Estudando as obras
de Manoel Philomeno
de Miranda

por Thiago Bernardes

Sexo e Obsessão
(Parte 41)
 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do livro Sexo e Obsessão, obra de autoria de  Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco e publicada originalmente em 2002.
 

Questões preliminares

A. Na entrevista com padre Mauro, o Bispo chegou a fazer considerações acerca da reencarnação?

Sim. Disse ele que não poucas vezes, nos seus devaneios espirituais, perguntara a si mesmo se uma existência única seria suficiente para alcançar-se a meta, para adquirir-se a sabedoria, para conquistar a plenitude. Eis palavras ditas por ele ao padre Mauro: “Como poderia Deus exigir de pessoas diferentes, portadoras de valores diversos, resultados idênticos? Como entender a salvação dos réprobos morais, que já nasceram assinalados pelas deformidades do caráter, ou vitimados pelas heranças genéticas  degradantes irreversíveis?” (Sexo e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.)

B. Os chamados Pais da Igreja, como Orígenes, Tertuliano, Ambrósio e Santo Agostinho, admitiam a realidade da reencarnação?

Segundo o Sr. Bispo, sim. Eis o que este disse ao padre Mauro: “Alguns pensadores da Igreja cristã primitiva, tais Orígenes, Tertuliano, Santo Agostinho, Ambrósio, para citar apenas alguns, acreditavam na transmigração das almas em diversos corpos, por cujo meio adquiriam sabedoria, depuravam-se e cresciam para Deus. Os seus erros, por mais hediondos, sempre podiam ser reparados na Terra mesmo, onde haviam sido cometidos. Todos os crimes e práticas comprometedoras eram reparáveis, o que explicaria as aberrações físicas e morais que caracterizam muitos seres, aprendendo na dor a valorizarem o amor, aprisionadas no cárcere carnal, caso não hajam sido alcançadas pela justiça que as não corrigiu nem edificou. Dessa forma, Deus concederia iguais oportunidades a todos os filhos, facultando-lhes o crescimento interior a esforço pessoal, sem que alguns sejam agraciados em detrimento de outros que teriam que lutar para alcançarem os mesmos recursos e fruírem os mesmos direitos”. (Sexo e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.)

C. Na entrevista com padre Mauro, o Bispo lhe fez uma revelação surpreendente. Que revelação foi essa?

Ele disse a Mauro que seu caso não era um fato isolado na Igreja, referindo-se, assim, à pedofilia. Eis suas palavras: “Outros sacerdotes também, na sua condição de criaturas humanas falíveis, têm sido vítimas de situações psicológicas e mentais semelhantes ou com algumas variantes, o que tem preocupado as nossas autoridades, que vêm recorrendo ao auxílio da Medicina, para socorrer aqueles que são vítimas desses transtornos e de outros problemas na área do comportamento e da emoção. O assunto é sempre tratado com o máximo de discrição, a fim de evitar-se ampliar as proporções da ocorrência, que não trariam qualquer benefício a quem quer que seja, ao mesmo tempo buscando recuperar aquele que se haja comprometido ou tombado nas armadilhas da insensatez”. (Sexo e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.)
 

Texto para leitura
 

203. Mauro fala sobre o lar para crianças – A pedido do Bispo, padre Mauro deu curso à narração das suas experiências fora do corpo físico: “Na noite anterior, acompanhando as ocorrências que não me estão muito claras na mente, mas que retornam agora, como que sob uma ação mágica em um caleidoscópio vivo da memória, fui convidado à renovação e foram desenhadas possibilidades para o meu reencontro e equilíbrio, devendo dedicar-me a Jesus e à Sua mensagem, especialmente reabilitando-me mediante a edificação de um lar para crianças profundamente marcadas, infelizes, inspiradoras de constrangimento e de compaixão, em cujo convívio poderei superar as minhas más tendências e tornar-me um verdadeiro servidor do Evangelho... A princípio, fui tomado de espanto e medo, pensando nos riscos de estar ao lado das tentações mais graves e com imensas possibilidades de repetir os crimes de que me desejo libertar. No entanto, nobre ser espiritual me elucidou que a ternura e a misericórdia ante as deformidades que as caracterizarão, ser-me-iam o bastão de apoio e o medicamento salutar para manter-me em saudável equilíbrio, enquanto a caridade seria uma luz na noite da minha solidão. Confesso que estou animado com a possibilidade e espero poder recuperar-me de todo o mal que pratiquei, através de todo o bem que poderei fazer...” (Sexo e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.)

204. As dúvidas do Bispo sobre a reencarnação – Interrompendo-o, o Bispo observou: “Alegro-me sobremaneira com essas informações, porque o Senhor da Vida espera que as ovelhas que se tresmalham retornem ao redil, não ficando no abismo ao qual se arrojam. Recordemo-nos da parábola do Filho pródigo e, consequentemente, da imensa alegria que invadiu o pai quando o jovem tresvariado e infeliz retornou ao lar, preferindo mesmo enfrentar qualquer reação do genitor, caso a houvesse negativa, a continuar entre os porcos conforme estava. Há sempre esperança no Bem, quando há honestidade no arrependimento e interesse no recomeço. Todos erramos, face à nossa estrutura de humanidade, às imperfeições que nos caracterizam, tendo porém o dever de nos reabilitarmos, trilhando a mesma estrada no sentido inverso, reconstruindo, passo a passo, tudo aquilo quanto danificamos ou malbaratamos. Somos contínuos aprendizes da vida em processo de crescimento para Deus. Não poucas vezes, nos meus devaneios espirituais interrogo-me se uma existência única é suficiente para alcançar-se a meta, para adquirir-se a sabedoria, para a conquista da plenitude. Diante do Infinito, a nossa relatividade de tempo expõe-nos a situações muito perturbadoras, que nos impossibilitam alcançar os patamares superiores do êxito, especialmente quando defrontamos limites de vária ordem. Como poderia Deus exigir de pessoas diferentes, portadoras de valores diversos, resultados idênticos? Como entender a salvação dos réprobos morais, que já nasceram assinalados pelas deformidades do caráter, ou vitimados pelas  heranças genéticas degradantes irreversíveis?” (Sexo e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.)

205. Os Pais da Igreja em face da reencarnação – Segundo Manoel Philomeno, o irmão Anacleto havia colocado a destra sobre a fronte do Bispo, infundindo-lhe coragem e lucidez de raciocínio, de forma que, naquele momento, suas anteriores reflexões encontrassem maior campo de discernimento e de claridade, a fim de assegurar-se da exatidão dos seus raciocínios. Quase iluminado pelo contato com o nobre Benfeitor, o eclesiástico não pôde sopitar o entusiasmo, prosseguindo: “Alguns pensadores da Igreja cristã primitiva, tais Orígenes, Tertuliano, Santo Agostinho, Ambrósio, para citar apenas alguns, acreditavam na transmigração das almas em diversos corpos, por cujo meio adquiriam sabedoria, depuravam-se e cresciam para Deus. Os seus erros, por mais hediondos, sempre podiam ser reparados na Terra mesmo, onde haviam sido cometidos. Todos os crimes e práticas comprometedoras eram reparáveis, o que explicaria as aberrações físicas e morais que caracterizam muitos seres, aprendendo na dor a valorizarem o amor, aprisionadas no cárcere carnal, caso não hajam sido alcançadas pela justiça que as não corrigiu nem edificou. Dessa forma, Deus concederia iguais oportunidades a todos os filhos, facultando-lhes o crescimento interior a esforço pessoal, sem que alguns sejam agraciados em detrimento de outros que teriam que lutar para alcançarem os mesmos recursos e fruírem os mesmos direitos. Sem contestar o estabelecido pela Igreja, a mim me parece muito mais compatível com a justiça de Deus a doutrina da transmigração das almas por muitos corpos, do que a vida única, com imediatas consequências de felicidade total ou punição eternas. Sei que isso pode incidir em blasfêmia, porque o II Concílio de Constantinopla, reunido no ano de 552, condenou as doutrinas de Orígenes, objetivando, essencialmente, negar a reencarnação”. (Sexo e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.)

206. Mauro e o encontro da noite anterior – Depois de um silêncio, que se fez natural, o Sr. Bispo acrescentou: “Desculpe-me o entusiasmo e a interrupção da sua interessantíssima narrativa, que me faz recuar a experiências semelhantes que vivenciei no passado. Gostaria de continuar ouvindo-o a respeito das suas, digamos, viagens astrais, conforme são denominadas pelo Esoterismo e outras doutrinas ocultistas...” Mauro, que se encontrava visivelmente reconfortado, ainda mais com as informações do seu pastor que confirmavam alguns dos acontecimentos que vivenciara quando em desdobramento da personalidade ou espiritual, sentiu-se encorajado a informar: “No já referido encontro da noite passada, ficou estabelecido que alguns daqueles seres por quem eu sentia emoções desencontradas, deveriam voltar ao corpo, a fim de viverem comigo, em razão de vinculações profundas que nos unem. Não sabendo aquilatar o de que se trata, não obstante, senti-me muito feliz e despertei com novas disposições para o futuro, contando com o apoio e o perdão de Vossa Eminência”. Os dois sorriram, como se um conciliábulo de significado superior estivesse sendo firmado naquele momento. (Sexo e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.)

207. O Bispo diz ao padre que seu caso não era único – O prelado comentou: “Também eu acredito, sinceramente, na interferência de seres demoníacos e de anjos nos atos de nossas existências. Eles sempre nos assessoram, conforme a conduta que nos permitimos. No caso em tela, essas forças do Mal, tiranizantes e perversas, tentam todas as almas que pretendem viver os preceitos do Evangelho, utilizando-se das debilidades do caráter de cada uma, para as desencaminhar, levando-as aos dédalos infernais... Todavia, reconhecemos que o mau hábito cria condicionamentos, e que esses devem ser tratados conforme a valiosa contribuição das ciências contemporâneas. Como você há de compreender, o seu não é um caso isolado em nossa Igreja. Outros sacerdotes também, na sua condição de criaturas humanas falíveis, têm sido vítimas de situações psicológicas e mentais semelhantes ou com algumas variantes, o que tem preocupado as nossas autoridades, que vêm recorrendo ao auxílio da Medicina, para socorrer aqueles que são vítimas desses transtornos e de outros problemas na área do comportamento e da emoção. O assunto é sempre tratado com o máximo de discrição, a fim de evitar-se ampliar as proporções da ocorrência, que não trariam qualquer benefício a quem quer que seja, ao mesmo tempo buscando recuperar aquele que se haja comprometido ou tombado nas armadilhas da insensatez. Em tudo, a Igreja deve intervir com sabedoria e cuidado, amparando o equivocado e socorrendo sua vítima, mantendo o programa da paz e da felicidade possível entre todos. Dessa maneira, entrei em contato com uma clínica psiquiátrica, que já tem recebido outros sacerdotes, a fim de que o seu caso seja estudado e você receba a orientação psicológica correspondente, recuperando-se o mais rapidamente possível, para prosseguir nos compromissos que lhe dizem respeito”. (Sexo e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.)

208. As providências tomadas pelo Bispo – Padre Mauro encontrava-se realmente comovido. Aquela entrevista, que deveria decidir um destino em tormento, evitando graves problemas para outras vidas, ensejara-lhe, também, reflexões em torno das quais jamais se atrevera apresentar a alguém, parecendo-lhe agora tão reais e ricas de conteúdo, que lhe facultava melhor entendimento das Leis da Vida em torno dos seres humanos, amenizando aflições que o vitimavam de quando em quando, ao pensar no destino e na condenação perpétua das almas. Ato contínuo, concluindo a entrevista, o Sr. Bispo informou: “Já tomei todas as providências possíveis para o seu internamento, que correrá por conta do setor competente da nossa Igreja. A partir de hoje, o meu querido filho espiritual poderá transferir-se para o seu novo domicílio. Enquanto isso ocorre, irei estudar uma paróquia para onde transferi-lo após receber alta, na qual, entre pessoas humildes e necessitadas, você possa reerguer-se para Jesus... E se tudo transcorrer conforme esperamos e desejamos, estou disposto a contribuir em favor do seu Lar de crianças, mesmo que seja numa área fora da minha administração clerical. Manter-nos-emos em contato epistolar e terei imensa felicidade em abraçá-lo proximamente aqui mesmo, quando o encaminharei a novos labores, procurando deixar no passado as suas lições, que servirão de alicerce para as construções do Bem no futuro. Que Deus o abençoe, meu filho, e que nunca mais se aparte da senda da caridade”. (Sexo e Obsessão, capítulo 21: Recomeço feliz.) (Continua no próximo número.)


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita