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por Cláudio Bueno da Silva

 

Caprichos da humanidade


Allan Kardec, comentando a passagem evangélica “O argueiro e a trave no olho” (Mateus, VII: 3-5) ¹, chama, com muita delicadeza, de “caprichos da humanidade” o fato de cada um ver o mal alheio antes do próprio.

Segundo ele, “É o orgulho, incontestavelmente, o que leva o homem a disfarçar os seus próprios defeitos, tanto morais como físicos”.

Ele tem razão. Para admitir os defeitos que traz em si, o indivíduo precisa ter conquistado uma virtude das mais difíceis: a humildade. Para enxergar qualidades no próximo, precisa exercer o sentimento de caridade. Agindo desta maneira estará dando testemunho de superioridade moral.

Mas o que a experiência diária nos mostra? Que a humanidade é moralmente viciada. E como o orgulho é a fonte de muitos vícios – ainda segundo Kardec –, deduz-se sem dificuldade que os homens são orgulhosos.

Esta conclusão pode soar para muitos como natural e redundante, já que a humanidade é mesmo cheia de imperfeições. Mas a influência desse vício moral – o orgulho – permeia todo o campo prático da vida causando prejuízos a todos. Precisamos combatê-lo em nós, como Jesus o fez, aliás, de forma bem enérgica, usando o termo “hipócritas” ao referir-se aos falsos caridosos.

Às vezes é bem difícil estabelecer as fronteiras que separam o orgulho, o egoísmo e a vaidade. Em muitas ocasiões as três imperfeições morais se manifestam num único comportamento.

Uma mulher chamada vaidosa, que gasta muito dinheiro com produtos de beleza, roupas e adereços o faz por quê? Não estará pretendendo ficar bonita, ou mais bonita, para surpreender as “concorrentes”? Nesse caso não se enquadra também, além da vaidade, o egoísmo de investir recursos excessivos consigo mesma, e ainda o orgulho em se mostrar superior pela beleza?

Outro exemplo prosaico: numa partida de futebol, um dos times avança sobre o adversário desprevenido e o atacante está prestes a fazer o gol. O goleiro sai em sua direção tentando impedi-lo. O atacante percebe ao seu lado um colega de time totalmente livre e em ótimas condições para marcar, mas, mesmo obstruído pelo goleiro, prefere chutar e perde o “gol feito”.

O que temos aqui? O egoísta que não passou a bola ao colega mais bem posicionado. O orgulhoso que se achou autossuficiente para resolver sozinho o lance. E o vaidoso, por antever os aplausos e os abraços depois do gol marcado.

Assim, como em tantas outras situações mais ou menos graves, o orgulho, pai de todos os defeitos, tem atrapalhado o progresso do ser humano. Assim também a humildade – mãe de todas as virtudes – o elevará um dia, bem alto, quando tiver tomado por inteiro o seu coração.

 

¹ Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, edição LAKE.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita