O caráter atual
da simbologia da
candeia
“Ninguém, pois, acende uma luzerna e a cobre com alguma
vasilha, ou a põe debaixo da cama; põe-na, sim, sobre um
candeeiro, para que vejam a luz os que entram. Porque
não há coisa encoberta que não haja de saber-se e
fazer-se pública.” ¹
Parece estranho ouvir Jesus dizer para não se colocar a
candeia debaixo do alqueire ou da cama, segundo Lucas, e
ao mesmo tempo falar por parábolas. Incoerência de
Jesus? Contradição nos ensinamentos? Jamais! É
necessário entender que essa afirmação é uma orientação
para as nossas atitudes, em relação aos conhecimentos
que possuímos, sejam eles quais forem. O Mestre
convida-nos a não escondermos a luz da verdade, mas,
sim, deixá-la visível para que outras pessoas possam se
orientar por ela. O ensinamento evangélico é mais uma
parábola, como muitas que Jesus usava para tornar
compreensíveis as verdades que desejava transmitir.
Mas, o que é uma parábola? Na acepção geral do termo,
parábola é uma narrativa. Nesse caso, não temos uma
narrativa propriamente, mas uma comparação. As verdades
nela contidas são de cunho moral. As comparações com a
vida cotidiana e os interesses materiais foram
utilizadas com maestria por Ele, para que seus ensinos
pudessem ser compreendidos. As que fazem parte dos
Evangelhos, portanto, contêm preceitos morais. Podemos
dizer, então, (...) “que Parábola Evangélica é uma
instrução alegórica, exposta sempre com um fim moral,
como um meio fácil de fazer compreender uma lição
espiritual”.²
Entretanto, aqueles que não buscam a ideia espiritual –
a essência moral – desses preceitos, mas tão somente sua
forma, desprezando o fundo, não encontram a doutrina do
Cristo e, por essa razão, ela se conserva oculta até
hoje.
Assim, quando os discípulos perguntaram a Jesus por que
falava por parábolas, Ele lhes disse: “Porque a vós é
dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles
não, pois não estão em condições de compreenderem certas
coisas; veem, olham, escutam e não entendem. Dizer-lhes
tudo, agora, seria inútil”. ³
Jesus tratava o povo como se trata uma criança, cujas
ideias ainda não estão desenvolvidas. Aguardava que a
inteligência crescesse para compreender tudo que seria
revelado, gradualmente. Isto é, “todo ensinamento deve
ser proporcional à inteligência de quem o recebe, e
porque há pessoas que uma luz muito viva pode ofuscar
sem esclarecer. 4
Assim como acontece a cada indivíduo, a Humanidade
também passa por períodos da infância, da juventude e da
madureza. Cada coisa deve vir a seu tempo, pois tudo que
é plantado fora da estação não produz. Mas, aquilo que é
guardado por prudência, cedo ou tarde, será revelado,
quando o homem, com a inteligência desenvolvida,
procurar, por si só, descobrir. Pela inteligência o
homem compreende, se guia e racionaliza sua fé. É por
isso que Jesus falava para não pôr a luz debaixo da
cama, pois sem a luz da razão, a fé enfraquece.
Todavia, existem aqueles que colocam a luz da verdade
escondida. São aqueles que querem dominar esses
conhecimentos, essas descobertas. São as religiões que
sempre tiveram seus mistérios e cujo exame ainda
proíbem; são as pesquisas na área da saúde que por
razões comerciais não são trazidas à luz.
Jesus estava certo. Não existe mistério absoluto, pois
tudo aquilo que estiver oculto será descoberto. Ele só
deixou oculto o entendimento das questões abstratas da
sua doutrina. Tendo feito da humildade e da caridade a
condição expressa da salvação, tudo que disse e fez, a
respeito, é claro, explícito, e não deixa dúvida.
Ele veio nos trazer regras de conduta que precisavam
estar claras para que pudessem ser seguidas, e isto era
o essencial para aquelas pessoas, ainda ignorantes das
coisas do Espírito e tão essencial para nós que, mesmo
após vinte séculos, ainda não as compreendemos, porque
vêm de encontro aos nossos caprichos, desejos e
interesses pessoais.
Aos discípulos que já estavam mais adiantados moral e
intelectualmente, podia iniciá-los nos princípios mais
abstratos. Por isso disse: “ao que já tem ainda mais se
dará e terá em abundância”. Mas, mesmo para eles,
algumas coisas não foram reveladas. Somente mais tarde,
a ciência e o Espiritismo vieram desvendar alguns pontos
obscuros da doutrina do Cristo.
E, ainda hoje, muita coisa está sendo revelada, com
prudência, pelos Espíritos encarregados dessa tarefa.
Pretensão fantasiosa, ousadia ou ignorância de alguns
imaginarem que a Doutrina dos Espíritos será superada e
que nada mais tem para nos desvendar.
Bibliografia:
1 – Mateus, 13:10-15.
2 – SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensinos de Jesus
– 14ª edição – Casa Editora O Clarim, Matão/ SP – 1ª
parte, As parábolas e sua interpretação.
3 – Lucas, 18:16-17.
4 – KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo
– cap. 23, item 1 a 7 e cap. 18, item 15.