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por Anselmo F. Vasconcelos

O paradigma espiritual

 
Recentemente o renomado acadêmico americano Jeffrey Pfeffer, professor da Universidade de Stanford, externou um pensamento instigante acerca dos dilemas que a humanidade vem enfrentando na atualidade. Segundo ele, se desejamos criar ou construir um mundo pautado por valores humanísticos - em contraste com o pensamento reinante baseado em valores de natureza econômica e materialista - nós precisamos entender melhor a razão do dinheiro representar um papel tão preponderante em nosso mundo, assim como identificar que tipos de intervenções poderiam mudar a visão predominante de sucesso e status. 

Com efeito, a preocupação de Pfeffer é, além de altamente pertinente, urgente tendo-se em vista o bem geral da humanidade. Embora a nossa civilização já tenha atingido um nível expressivo de progresso tecnológico e material, especialmente nos últimos 150 anos, ainda não conseguimos desenvolver mecanismos eficientes para a diminuição das desigualdades e injustiças. Assim sendo, é absolutamente claro que o desejo insaciável de ter e acumular tem sido a geratriz de graves distorções sociais e espirituais.

Há Espíritos presentemente encarnados com alto grau de inteligência e inesgotáveis capacidades de empreender, inovar e, por extensão, gerar riquezas, mas sem a mínima noção, por exemplo, de compartilhamento. Essa minoria demonstra possuir um egoísmo – raiz de todos os males – incomensurável. Para ilustrar o raciocínio, a OXFAM do Brasil assevera que apenas 8 bilionários detêm a mesma riqueza que as 3,6 bilhões de pessoas mais pobres no mundo.

É também deveras preocupante observar que um em cada cinco jovens está desempregado na América Latina, conforme informa a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Dadas as contínuas divulgações de dados negativos nessa área, é possível vislumbrar a enorme dificuldade que esse grupo terá para sobreviver. Não bastasse isto, a crítica área do trabalho passa por profundas transformações decorrentes da automação de processos e do avanço, de modo geral, da tecnologia da informação e cujas consequências são imprevisíveis.

Vale salientar ainda a relação primitiva do homem com o meio ambiente. Nesse sentido, o jornalista André Trigueiro denunciou num artigo na Folha de São Paulo que no exíguo período de 16 anos (2000-2016) o Brasil perdeu aproximadamente 190 mil quilômetros quadrados de áreas verdes. Tal cifra significa simplesmente quatro vezes a extensão do Estado do Rio de Janeiro. Aparentemente, não há argumento que possa tocar no coração ou consciência dos agricultores e demais exploradores da terra. Ademais, as preocupantes mudanças climáticas não lhes inspiram clemência a favor da mãe natureza ou mesmo em relação ao futuro da sua prole.

Em resumo, a humanidade caminha a passos largos para a configuração de um quadro geral de desestabilização e desarmonia em razão do predomínio do paradigma material. Em outras palavras, as questões econômico-financeiras assumiram um papel assombroso em nosso mundo. Elas deixaram de ser um meio para se tornar um fim. Por essa razão, “Selvageria, abastardamento do caráter e da inteligência, neuroses e psicoses atestam, em incontrolável desdobramento, a via calamitosa por onde segue o homem...”, conforme pondera o Espírito Joanna de Ângelis, na obra Dimensões da Verdade (psicografia de Divaldo P. Franco)

Posto isto, torna-se imperativo refletir sobre as decisões que temos tomado e mudar enquanto há tempo. Se há uma infinidade de mazelas próprias dos tempos transitórios em que vivemos, também há caminhos alternativos que nos remetem ao reencontro com a nossa essência divina. Portanto, é chegado o momento de recordarmos lições esquecidas que nos oferecem uma solução duradoura e sensata. Como apropriadamente lembra Joanna de Ângelis, há mais de dois mil anos Jesus, “o Educador por Excelência” prescreveu-nos a necessidade de nos amarmos uns aos outros, mas “como os homens olvidaram a fórmula eficaz para se manterem dignos...” criamos os lamentáveis problemas do presente que batem à nossa porta insistentemente. 

Desse modo, é hora da alma humana assimilar os valores universais para ascender à glória de Deus. É hora de externarmos virtudes tais como a compaixão, misericórdia, solidariedade, fraternidade, respeito, empatia, amizade, alteridade e, sobretudo, o amor. É hora de iniciar a mudança interior tão apregoada pelos emissários divinos. É hora, enfim, de ter a coragem de viver sob as diretrizes do paradigma espiritual que Jesus tão bem nos ensinou: “Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem” (Lucas, 9:26).
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita