A
doença do
pescador
2 de
Agosto de 2017, praia da Foz do Arelho, Caldas da
Rainha, Portugal, 16h45, parque de estacionamento perto
do Facho, pescador atacado por vírus mortal. Cuidado,
pode ser o próximo, previna-se, cuide da sua saúde.
A tarde convidava a aproveitar os últimos raios de sol,
fora do horário em que os raios ultravioletas já não
oferecem perigo.
Estacionamento cheio. Vejo um casal com uma filhota
adolescente a entrarem num carrinho Skoda.
Que bom, vou arranjar lugar. Pergunto, com um gesto, se
vão sair. Dizem-me que não…
Hummm… estanho, então vêm da praia, com a tralha toda,
estão a entrar no carro, decerto vão sair…
Decidi esperar um pouco, devem ter percebido mal.
Enquanto mãe e filha se acomodavam no carro, o homem ia
montando uma grande cana de pesca.
Esperei, pacientemente. De repente, aparece um condutor
em velocidade excessiva, num Peugeot vermelho, dá a
volta lá ao fundo.
Percebi a marosca. Estavam à espera que o amigo viesse,
para a senhora sair com o carro e o amigo estacionar.
Saí do carro e, educadamente, disse: “Eu cheguei
primeiro”, ao que o senhor respondeu: “Ele é meu amigo e
vamos pescar os dois, por isso guardei o lugar”.
Contrapus: “o que o senhor está a fazer não é legal,
pois a via é pública e, além disso, é imoral. Gostaria
que lhe fizessem o mesmo? Devemos fazer aos outros o que
gostaríamos que nos fizessem. Não se preocupe, vou
procurar outro lugar, mas medite na sua atitude, que é
imoral e antiética.”
Andei uns metros e, entretanto, estacionei o carro e fui
um pouco até a praia.
Fiquei tranquilo, a pensar naquele pescador desportivo:
se a sua atitude foi incorreta, o pior foi o exemplo que
deu à filha adolescente. Estou a imaginar, à noite, ao
ver o telejornal, a queixar-se que o mundo está mal, que
“ninguém faz nada, que é preciso mudar o estado de
coisas…”
O vírus do egoísmo mata a generosidade, a gentileza, o
são convívio entre as pessoas, mata o bem-estar pessoal.
Senti-me bem comigo mesmo…
Tenho vários defeitos, mas este já não tenho: o egoísmo
exacerbado e a falta de civismo.
Fiquei feliz comigo próprio (embora tenha muitos outros
defeitos a superar), “que bom que já não sou assim, um
dia este senhor também vai ser diferente”.
Em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, um
livro fabuloso que nos explica quem somos, de onde
viemos, para onde vamos, o que estamos a fazer aqui na
Terra, o porquê das dissemelhanças de oportunidades, os
bons Espíritos dizem que a causa de todos os males é o
egoísmo, verdadeira erva daninha que devemos tentar
extirpar do íntimo o quanto antes.
O vírus do egoísmo mata!
Mata a generosidade, mata a gentileza, mata o são
convívio entre as pessoas, mata o bem-estar pessoal.
No entanto, tem cura.
O remédio foi apresentado por Jesus de Nazaré há mais de
2 mil anos: “Não fazer ao próximo o que não desejamos
para nós mesmos”.
Olhei para o senhor, pele curtida pelo sol, quiçá
portador de múltiplos problemas, portador do vírus do
egoísmo e, não pude deixar de sorrir, feliz, por saber
que ao longo das múltiplas reencarnações, passo a passo,
ao ritmo de cada um, iremos largando estes apêndices
dolorosos, que ainda criam tribulações nas nossas vidas
e na vida de relação: os defeitos.
Tenho a certeza de que, um dia, também ele estará curado
do vírus, que ainda o condiciona na sua maneira de agir…
o vírus do egoísmo!!!