Pai, afasta de
mim este cálice
– uma análise
Três evangelistas se referem a estas palavras de Jesus:
Mateus, Marcos e Lucas.
Em Mateus:
“Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por
terra, assim rezou: Meu Pai, se é possível, afasta de
mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas
sim o que tu queres". São
Mateus, 26-
39.
Em Lucas:
Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice;
todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
Lucas. 22-43
Em Marcos:
E disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis;
afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu
quero, mas o que tu queres. Marcos, 14-36.
Se analisarmos apenas literalmente, os textos sugerem
que Jesus, prevendo ou sabendo de antemão o que lhe
aconteceria a seguir, pediu a Deus que aquilo tudo fosse
tirado dele.
Há, contudo, fortes razões para que não acreditemos
nesta hipótese:
1 – Jesus, dada a sua superioridade espiritual, não
sofreria as dores físicas se assim desejasse. Hoje, os
estudiosos da neurociência nos indicam meios de
vencermos a dor, pela anulação dos seus efeitos a partir
de uma vontade determinante do Espírito.
2 – Estava dito anteriormente pelos Profetas que o
antecederam que aquele momento aconteceria. Vejamos:
Mas tudo isto aconteceu para que se cumpram as
escrituras dos profetas. Então, todos os discípulos,
deixando-o, fugiram.
Mateus 26:56
O pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão. Mateus
26-31. Então Jesus lhes disse: Todos vós esta noite vos
escandalizareis em mim; porque está escrito: Ferirei.
3 – Quando Pedro fere a orelha de Malco, eis o que disse
Jesus:
Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque
todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.
Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e
que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?
Mateus 26:52,53.
Conclui-se, portanto, que Jesus tinha pleno conhecimento
do ato e não interferiu nele, daí que não se pode dizer
que o “Afasta de mim este cálice” seria uma expressão de
fraqueza ou medo. Mostra, antes, a divina obediência de
Jesus aos desígnios de Deus.
Mas, então, por que ele o teria dito como acima exposto
pelos evangelistas?
Ora, Jesus detém o conhecimento profundo do homem e seus
movimentos evolutivos. Com a anunciação do Reino de Deus
dentro e fora de cada um, presume-se que o homem
encaminhe sua evolução de forma diferente, buscando o
amor e a sabedoria como referências, caso contrário
sofrerá muito até encontrar-se definitivamente com a
glória de Deus em si mesmo.
Jesus deseja o crescimento rápido do homem. Além de ser
o organizador e mantenedor do Planeta é também o símbolo
do cristo interno que há em cada um de nós. A sua
crucificação no calvário representa simbolicamente a
crucificação que fazemos do cristo interno, impedindo
nossos crescimentos em direção a Deus.
Pai, afasta de mim este cálice é, portanto, numa análise
profunda da alma, o brado do cristo interno pedindo ao
seu criador que afaste dele as intérminas injunções do
ego inferior que nos impede de crescer espiritualmente.
Há, portanto, que deslocar o brado de Jesus em favor da
humanidade e entender o brado que o nosso cristo
interior faz continuamente enquanto o prendemos e
açoitamos pelas nossas ignorâncias e descasos com a
evolução espiritual.
Observa-se ainda que desde o início Jesus já possui o
plano de libertar o homem dos seus atrasos espirituais.
Utilizou para isso os Profetas que anunciaram esta
mensagem incrível, que ele entregaria a todos nós,
momentos antes da sua crucificação como a nos dizer:
Parem de continuar crucificando o seu cristo interno!
Não era Jesus quem pedia o afastamento do cálice. Ele,
apenas, aproveitando o momento, mostrou-nos como nossos
cristos internos bradam constantemente a nosso favor.
Pois, como ele disse que bastaria um pedido dele ao Pai
que legiões de anjos o tirariam dali. Mas era necessária
a lição daquele momento para o homem. Ele, o cordeiro de
Deus, imolando-se para que o homem aprenda e se liberte
para o Pai, assim como Ele, liberto, fazia cumprir a
vontade do mesmo Pai.
Esta é uma análise que deve se juntar a outras tantas
que não coloquem Jesus como um Espírito fraco que foge
do perigo e sim como um Ser extremamente superior que
não teme o perigo para ajudar ao Pai a fazer seus filhos
inferiores encontrarem o caminho das suas redenções
espirituais.
Belíssima e profundíssima esta passagem no Monte das
Oliveiras. Que a entendamos, enfim.