Espiritismo
para crianças

por Célia Xavier de Camargo

Respeito mútuo
 
O senhor Manoel era um homem muito bom e compassivo. Vivia do amanho da terra e suas tarefas eram executadas sempre com amor e devotamento. Ele tinha um filho que, não obstante a educação que lhe dava, era indisciplinado e agia sempre sem se preocupar com os outros, jamais cogitando se prejudicava alguém ou não.

O pai carinhoso tentava orientá-lo para o bem, afirmando-lhe que sempre   devemos  amar  o próximo e respeitá-lo, como Jesus nos ensinou.

– E os animais? - perguntava Toninho, impaciente.

– Os animais também, meu filho. São nossos irmãos menores, credores de toda a nossa consideração e respeito, necessitando da nossa ajuda, tanto quanto nós não prescindimos do concurso deles para nossas tarefas do dia a dia.

Como estavam no campo, o pai fez uma pausa e exemplificou, apontando um animal atrelado ao arado.

– Veja o Gentil, por exemplo. É dócil e manso, nunca desdenhando o trabalho árduo do campo, e nestes anos todos em que trabalhamos juntos nunca o vi rebelde e indisciplinado. Jamais agrediu alguém!

– O Gentil ainda concordo, pois ele o ajuda, papai. Mas os outros!... – retrucou Toninho com desprezo.

– Os outros animais também ajudam, meu filho. Cada qual tem uma tarefa diferente, mas não menos importante. A Mimosa, nossa vaquinha, fornece o leite tão gostoso que bebemos toda manhã; as galinhas fornecem os ovos para a nossa alimentação e o nosso cão trabalha sem descanso, cuidando da defesa da nossa casa. Portanto, todos merecem nosso carinho e gratidão.

Mas Toninho ainda não estava convencido.

No dia seguinte, o senhor Manoel convidou Toninho para ir à cidade fazer umas compras. Toninho, eufórico com o passeio, aboletou-se na pequena carroça, feliz da vida.

Ao chegarem à cidade, enquanto seu pai entrou no armazém para fazer compras, Toninho ficou vendo o movimento da rua.

O tempo foi passando e seu pai não voltava. O menino foi ficando impaciente.

Olhou para Gentil, que permanecia parado, de olhos baixos, humilde, sem dar demonstrações de impaciência. Teve vontade de agredir o animal para ver sua reação.

– Vou dar uma volta. Veremos se ele é realmente obediente.

Toninho olhou ao redor e viu um pedaço de tábua, longo e fino, numa construção ali perto.

Pegou a ripa e, sem titubear, subiu na carroça e ordenou a Gentil que andasse. O animal, não reconhecendo a voz do dono a que estava habituado, não saiu do lugar.

Toninho, tomando da ripa, desceu com ela sobre o lombo do cavalo. Este relinchou de dor e, levantando as patas dianteiras, empinou perigosamente a frágil carroça, jogando Toninho ao chão.

Ao ouvir os gritos na rua, o Sr. Manoel acudiu bem rápido, encontrando o filho no solo, aos berros.

Ao saber do que acontecera, através de pessoas que assistiram ao fato, Manoel ficou indignado.

– Mas, papai, o senhor disse que o Gentil era manso e ele me derrubou! – gritava o garoto, surpreso.

E o pai, pegando o filho e levando-o até junto do animal, disse-lhe:

– E acha que ele poderia agir diferente? Veja o que você fez com o pobre animal!

Do lombo do cavalo escorria um filete de sangue. Toninho não percebera que na ponta da ripa existia um prego e tinha sido a dor do ferimento que fizera Gentil reagir.

Aproveitando a oportunidade que se lhe oferecia, Manoel completou:

– Gentil é manso como um cordeiro. Apenas se defendeu de uma agressão, instintivamente. Todos nós, meu filho, recebemos de acordo com o que tivermos feito. Se você lhe tivesse dado carinho e amor, teria recebido a retribuição correspondente. Como você agrediu, foi agredido. Entendeu?

Muito envergonhado, Toninho balançou a cabeça em sinal de assentimento e prometeu a si mesmo que nunca mais cometeria o mesmo erro.

              

 TIA CÉLIA

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita