Eu sou espírita!
Sou espírita há relativamente pouco tempo,
aproximadamente há 10 anos. Nasci na África, mais
precisamente em Moçambique, e desde criança somos
ensinados e acabamos nos habituando a observar com
atenção tudo o que está à nossa volta, até porque,
muitas vezes, nossa sobrevivência no meio da selva
depende de nosso estado de alerta. E, meus queridos
leitores, ao observar os animais, encontramos
comportamentos similares aos nossos. Por isso, a
facilidade em identificarmos num ser humano as
características de um determinado animal.
Tudo isto apenas para dizer o quanto gosto de prestar
atenção também nas situações e no ser humano no dia a
dia.
Assim, gostaria de comentar alguns procedimentos, que
vejo nos espíritas. Desde já, faço bem claro que,
felizmente nem todos os espíritas procedem da mesma
forma.
Vamos à primeira questão: Eu sou espírita.
Já cansei de ver e ouvir espíritas falando sobre a sua
“adesão” ao Espiritismo.
Dizem: “Eu sou católica (o). Na verdade, todos nós somos
católicos (depois meio a medo como que justificando),
mas “virei” espírita e estou vindo de vez em
quando ao Centro (aí, olha para ver a reação dos seus
interlocutores) e acrescenta: mas, quem é católico,
sempre é católico”.
Minha pergunta:
Afinal, o que é esta pessoa que vai ao Centro Espírita
regularmente, frequenta os cursos da Casa, e AINDA se
manifesta em público desta forma?
Recordo uma reunião de executivos a que estive presente
e onde eu era a única mulher. De repente, um dos
executivos, o mais importante, disse, nem lembro mais
qual o motivo: “Eu sou católico”. E eu, automaticamente,
reagindo como uma bola de ping-pong, naquele vai e vem,
disse bem segura de mim: “Eu sou espírita”. Daquela
reunião iria surgir um projeto que me daria uma
excelente remuneração pelo meu trabalho. Fez-se um
silêncio “gelado”. E eu fiquei firme, olhando o
“poderoso” tranquilamente nos olhos. De repente, ouvi
outro executivo: “Eu também sou espírita”, e mais um,
abrindo um grande sorriso: “Eu também”. A tensão
aliviou, houve troca de sorrisos e o “chefão” disse: “Eu
respeito, sou católico, mas respeito”. E eu no mesmo
tom: “Eu também. Sou espírita, mas respeito
profundamente todas as outras religiões”.
Bem, saí de lá com um projeto que me rendeu um bom
dinheiro e, ACIMA DE TUDO, afirmando o que na realidade
sou: “Eu sou espírita”.
Aqui na cidade onde moro, soube de um Centro que mandou
fazer uns adesivos para colocar no vidro traseiro do
carro. “EU SOU ESPÍRITA”.
Procurei um desses adesivos, mas já haviam sido todos
distribuídos.
Falando com o Presidente, mostrei minha estranheza por
nenhum - da centena de carros ali estacionados - mostrar
sequer o tal adesivo. E a resposta veio pronta: sabe, a
maior parte são carros de luxo e é perigoso, porque o
pessoal, quando vê que somos espíritas, arranha os
carros e depreda e dá um prejuízo danado! Isto que estou
contando ocorreu há um ano, mais ou menos, não foi no
século passado... Recordei a diferença entre estes e os
Cristãos devorados pelos leões na Roma antiga...
E aí o Presidente, querendo aliviar o assunto e tentando
lidar com a questão com um pouco de humor, acrescentou:
veja quantos carros, a casa está cheia, dá um
contentamento olhar esse mar de gente. E eu ia responder
da minha forma, mas guardei meus pensamentos. Eu ia
perguntar: “que importa ter uma centena ou mais de
carros, a maior parte de luxo, se os motoristas que os
dirigem”... (não sei a razão precisa, mas me lembrei da
minha África e das avestruzes que acreditam que,
enfiando a cabeça na terra, ficam bem protegidas e
escondidas de tudo.)
Temos que ter cuidado... -
Nossa Doutrina nos ensina que devemos acolher a todos e
fazer o bem sem olhar a quem. Assim, as portas de nossas
Casas Espíritas encontram-se abertas a todos os
seguidores de outras religiões, distribuímos cestas
básicas a todos os que necessitam e não fazemos qualquer
distinção se o que recebe a cesta é Espírita,
Evangélico, Católico, Budista, ou até mesmo se é Ateu.
Mas, o que me causa estranheza é ouvir certos dirigentes
dizerem: “Temos que ter cuidado, porque há evangélicos
presentes e não podemos ferir seus sentimentos, ou não
devemos pressionar” (esta última assertiva até dá para
entender, desde que consideremos que não podemos
pressionar alguém a “virar” espírita).
Cheguei a ouvir o absurdo: “Não podemos falar de Nossa
Senhora, porque há Evangélicos presentes”. O que me foi
ensinado é que Nossa Senhora, para os espíritas, é um
Espírito Iluminado, Superior, assim como todos os outros
santos da Igreja Católica.
A minha pergunta é:
- Os Evangélicos e Católicos, que vêm aos Centros
Espíritas nos dias das famílias que precisam de ajuda e
recebem uma cesta básica semanalmente, sem qualquer
distinção, não estão cientes de que vêm a uma Casa
Espírita? Se a sua intenção é apenas a de receber sua
subsistência (o que, aliás, é a maior parte), qual a
razão de NÓS termos que ter cuidado? Por acaso os
Pastores e os Padres têm que ter cuidado quando um
espírita resolve ir a um Templo ou a uma Igreja? Se não
estamos pressionando ninguém, por que temos que ter
cuidado? Desculpem-me os leitores, mas até hoje ainda
não entendi.
Se a Casa é espírita e, com base nas obras de Allan
Kardec, se ensina a Doutrina Espírita Kardecista, por
que temos que ter cuidado se estão presentes católicos,
evangélicos, ou outros irmãos nossos de outros
segmentos?
Não podemos falar que somos espíritas -
Há pouco tempo, prestava serviços, como médium, na
doação de energia positiva e espiritual, de cura, para
um grupo de senhoras com câncer de mama. É um trabalho
difícil, porque algumas destas senhoras, já com
metástase, sabem que seu estado é terminal. Mulheres
jovens - dá uma angústia muito grande, mesmo sendo
espírita e sabendo a explicação destas situações -,
muitas têm filhos pequenos e não têm com quem deixá-los,
e o grande sofrimento já nem sequer é o câncer que as
devora, nem a morte que se aproxima, mas o pânico de
onde, como e com quem vão ficar seus “filhotes”.
Fui chamada pelo responsável dessa Fundação e informada
que eu não podia dizer que sou espírita, não deveria
mencionar Deus, mas falar apenas numa forma de
energia... Amigos (as), é difícil trabalhar assim, não
assumir o que você é na realidade e não poder defender a
Doutrina que se escolheu e nem falar em Deus que, no meu
caso concreto, é a força incontestável da minha Fé – não
o Deus que se ensina nas escolas, o castigador,
vingativo, controlador, mas O BOM, O EQUÂNIME, O
AMOROSO, Aquele que sempre nos perdoa e acolhe, e Aquele
que NUNCA nos decepciona, embora nós o façamos
constantemente!
E para terminar:
Nós não somos Espíritas de mesa branca! -
Desde o Período da Pedra Lascada, ou Paleolítico,
calcula-se que 12 mil anos A.C. aproximadamente, já
encontramos indícios de que o Homem acreditava na
continuidade da vida após a morte. Há pinturas rupestres
retratando possíveis guerreiros mortos com sua arma (uma
pedra lascada ou, mais tarde, polida) ao lado do corpo
para poder se defender na nova dimensão. Isto se
encontra muito mais claro e detalhado na época da
Antiguidade, na Babilônia, no Egito, onde, além da arma,
era colocada comida para que nada faltasse ao morto do
outro lado, na sua continuação de vida. Nos túmulos dos
Faraós, encontrados nas célebres Pirâmides do Egito,
além de armas e comida, encontramos também verdadeiros
tesouros para que nada possa vir a faltar a tão ilustres
senhores.
Portanto, vamos seguir juntos neste simples raciocínio.
Naquela época, já se acreditava que havia uma
continuação de vida!!!
No século XIX, Allan Kardec - com base nesta crença e
com estudos e experiências minuciosas, às quais dedicou
grande parte da sua vida e rigorosa e criteriosamente
analisou tudo o que vivenciou nesta área, sendo ele um
brilhante intelectual e profundo estudioso – resolveu
organizar todo o vasto conhecimento e nisso foi
auxiliado pela Espiritualidade. Toda a sua meritória
obra, solidificada numa disciplina de trabalho hercúlea,
nos oferece a DOUTRINA ESPÍRITA e seus fundamentos.
Não é que já não havia antes este conhecimento empírico
que nos levava a crer que existia vida após a morte.
Kardec codificou esses conhecimentos e daí a DOUTRINA
ESPÍRITA KARDECISTA.
Então, nós não somos Espíritas de mesa branca.
Nós somos, sim, Espíritas Kardecistas e é esta a
Doutrina e apenas esta que deve imperar nos Centros
Espíritas que divulgam a Doutrina Espírita de Allan
Kardec. Nada de folclore, nada de complementos, nada de
última moda... Apenas: sou espírita kardecista!
E, me perdoem os leitores, porque tenho um orgulho e um
destemor grande (e aí peco na pureza de meu Espiritismo,
porque o orgulho é o pior dos sentimentos, mas aqui é no
sentido sadio) de poder dizer sempre e sempre, na minha
tentativa de ser alguém que tem um coração generoso, que
procura ajudar sempre quem está em dor ou em
necessidade, que cai num dia, mas levanta e sacode a
poeira, e segue novamente nessa eterna luta de procurar
ser melhor a cada dia e poder dizer: Eu sou espírita
kardecista!