E nós, como
estamos?
Na cidade onde moro fizeram uma tal de “queima do alho”,
da qual não sei fornecer os detalhes porque todas as
vezes que sacrificam animais que não querem morrer para
satisfazer a gula do ser humano, mantenho-me a
distância, não porque sou evoluído, mas porque dói em
minha alma o sofrimento desnecessário dos animais.
Mas o que eu queria comentar, e o faço, é que um bom
dinheiro arrecadado com essa tal de “queima do alho” foi
roubado de um dia para o outro, o que alimentou a
crítica contra a pessoa ou pessoas que tiveram a falta
de humanidade para cometer tal ato, já que o dinheiro
tinha finalidades beneficentes. Aqui diziam: “Pessoas
desalmadas! Como tiveram coragem de roubar um dinheiro
destinado a fazer bem aos outros?!” Acolá criticavam:
“Como podem existir pessoas sem coração ao ponto de
roubar um dinheiro que tinha o destino de amparar aos
necessitados?!” Mais além a população se revoltava:
“Cambada de gente sem-vergonha! Por que não vão
trabalhar ao invés de roubar um dinheiro com a
finalidade de ajudar àqueles que precisam?!”
Quando aconteceu o recente aumento dos combustíveis na
situação financeira em que se encontra o país, a crítica
também bateu pesado: “É assim que desejam controlar a
inflação, promover empregos, melhorar a situação
financeira e social do país?! Políticos insensíveis!
Estão cansados de saber que o aumento de combustíveis é
repassado nos produtos finais que chegam ao coitado do
povo que já paga um dos impostos mais caros do mundo!”
De repente me deu a impressão de que vivemos em dois
mundos: uma realidade onde as pessoas só cometem erros e
ficam do “lado de lá”, e do outro lado seres humanos que
vivem a acertar e só merecem aplausos.
Emmanuel me socorreu com a página Reclamações do
livro Palavras De Vida Eterna. Já de início o
ilustre Mentor traz a citação do apóstolo Tiago, 4:17:
“Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o
faz, nisso está pecando.”
Pronto! O negócio complicou porque estamos totalmente
envolvidos nessa afirmativa do apóstolo! Quem não sabe
que deve fazer o bem? E o fazemos no limite de nossas
forças? Mas a situação piorou ainda mais com a leitura
da questão 642 d’O Livro dos Espíritos, porque
nela está muito claro que não bastará não fazer o mal
para ser agradável a Deus e assegurar uma boa posição no
mundo espiritual, porque responderemos também pelo mal
que resulte do bem que não tenhamos feito! E isso
ocorreu exatamente na última onda de frio violenta que
abateu sobre o país onde uma pessoa que dormia nas ruas
da cidade de São Paulo foi a óbito. Não recebeu o bem
que seria um abrigo que a livrasse das baixas
temperaturas e, por essa falta de caridade, resultou o
mal de se perder essa vida pelo rigor do inverno.
Vamos mergulhar de cabeça como se costuma dizer na
página de Emmanuel, mesmo que de modo parcial.
“Censuras com grande alarde os que se oneraram, nos
delitos do furto; entretanto, se acumulas inutilmente os
recursos necessários ao sustento do próximo, não podes
alegar inocência.”
Acusas os que desceram à criminalidade, mas, se nada
realizas pela extinção da delinquência, não te cabe o
direito de reprovar.
Apontas o egoísmo dos governantes; no entanto, se te
afervoras no egoísmo dos dirigidos, deitas apenas
conversa vã.
Entra no serviço de alma e coração, para que possas
comentá-lo.
Ninguém pode exigir dos outros o que não dá de si mesmo.
Quem sabe o que deve fazer, e não faz, deserta dos
deveres que lhe competem, caindo em omissão lamentável,
e, se intenta atrapalhar quem procura fazer, certamente
responderá com dobradas obrigações pelo que não fizer.”
De que lado do “bolo” estamos nós? Não roubamos o
dinheiro da “queima do alho”. Não promovemos o aumento
dos combustíveis. Mas aquilo que sabemos nos caber
realizar, como está a nossa consciência? Fazemos o bem
no limite de nossas forças, ou essas forças estão muito
anêmicas ainda? Será que nenhum mal resultou do bem que
deixamos de fazer? Contemplando a mesa farta e exagerada
que nos serve, não estaríamos de alguma forma
esquecendo-nos da parcela que poderia ser destinada aos
que não possuem sequer um pedaço de pão como refeição do
dia? Abrindo nosso guarda-roupa será que nenhuma peça
poderia estar aquecendo o corpo de algum semelhante?
Considerando que temos apenas dois pés, será que nenhum
par de sapatos à nossa disposição poderia estar
revestindo outros pés?
Mesmo que estejamos do outro lado da “queima do alho” e
do aumento de combustíveis, como será a nossa posição
diante da pergunta do apóstolo Tiago: “aquele que sabe
que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando”.