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por José Lucas

 

A doença do pescador


2 de Agosto de 2017, praia da Foz do Arelho, Caldas da Rainha, Portugal, 16h45, parque de estacionamento perto do Facho, pescador atacado por vírus mortal. Cuidado, pode ser o próximo, previna-se, cuide da sua saúde.


A tarde convidava a aproveitar os últimos raios de sol, fora do horário em que os raios ultravioletas já não oferecem perigo.

Estacionamento cheio. Vejo um casal com uma filhota adolescente a entrarem num carrinho Skoda.

Que bom, vou arranjar lugar. Pergunto, com um gesto, se vão sair. Dizem-me que não…

Hummm… estanho, então vêm da praia, com a tralha toda, estão a entrar no carro, decerto vão sair…

Decidi esperar um pouco, devem ter percebido mal.

Enquanto mãe e filha se acomodavam no carro, o homem ia montando uma grande cana de pesca.

Esperei, pacientemente. De repente, aparece um condutor em velocidade excessiva, num Peugeot vermelho, dá a volta lá ao fundo.

Percebi a marosca. Estavam à espera que o amigo viesse, para a senhora sair com o carro e o amigo estacionar.

Saí do carro e, educadamente, disse: “Eu cheguei primeiro”, ao que o senhor respondeu: “Ele é meu amigo e vamos pescar os dois, por isso guardei o lugar”.

Contrapus: “o que o senhor está a fazer não é legal, pois a via é pública e, além disso, é imoral. Gostaria que lhe fizessem o mesmo? Devemos fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem. Não se preocupe, vou procurar outro lugar, mas medite na sua atitude, que é imoral e antiética.”

Andei uns metros e, entretanto, estacionei o carro e fui um pouco até a praia.

Fiquei tranquilo, a pensar naquele pescador desportivo: se a sua atitude foi incorreta, o pior foi o exemplo que deu à filha adolescente. Estou a imaginar, à noite, ao ver o telejornal, a queixar-se que o mundo está mal, que “ninguém faz nada, que é preciso mudar o estado de coisas…” 

O vírus do egoísmo mata a generosidade, a gentileza, o são convívio entre as pessoas, mata o bem-estar pessoal.

Senti-me bem comigo mesmo…

Tenho vários defeitos, mas este já não tenho: o egoísmo exacerbado e a falta de civismo.

Fiquei feliz comigo próprio (embora tenha muitos outros defeitos a superar), “que bom que já não sou assim, um dia este senhor também vai ser diferente”.

Em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, um livro fabuloso que nos explica quem somos, de onde viemos, para onde vamos, o que estamos a fazer aqui na Terra, o porquê das dissemelhanças de oportunidades, os bons Espíritos dizem que a causa de todos os males é o egoísmo, verdadeira erva daninha que devemos tentar extirpar do íntimo o quanto antes.

O vírus do egoísmo mata!

Mata a generosidade, mata a gentileza, mata o são convívio entre as pessoas, mata o bem-estar pessoal.

No entanto, tem cura.

O remédio foi apresentado por Jesus de Nazaré há mais de 2 mil anos: “Não fazer ao próximo o que não desejamos para nós mesmos”.

Olhei para o senhor, pele curtida pelo sol, quiçá portador de múltiplos problemas, portador do vírus do egoísmo e, não pude deixar de sorrir, feliz, por saber que ao longo das múltiplas reencarnações, passo a passo, ao ritmo de cada um, iremos largando estes apêndices dolorosos, que ainda criam tribulações nas nossas vidas e na vida de relação: os defeitos.

Tenho a certeza de que, um dia, também ele estará curado do vírus, que ainda o condiciona na sua maneira de agir… o vírus do egoísmo!!!

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita