Como o
Espiritismo nos
apresenta a
felicidade
O desejo de ser feliz é inerente à criatura humana e o
Espiritismo auxilia nessa busca, na concretização desse
objetivo, porque suas diretrizes morais permitirão a
exata compreensão do que é a verdadeira felicidade e
quais são os meios eficazes de atingirmos esse estado da
alma.
O nobre Codificador, Allan Kardec, escreveu um notável
artigo na Revista Espírita de janeiro de 1860, com o
título “O Espiritismo em 1860”, onde afirma que as
ideias espíritas progridem e auxiliam o indivíduo a
compreender o futuro, não um futuro de desgraça ou de
felicidade advinda de privilégios, mas um futuro
racional, decorrente das nossas ações e escolhas feitas
na atual reencarnação, afastando, dessa forma, a
incerteza sobre o futuro, e a incerteza, diz ele, é
sempre um tormento, portanto, um obstáculo à felicidade.
Sem essa visão correta do futuro e das leis divinas,
Allan Kardec afirma que a pessoa não terá motivação para
ver o bem do próximo, não terá resistência para
enfrentar as privações e, no afã de ser feliz, desejará
gozar, ter o que os outros possuem, se preocupar apenas
em ter, tornando-se ávida, invejosa e egoísta, e não se
tornará verdadeiramente feliz, porque o presente lhe
parecerá curto.
No referido artigo, Allan
Kardec concluiu que:
“Repetimos que a principal
fonte do progresso das ideias espíritas está na
satisfação que proporcionam aos que se aprofundam, e que
nelas veem algo mais do que fútil passatempo. Ora, como
antes de tudo todos querem a felicidade, não é de
admirar se liguem a uma ideia que torna feliz [...] O
Espiritismo progrediu principalmente desde que melhor
compreendido em sua essência íntima, desde que se viu o
seu alcance, pois toca na corda mais sensível do homem:
a de sua felicidade, mesmo neste mundo [...]”.
Assim sendo, percebemos que o Espiritismo, na sua missão
de iluminar consciências e destruir o materialismo, tem
ajudado a criatura humana a entender e a construir a
própria felicidade.
É notável buscarmos o tópico “felicidade e infelicidade
relativas”, na 4ª parte de O Livro dos Espíritos, e
constatarmos que as elucidações dos benfeitores
espirituais se mantêm atuais, parecendo que foi escrita
nesses dias, porque, infelizmente, as mazelas e os
equívocos morais de grande parte das criaturas humanas
continuam no mesmo patamar.
Nas questões 920 e 921 do aludido livro, Allan Kardec
pretende obter da espiritualidade superior a gradação de
felicidade possível na Terra, obtendo como resposta que
a felicidade absoluta, completa, é impossível, pois
ainda vivemos num mundo de provas e expiações, mas
depende do homem “abrandar os seus males e de ser
feliz quanto se pode ser sobre a Terra” e “ao
praticar a lei de Deus, poupa-se de muitos males e pode
até desfrutar de uma felicidade tão grande quanto
comporte a sua existência num plano grosseiro”.
O confrade Raul Teixeira, com a sua pedagogia
incomparável, nos ajuda a entender essa questão da
felicidade relativa, afirmando que: “[...] Então, é
óbvio que na Terra jamais encontramos uma pessoa que
usufrua de felicidade total. Encontramos alguém que tem
muito dinheiro, mas não tem saúde. Outros que têm muita
saúde, mas não têm dinheiro. Encontramos quem mora bem,
mas carrega problemas familiares tremendos; alguém que
mora no gueto, na favela, mas a família é irmanada, é
unida [...]”. (Livro “Vida e Valores – volume 2”,
capítulo “A felicidade é deste mundo”, editado pela
Federação Espírita do Paraná.)
Todavia, é possível ser feliz dentro dos padrões
relativos da Terra, seja na concretização dos sonhos
materiais, desde que honestos e equilibrados, seja na
conquista do brilho da alma, que surge com a melhoria
dos nossos sentimentos.
Nas questões materiais, não será errado buscar a
melhoria de nosso padrão intelectual, financeiro e
social, conforme assevera Raul Teixeira, na referida
obra, mas de entender que a busca principal, a
felicidade mais ampla, não estará nas coisas materiais,
imediatas, mas nas questões do sentimento, onde
buscaremos desenvolver amizades, cuidar da família,
ajudar o próximo, tratar nossos conflitos íntimos etc.
No atual estágio da tecnologia, se não equilibramos
nossos apetites materiais, estaremos sempre infelizes,
porque sempre haverá algo novo e mais moderno. Muitas
vezes nem sequer desfrutamos do que temos e
conquistamos, porque já estamos ambicionando o produto
novo que foi lançado.
Vejamos a lucidez dos benfeitores espirituais na questão
926 de O Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec
pergunta se a civilização, ao criar novas necessidades,
não gera novas aflições, obtendo a seguinte resposta:
“Os males deste mundo existem na razão das necessidades
superficiais que os homens criam para si mesmos. Aquele
que sabe limitar os seus desejos e ver sem cobiça o que
está além de suas possibilidades, preserva-se de muitos
aborrecimentos nesta vida. O mais rico é aquele que tem
menos necessidades [...]”.
De fato, saber limitar os desejos e ver sem cobiça o que
o outro possui é um dos segredos para se buscar a
felicidade na Terra, porque saberemos definir o que é
necessário e o que é supérfluo para as nossas vidas.
Aliás, é importante saber, para ser feliz, olhar para
aqueles que têm menos do que nós e são felizes,
demonstrando que podemos ser felizes com o que temos,
deixando de lado os caprichos ridículos que criamos,
conforme asseveram os benfeitores espirituais na questão
923 de O Livro dos Espíritos.
Dessa forma, vamos entendendo que a felicidade decorre
das escolhas que vamos fazendo durante a nossa vida,
sobretudo aquelas relacionadas ao sentimento, porque à
medida que vamos vivenciando o amor estaremos cada vez
mais ampliando o nosso estado de felicidade, que fará
com que o cérebro libere, naturalmente, os
neurotransmissores específicos (dopamina, serotonina,
endorfina e ocitocina) para que possamos, a nível
biológico, sentir esse estado emocional.
A questão 922 de O Livro dos Espíritos sintetiza a
medida exata da felicidade comum a todos os homens,
pontuando que, para a vida material, será a posse do
necessário, e para a vida moral, será a consciência
tranquila e a fé no futuro.
Não podemos deixar de registrar que no item “fé no
futuro”, o Espiritismo nos oferta em abundância a
esperança na vida futura, porque somos Espíritos
imortais em processo de aprendizagem na Terra, de forma
que todos os males são passageiros e levaremos para a
vida futura as nossas conquistas intelecto-moral,
geradoras da nossa felicidade.
Encerramos este artigo com a lúcida ponderação de Raul
Teixeira, que nos orienta que: “Podemos ser felizes,
na Terra, sem esperar a felicidade no reino dos céus,
depois da morte, porque aprendemos que a felicidade
maior não é propriamente aquela que apenas nós
vivenciamos, mas aquela que experienciamos, doando-nos
aos outros. Tudo quanto doamos é o que verdadeiramente
nos pertence; o que tentamos guardar, reter, armazenar é
o que perdemos. Por isso, podemos ser felizes, neste
mundo, usufruindo as coisas materiais e servindo a Deus
acima de tudo”. (Livro “Vida e Valores – volume 2 –
citado capítulo.)