Espiritualidade
e mistério:
ainda faz
sentido tal
percepção?
Dois pesquisadores neozelandeses recentemente
asseveraram num estudo publicado no Eletronic Journal
of Business Ethics and Organization Studies que
“Espiritualidade é mistério”. Cumpre esclarecer
inicialmente que essa frase aparece meio, digamos, solta
no contexto geral do texto. No entanto, ela merece,
mesmo assim, uma reflexão mais profunda à luz das
revelações dos Espíritos e do cabedal de conhecimentos
compilados pelo Espiritismo.
Imaginamos o frisson causado pela experiência das irmãs
Fox com o Espírito Charles B. Rosma, ocorrida a partir
de 31 de março de 1848, no condado de Hydesville, em
Nova York. Essas comunicações – essencialmente entre
“vivos e mortos” – inauguraram uma nova fase nesse
campo. A bem da verdade, a relação entre membros dos
dois planos da vida sempre existiu. Mas é inegável que
esse episódio despertou uma curiosidade provavelmente
nunca antes vista.
Como se sabe, anos depois Allan Kardec encetou
investigações sobre o assunto com extremo critério e
seriedade, extraindo daí conclusões reveladoras para a
humanidade acerca da vida espiritual. O seu iluminado
Pentateuco é o resultado desse esforço. Por sua vez, a
ciência contemporânea interpreta o construto da
espiritualidade como algo multifacetado. De fato, há
muitos ângulos de observação para analisá-lo e
percebê-lo. Nesse sentido, os cientistas têm sido
bem-sucedidos em definir e/ou captar o sentido do termo,
como ele é percebido pelas pessoas e a sua conotação
prática.
No entanto, há o seu aspecto mais transcendente e que já
foi também suficientemente explicado, embora pouquíssimo
explorado pela academia. Por isso, é vital não se perder
de vista tal aporte de conhecimento de natureza
transcendental para embasar melhor as conclusões. Mais
ainda, é imprescindível ir mais fundo no assunto para se
evitar conjecturas infundadas e ilações inconsistentes
diante das abundantes evidências já mapeadas e da
própria lógica. Portanto, decorridos exatos 160 anos da
publicação da 1ª edição de O Livro dos Espíritos,
não é mais cabível emitir tal tipo de afirmação,
especialmente em publicação científica.
Há que se reconhecer as dificuldades que a ciência tem
para esmiuçar os fenômenos espirituais, a despeito do
avanço das investigações concernentes aos efeitos da
mediunidade. Mesmo assim parece-me pouco crível que
instrumentos eminentemente materiais - e métodos de
pesquisa correspondentes - possam vislumbrar por inteiro
os aspectos espirituais que nos cercam – pelo menos por
ora. Desse modo, chega a um ponto que a ciência
tradicional não consegue avançar e, assim, temos que
aceitar os seus limites de investigação.
Diante de tal fato, é preciso buscar a elucidação por
vias indiretas e aceitar o que não se encaixa exatamente
no chamado mainstream. É preciso abrir a mente
para outras possibilidades talvez mais reveladoras. Caso
contrário, o pesquisador continuará falhando no
propósito de desvendar os enigmas. O tema da
espiritualidade é típico desse cenário.
Graças à intervenção divina já temos pleno conhecimento
do que nos aguarda do lado de lá – aceite a ciência ou
não. Em outras palavras, o repto de “a cada um segundo
suas obras” deve ser considerado como um alerta sincero
– aliás, de quem nos ama verdadeiramente - para que nos
conduzamos direito pelas veredas da vida. A expressão de
que “na casa do Pai há muitas moradas” está estribada
nos relatos de quem nelas vivem. A fonte epistêmica
espírita identificou que, de fato, há inúmeras cidades e
dimensões do lado de lá abrigando Espíritos de todos os
matizes evolutivos. A vida vibra por toda parte e o
imperativo do progresso atinge a todas as criaturas.
Todos nós temos necessidades espirituais e, assim
sendo, temos que alimentar as nossas almas com o
conhecimento libertador, isto é, aquele que nos revela
as razões das coisas. É preciso vasculhar essas fontes e
integrar as suas descobertas em nossos corações e mentes
para que reflitamos condutas elevadas. O Espiritismo tem
cumprido um papel notável nesse particular. Como disse
Jesus, “... nada há
encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto,
que não haja de ser sabido” (Lucas, 12: 2). É
evidente que ainda não sabemos tudo. A revelação do
conhecimento vem de acordo com a maturidade psicológica
e intelectual da humanidade. Mas pelo que já é possível
deduzir, o mistério da espiritualidade, no seu aspecto
mais básico, já foi devidamente esclarecido há muito
tempo pelas mensagens reluzentes do Consolador
Prometido.