Como Kardec
definia o
vocábulo
espírita
Os espíritas não costumam
entender-se quanto ao que se define por
espírita.
Muitos nos valemos desse vocábulo para designar aqueles
que estudam e praticam os ensinamentos de Allan Kardec.
Sob esse aspecto, espíritas seriam os kardecistas.
Essa conceituação excluiria, por exemplo, os
umbandistas, pois possuem uma teoria e uma prática
singulares (comumente ouvimos a expressão “umbandista
não é espírita”). Excluem, igualmente, aqueles que leem
e gostam das obras espíritas, mas frequentam outras
agremiações religiosas, como o catolicismo. Também não
se identificariam com essa proposta os espiritualistas
norte-americanos e europeus, como os adeptos da “Nova
era”, que se valem, na maioria das vezes, de autores de
língua inglesa e não costumam referir-se a Kardec.
Também, por motivos óbvios, não seriam espíritas
milhares de adeptos do budismo e do hinduísmo, apesar de
admitirem as vidas sucessivas.
Outros se utilizam desse vocábulo, dando-lhe um colorido
ético. Identificamos como espíritas somente
aqueles que se esforçam por se melhorar. Não
consideramos, portanto, como tal, aqueles que frequentam
ou trabalham no centro espírita, mas, em nossa
avaliação, se encontram distantes da moral cristã. São
pessoas que falam com entusiasmo da doutrina espírita,
ardorosos defensores de Kardec, apaixonados
frequentadores do centro, mas gostam do Espiritismo como
outros gostam de pesca submarina ou de futebol – apenas
uma questão de gosto. O Espiritismo lhes enche o cérebro
de dopamina e lhes dá muito prazer, mas se mantêm
arrogantes, sedutores, mesquinhos ou desonestos. Não
raramente encontramos pessoas assim, e costumamos
exclamar: “Esse não é espírita!”.
Que pensava Kardec a respeito?
Nosso codificador apresentou o conceito de espírita
em alguns de seus textos e a definição apresentada
por ele pode surpreender. No livro O que é o
Espiritismo, capítulo primeiro, segundo diálogo,
Kardec coloca o Espiritismo como uma crença pessoal
e reafirma tal ideia na obra O Espiritismo
em sua expressão mais simples, ao colocar que
espírita é todo aquele que crê nas manifestações dos
Espíritos.
O pensamento de Kardec insere a definição de espírita
na seara do pensamento – crer, crença – sem
nenhuma relação com prática, frequência a determinado
local, ou profissão de fé em suas obras.
Kardec será ainda mais explícito, na Revista espírita
de junho de 1868, ao escrever:
A gente é espírita,
desde o momento em que se entra nesta ordem de ideias,
ainda mesmo quando não se admitissem todos os pontos da
Doutrina em sua integridade ou em todas as suas
consequências. Por não ser espírita completo não se é
menos espírita, o que faz que, por vezes, se o seja sem
saber, algumas vezes sem o querer confessar e que, entre
os sectários das diferentes religiões, muitos são
espíritas de fato, quando não de nome.
Esse pensamento de Kardec acompanhou-o durante toda a
sua trajetória. Na Revista Espírita, edição de janeiro
de 1869, poucas semanas antes de sua desencarnação, ele
apresenta uma estatística dos espíritas, insistindo na
tese de Espiritismo como crença pessoal. Coloca que, em
relação às ideias religiosas, os espíritas são:
. católicos romanos, livres-pensadores, não ligados ao
dogma: 50%
. católicos gregos: 15%
. judeus: 10%
. protestantes liberais: 10%
. católicos ligados aos dogmas: 10%
. protestantes ortodoxos: 3%
. muçulmanos: 2%.
A conceituação kardequiana é inclusiva por excelência e
nos leva a considerar como espírita qualquer pessoa que
admita a existência e sobrevivência dos Espíritos e a
possibilidade de sua manifestação entre os homens,
independente de qualquer outra coisa. A definição
kardequiana, assim, talvez nos leve a considerar como
espíritas: Gandhi, o Dalai Lama, Crookes, Wiliam James,
Russel Wallace e a Dra. Elizabeth Kluber-Ross. Quem não
gostaria de tê-los em seu time?