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por Leda Maria Flaborea

 
O caráter atual da simbologia da candeia

 
“Ninguém, pois, acende uma luzerna e a cobre com alguma vasilha, ou a põe debaixo da cama; põe-na, sim, sobre um candeeiro, para que vejam a luz os que entram. Porque não há coisa encoberta que não haja de saber-se e fazer-se pública.” ¹

Parece estranho ouvir Jesus dizer para não se colocar a candeia debaixo do alqueire ou da cama, segundo Lucas, e ao mesmo tempo falar por parábolas. Incoerência de Jesus? Contradição nos ensinamentos? Jamais! É necessário entender que essa afirmação é uma orientação para as nossas atitudes, em relação aos conhecimentos que possuímos, sejam eles quais forem.  O Mestre convida-nos a não escondermos a luz da verdade, mas, sim, deixá-la visível para que outras pessoas possam se orientar por ela. O ensinamento evangélico é mais uma parábola, como muitas que Jesus usava para tornar compreensíveis as verdades que desejava transmitir.

Mas, o que é uma parábola? Na acepção geral do termo, parábola é uma narrativa. Nesse caso, não temos uma narrativa propriamente, mas uma comparação. As verdades nela contidas são de cunho moral. As comparações com a vida cotidiana e os interesses materiais foram utilizadas com maestria por Ele, para que seus ensinos pudessem ser compreendidos. As que fazem parte dos Evangelhos, portanto, contêm preceitos morais. Podemos dizer, então, (...) “que Parábola Evangélica é uma instrução alegórica, exposta sempre com um fim moral, como um meio fácil de fazer compreender uma lição espiritual”.²

Entretanto, aqueles que não buscam a ideia espiritual – a essência moral – desses preceitos, mas tão somente sua forma, desprezando o fundo, não encontram a doutrina do Cristo e, por essa razão, ela se conserva oculta até hoje.

Assim, quando os discípulos perguntaram a Jesus por que falava por parábolas, Ele lhes disse: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não, pois não estão em condições de compreenderem certas coisas; veem, olham, escutam e não entendem. Dizer-lhes tudo, agora, seria inútil”. ³

Jesus tratava o povo como se trata uma criança, cujas ideias ainda não estão desenvolvidas. Aguardava que a inteligência crescesse para compreender tudo que seria revelado, gradualmente. Isto é, “todo ensinamento deve ser proporcional à inteligência de quem o recebe, e porque há pessoas que uma luz muito viva pode ofuscar sem esclarecer. 4

Assim como acontece a cada indivíduo, a Humanidade também passa por períodos da infância, da juventude e da madureza. Cada coisa deve vir a seu tempo, pois tudo que é plantado fora da estação não produz. Mas, aquilo que é guardado por prudência, cedo ou tarde, será revelado, quando o homem, com a inteligência desenvolvida, procurar, por si só, descobrir. Pela inteligência o homem compreende, se guia e racionaliza sua fé. É por isso que Jesus falava para não pôr a luz debaixo da cama, pois sem a luz da razão, a fé enfraquece.

Todavia, existem aqueles que colocam a luz da verdade escondida. São aqueles que querem dominar esses conhecimentos, essas descobertas. São as religiões que sempre tiveram seus mistérios e cujo exame ainda proíbem; são as pesquisas na área da saúde que por razões comerciais não são trazidas à luz.

Jesus estava certo. Não existe mistério absoluto, pois tudo aquilo que estiver oculto será descoberto. Ele só deixou oculto o entendimento das questões abstratas da sua doutrina. Tendo feito da humildade e da caridade a condição expressa da salvação, tudo que disse e fez, a respeito, é claro, explícito, e não deixa dúvida.

Ele veio nos trazer regras de conduta que precisavam estar claras para que pudessem ser seguidas, e isto era o essencial para aquelas pessoas, ainda ignorantes das coisas do Espírito e tão essencial para nós que, mesmo após vinte séculos, ainda não as compreendemos, porque vêm de encontro aos nossos caprichos, desejos e interesses pessoais.

Aos discípulos que já estavam mais adiantados moral e intelectualmente, podia iniciá-los nos princípios mais abstratos. Por isso disse: “ao que já tem ainda mais se dará e terá em abundância”. Mas, mesmo para eles, algumas coisas não foram reveladas. Somente mais tarde, a ciência e o Espiritismo vieram desvendar alguns pontos obscuros da doutrina do Cristo.

E, ainda hoje, muita coisa está sendo revelada, com prudência, pelos Espíritos encarregados dessa tarefa. Pretensão fantasiosa, ousadia ou ignorância de alguns imaginarem que a Doutrina dos Espíritos será superada e que nada mais tem para nos desvendar.

 

Bibliografia:

1 – Mateus, 13:10-15.

2 – SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensinos de Jesus – 14ª edição – Casa Editora O Clarim, Matão/ SP – 1ª parte, As parábolas e sua interpretação.

3 – Lucas, 18:16-17.

4 – KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. 23, item 1 a 7 e cap. 18, item 15.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita