Combatendo a má
vontade
Uma pessoa muito querida e já idosa das minhas relações
recentemente me confessou as suas agruras para tomar uma
condução. Ela relatou a infelicidade de não ser atendida
pelos motoristas de coletivos - não foram poucas vezes,
aliás -, pelo simples fato de estar sozinha no ponto de
ônibus. Na sua interpretação, alguns desses
“profissionais” não têm paciência para lidar com as
pessoas da terceira idade e as suas dificuldades
físicas. Desse modo, não hesitam em deixá-la na mão nas
circunstâncias descritas. Conforme ela bem lembrou, “não
se dão conta de que também envelhecerão e também terão
os seus problemas...”
A questão envolve fundamentalmente a má vontade humana
e, como tal, suscita outras considerações a respeito de
como lidamos com as necessidades daqueles que procuram
pelo nosso apoio e assistência. Inicialmente, é adequado
recordar que não vivemos totalmente isolados, salvo
raríssimas exceções. Consequentemente, é normal
interagirmos com outras pessoas no nosso dia a dia ou
até mesmo com os animais. Nesse sentido, a boa vontade
pode facilitar as nossas relações, a nossa jornada e,
enfim, o nosso progresso espiritual.
Em contrapartida, a nossa eventual má vontade
prejudicará não apenas os outros que necessitam da nossa
intervenção, mas sobretudo a nós mesmos. E ao assim
procedermos estamos estabelecendo conexões negativas,
afastando a possibilidade de recebermos boas
inspirações, criando desafetos sem a menor necessidade,
atraindo vibrações inamistosas, entre outras coisas. Por
essa razão, o recado do Apóstolo Paulo é altamente
pertinente: “Não vos comuniqueis com as obras
infrutuosas das trevas” (Efésios, 5: 11). Afinal de
contas, o interesse precípuo das entidades infelizes é a
manutenção do atraso humano, o distanciamento dos ideais
divinos e a perpetuação do mal na Terra.
A nossa conduta determina o tipo de entidades que nos
acompanham pela vida. Um cidadão que destila ácido na
fala e no comportamento certamente não atrairá entidades
benevolentes ou sábias para o seu lado. Analisando esse
triste e onipresente aspecto da conduta humana, o
Espírito Emmanuel observou o seguinte na obra Pão
Nosso (psicografia de Francisco Cândido Xavier): “Má
vontade gera sombra”.
Segue daí a conclusão de que uma parte considerável do
mal que grassa no planeta na atualidade advém da má
vontade dos indivíduos em praticar o bem, a
solidariedade, a fraternidade e assim por diante. Ou
seja, falta simplesmente boa vontade para combater as
imperfeições humanas observáveis em toda parte. Com
efeito, continua-se gerando sofrimentos colossais neste
mundo devido à crônica indisposição dos indivíduos em
dissipar as sombras por via de condutas benéficas. Não é
por outra razão que Emmanuel assim resume: “A sombra
favorece a estagnação”.
Portanto, a partir da má vontade se cria um ciclo
perverso no qual as iniciativas e decisões sensatas são
obstadas no nascedouro. Daí alerta Emmanuel para os
perigos subjacentes: “Entregue às obras infrutuosas da
incompreensão, pela simples má vontade pode o homem
rolar indefinidamente ao precipício das trevas”. Desse
modo, a análise constante do teor emocional das nossas
atitudes e das disposições que brotam da nossa alma pode
nos dar evidências concretas a respeito da vontade que
nos impulsiona.