Espiritismo
para crianças

por Célia Xavier de Camargo

 
A abóbora inútil


Certa abóbora cresceu forte e sadia num lindo quintal.

Quando pequenina sonhava em ser alguém de valor e ficava horrorizada quando suas irmãs, as outras abóboras, eram levadas para servir de comida na mesa do patrão.

Ficava pálida de susto sempre que alguém aparecia, torcendo para não ser a escolhida.

Com o passar do tempo, tornou-se uma linda abóbora de casca alaranjada, dura e reluzente. Estava no auge de suas condições físicas e sentia-se orgulhosa de si mesma.

Quando alguém se aproximava procurando uma bela abóbora para fazer um refogado ou um saboroso doce, ela se encolhia, apavorada, escondendo-se das mãos hábeis na poda, afirmando:

— Eu é que não vou servir de alimento para ninguém! Vejam se tem cabimento!

Quando uma criança surgia, nas noites frias de junho, procurando uma abóbora para brincar, ela aconchegava-se às folhas procurando passar despercebida.

E ao ver uma de suas irmãs no alto do mourão da cerca, sem o miolo e com os olhos, nariz e boca iluminados por uma vela, para assustar os incautos, na brincadeira infantil, ela balançava a cabeça, afirmando, convicta:

— Jamais me prestarei a esse papel. Que vexame!

As outras irmãs, resignadas e conscientes da sua condição, lhe diziam:

— Esse é nosso destino. Para que servirá nossa vida se não formos úteis de alguma maneira? Quem fará nossa tarefa?

Mas a linda abóbora, balançando a cabeleira de cachos de folhas, retrucava:

— Não eu. Desejo outra vida para mim. Não me prestarei a ser devorada. Muito menos a servir de espantalho para ninguém.

As outras se calavam, percebendo que não adiantava conversar, porque ela não mudaria de ideia.

O tempo foi passando. Daquela safra de abóboras poucas restavam. Cada qual tinha sido encaminhada para seu destino, e as últimas, que já não estavam tão boas, foram servir de alimentação aos porcos.

Mas aquela abóbora, tão bem se escondeu no meio da vegetação aproveitando um buraco existente no solo, que passou despercebida.

Quando o empregado foi fazer a limpeza do terreno para novo plantio, encontrou-a bem escondidinha, suja de terra e toda estragada pelos vermes.

Chamou o patrão e perguntou:

— Veja o que encontrei! Esta velha, suja e feia abóbora!  O que faremos com ela?

O patrão olhou com asco e respondeu cheio de desprezo:

— Jogue-a no lixo! Do jeito que está não serve nem mesmo para alimentar os porcos. É uma pena, porém não poderá ser aproveitada.

E a pobre abóbora, que desejara tanto um destino diferente, foi atirada no meio do lixo, cheia de arrependimento e de tristeza pela oportunidade que tinha perdido.

Compreendeu, afinal, que todos temos uma tarefa a cumprir, e a dela, abóbora, era servir às pessoas.

Cheia de humilhação, pois era muito orgulhosa, em meio aos detritos do monturo, tanto chorou e suplicou uma nova oportunidade que Deus a atendeu.

Após algum tempo, suas sementes caíram na terra e sofreram uma transformação.

E quem passasse perto daquele monte de lixo poderia ver uma linda plantinha, forte e sadia, que brotava rompendo o solo.

E essa plantinha se transformou num belo pé de abóboras que, cheia de felicidade, via os frutos nascendo, tenros e macios, para uma nova vida que o Senhor lhes concedera.  
 

TIA CÉLIA 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita