam o
bastão de apoio e o medicamento salutar para manter-me
em saudável equilíbrio, enquanto a caridade seria uma
luz na noite da minha solidão. Confesso que estou
animado com a possibilidade e espero poder recuperar-me
de todo o mal que pratiquei, através de todo o bem que
poderei fazer...”
(Sexo e Obsessão, capítulo
21: Recomeço feliz.)
204. As dúvidas do
Bispo sobre a reencarnação – Interrompendo-o, o
Bispo observou: “Alegro-me sobremaneira com essas
informações, porque o Senhor da Vida espera que as
ovelhas que se tresmalham retornem ao redil, não ficando
no abismo ao qual se arrojam. Recordemo-nos da parábola
do Filho pródigo e, consequentemente, da imensa alegria
que invadiu o pai quando o jovem tresvariado e infeliz
retornou ao lar, preferindo mesmo enfrentar qualquer
reação do genitor, caso a houvesse negativa, a continuar
entre os porcos conforme estava. Há sempre esperança no
Bem, quando há honestidade no arrependimento e interesse
no recomeço. Todos erramos, face à nossa estrutura de
humanidade, às imperfeições que nos caracterizam, tendo
porém o dever de nos reabilitarmos, trilhando a mesma
estrada no sentido inverso, reconstruindo, passo a
passo, tudo aquilo quanto danificamos ou malbaratamos.
Somos contínuos aprendizes da vida em processo de
crescimento para Deus. Não poucas vezes, nos meus
devaneios espirituais interrogo-me se uma existência
única é suficiente para alcançar-se a meta, para
adquirir-se a sabedoria, para a conquista da plenitude.
Diante do Infinito, a nossa relatividade de tempo
expõe-nos a situações muito perturbadoras, que nos
impossibilitam alcançar os patamares superiores do
êxito, especialmente quando defrontamos limites de vária
ordem. Como poderia Deus exigir de pessoas diferentes,
portadoras de valores diversos, resultados idênticos?
Como entender a salvação dos réprobos morais, que já
nasceram assinalados pelas deformidades do caráter, ou
vitimados pelas heranças genéticas degradantes
irreversíveis?”
(Sexo e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.)
205. Os Pais da
Igreja em face da reencarnação – Segundo Manoel
Philomeno, o irmão Anacleto havia colocado a destra
sobre a fronte do Bispo, infundindo-lhe coragem e
lucidez de raciocínio, de forma que, naquele momento,
suas anteriores reflexões encontrassem maior campo de
discernimento e de claridade, a fim de assegurar-se da
exatidão dos seus raciocínios. Quase iluminado pelo
contato com o nobre Benfeitor, o eclesiástico não pôde
sopitar o entusiasmo, prosseguindo: “Alguns pensadores
da Igreja cristã primitiva, tais Orígenes, Tertuliano,
Santo Agostinho, Ambrósio, para citar apenas alguns,
acreditavam na transmigração das almas em diversos
corpos, por cujo meio adquiriam sabedoria, depuravam-se
e cresciam para Deus. Os seus erros, por mais hediondos,
sempre podiam ser reparados na Terra mesmo, onde haviam
sido cometidos. Todos os crimes e práticas
comprometedoras eram reparáveis, o que explicaria as
aberrações físicas e morais que caracterizam muitos
seres, aprendendo na dor a valorizarem o amor,
aprisionadas no cárcere carnal, caso não hajam sido
alcançadas pela justiça que as não corrigiu nem
edificou. Dessa forma, Deus concederia iguais
oportunidades a todos os filhos, facultando-lhes o
crescimento interior a esforço pessoal, sem que alguns
sejam agraciados em detrimento de outros que teriam que
lutar para alcançarem os mesmos recursos e fruírem os
mesmos direitos. Sem contestar o estabelecido pela
Igreja, a mim me parece muito mais compatível com a
justiça de Deus a doutrina da transmigração das almas
por muitos corpos, do que a vida única, com imediatas
consequências de felicidade total ou punição eternas.
Sei que isso pode incidir em blasfêmia, porque o II
Concílio de Constantinopla, reunido no ano de 552,
condenou as doutrinas de Orígenes, objetivando,
essencialmente, negar a reencarnação”.
(Sexo e Obsessão, capítulo
21: Recomeço feliz.)
206. Mauro e o
encontro da noite anterior – Depois de um
silêncio, que se fez natural, o Sr. Bispo acrescentou:
“Desculpe-me o entusiasmo e a interrupção da sua
interessantíssima narrativa, que me faz recuar a
experiências semelhantes que vivenciei no passado.
Gostaria de continuar ouvindo-o a respeito das suas,
digamos, viagens astrais, conforme são denominadas pelo
Esoterismo e outras doutrinas ocultistas...” Mauro, que
se encontrava visivelmente reconfortado, ainda mais com
as informações do seu pastor que confirmavam alguns dos
acontecimentos que vivenciara quando em desdobramento da
personalidade ou espiritual, sentiu-se encorajado a
informar: “No já referido encontro da noite passada,
ficou estabelecido que alguns daqueles seres por quem eu
sentia emoções desencontradas, deveriam voltar ao corpo,
a fim de viverem comigo, em razão de vinculações
profundas que nos unem. Não sabendo aquilatar o de que
se trata, não obstante, senti-me muito feliz e despertei
com novas disposições para o futuro, contando com o
apoio e o perdão de Vossa Eminência”. Os dois sorriram,
como se um conciliábulo de significado superior
estivesse sendo firmado naquele momento.
(Sexo e Obsessão, capítulo
21: Recomeço feliz.)
207. O Bispo diz ao
padre que seu caso não era único – O prelado
comentou: “Também eu acredito, sinceramente, na
interferência de seres demoníacos e de anjos nos atos de
nossas existências. Eles sempre nos assessoram, conforme
a conduta que nos permitimos. No caso em tela, essas
forças do Mal, tiranizantes e perversas, tentam todas as
almas que pretendem viver os preceitos do Evangelho,
utilizando-se das debilidades do caráter de cada uma,
para as desencaminhar, levando-as aos dédalos
infernais... Todavia, reconhecemos que o mau hábito cria
condicionamentos, e que esses devem ser tratados
conforme a valiosa contribuição das ciências
contemporâneas. Como você há de compreender, o seu não é
um caso isolado em nossa Igreja. Outros sacerdotes
também, na sua condição de criaturas humanas falíveis,
têm sido vítimas de situações psicológicas e mentais
semelhantes ou com algumas variantes, o que tem
preocupado as nossas autoridades, que vêm recorrendo ao
auxílio da Medicina, para socorrer aqueles que são
vítimas desses transtornos e de outros problemas na área
do comportamento e da emoção. O assunto é sempre tratado
com o máximo de discrição, a fim de evitar-se ampliar as
proporções da ocorrência, que não trariam qualquer
benefício a quem quer que seja, ao mesmo tempo buscando
recuperar aquele que se haja comprometido ou tombado nas
armadilhas da insensatez. Em tudo, a Igreja deve
intervir com sabedoria e cuidado, amparando o equivocado
e socorrendo sua vítima, mantendo o programa da paz e da
felicidade possível entre todos. Dessa maneira, entrei
em contato com uma clínica psiquiátrica, que já tem
recebido outros sacerdotes, a fim de que o seu caso seja
estudado e você receba a orientação psicológica
correspondente, recuperando-se o mais rapidamente
possível, para prosseguir nos compromissos que lhe dizem
respeito”. (Sexo
e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.)
208. As providências
tomadas pelo Bispo – Padre Mauro encontrava-se
realmente comovido. Aquela entrevista, que deveria
decidir um destino em tormento, evitando graves
problemas para outras vidas, ensejara-lhe, também,
reflexões em torno das quais jamais se atrevera
apresentar a alguém, parecendo-lhe agora tão reais e
ricas de conteúdo, que lhe facultava melhor entendimento
das Leis da Vida em torno dos seres humanos, amenizando
aflições que o vitimavam de quando em quando, ao pensar
no destino e na condenação perpétua das almas. Ato
contínuo, concluindo a entrevista, o Sr. Bispo informou:
“Já tomei todas as providências possíveis para o seu
internamento, que correrá por conta do setor competente
da nossa Igreja. A partir de hoje, o meu querido filho
espiritual poderá transferir-se para o seu novo
domicílio. Enquanto isso ocorre, irei estudar uma
paróquia para onde transferi-lo após receber alta, na
qual, entre pessoas humildes e necessitadas, você possa
reerguer-se para Jesus... E se tudo transcorrer conforme
esperamos e desejamos, estou disposto a contribuir em
favor do seu Lar de crianças, mesmo que seja numa área
fora da minha administração clerical. Manter-nos-emos em
contato epistolar e terei imensa felicidade em abraçá-lo
proximamente aqui mesmo, quando o encaminharei a novos
labores, procurando deixar no passado as suas lições,
que servirão de alicerce para as construções do Bem no
futuro. Que Deus o abençoe, meu filho, e que nunca mais
se aparte da senda da caridade”.
(Sexo e Obsessão, capítulo
21: Recomeço feliz.)
(Continua no próximo
número.)