Especial
por Luiz Carlos Formiga

Ano 11 - N° 533 - 10 de Setembro de 2017

Ecologia da alma

Decepcionante encontrar criatura beneficiada pelo Espiritismo sem mudança na filosofia de vida.  Ela pode ser operada por um espírito materializado e não dar o seu depoimento, enquanto outra o faz, apresentando foto.

Incrédulos me fazem voltar no tempo. Leewenhoek (1632-1723) descreveu o mundo dos micróbios: “Recebi diversos cavalheiros que estavam ansiosos por ver os micróbios do vinagre. Alguns deles ficaram tão enojados, que juraram nunca mais usar vinagre. Mas o que seria se se contasse a essa gente que existem mais germes na boca humana, vivendo na escuma dos dentes, do que homens em todo o reino?”

Encontrei cérebros privilegiados, mas primários em termos de inteligência espiritual. Justiça seja feita, o que não os impedia de serem pessoas “éticas” e estarem a quilômetros de distância daqueles religiosos de fachada.

Kardec disse que não importa acreditar na existência dos Espíritos, se essa crença não nos torna melhor, mais benevolente e indulgente para com os nossos semelhantes, mais humildes e mais pacientes na adversidade.

Pessoas sofrem da “doença da incredulidade”. Sem fé no futuro podem chegar ao suicídio. Uns são capazes de resistir a desgraças horríveis, outros se suicidam depois de aborrecimentos ligeiros. Qual a causa desta diferença?

Dados estatísticos dizem que correm risco de suicídio as pessoas com transtorno mental. O Brasil está entre os dez países com maior número de casos.

O Presidente Getúlio Vargas (1954), seu filho Maneco (1997) e seu neto Getulinho (2017) suicidaram-se com revólver. (1)

Por outro lado, “leprosos” conhecidos não chegaram ao vazio existencial. Imprimiram ritmo em suas vidas, de dar inveja aos “sadios”. Leda Amaral era jovem e bonita quando a lepra a assaltou. Ficou cega aos 17 anos. Sua determinação era tanta que aprendeu a ler com a língua.

Fico penalizado quando estou junto a um materialista na presença da mãe que perdeu o filho. Ela está faminta de ânimo e extenuada pela dor. O que o materialista poderia oferecer, que pudesse anestesiar a dor e acelerasse a difícil recuperação da alegria de viver? Como era diferente diante das cartas de Chico Xavier!

A academia não resistirá à manifestação livre das diversas culturas, que induzirá a universidade a ampliar o seu universo cultural. Havendo uma revalorização da religião surgirá necessidade de um ponto de equilíbrio. Este ponto se coloca numa linha de pensamento que valorize a Ciência, a Filosofia e a Religião em seus pontos de interseção.

A História do Espiritismo teve começo, mas não terá fim. Ela começou na noite de 31 de março de 1848. Nas paredes de madeira do barracão de John D. Fox, começaram a soar pancadas, perturbando o sono da família metodista. As meninas correram para o quarto dos pais, assustadas com os golpes fortes.

Sobre as meninas do barulho, um artigo pode ser encontrado na WEB, Reformador, abril de 1978. Detalhes num livro de Lamartine Palhano que agradece à família Fox que venceram barreiras sociais e religiosas, em tempos perigosos e preconceituosos. (*)

O capítulo XII, Da Perfeição Moral, Livro dos Espíritos, traz subtítulos: as virtudes e os vícios, as paixões, o egoísmo, os caracteres do homem de bem e o conhecimento de si mesmo. Os vícios morais são o que possuem maior peso negativo, mas o pior deles é o egoísmo. Atacá-lo é arrancar o mal pela raiz.

Temos tendência a acreditar que a paixão é sempre negativa. Kardec formula questão: “será mau o princípio originário das paixões, embora esteja na natureza?” Resposta - “Não”.

O Codificador insistiu: “como se poderá determinar o limite onde paixões deixam de ser boas, para se tornarem más?”

Resposta: As paixões são como um cavalo, que só tem utilidade quando governado e perigoso quando governa.

O espírito é o cavaleiro. Possuindo consciência lúcida, ficará no comando. As paixões são alavancas que duplicam a força e ajudam a cumprir desígnios.

No capítulo XVIII, Sede Perfeitos, do Evangelho segundo o Espiritismo, Kardec coloca a Parábola do Semeador.

O amor é capaz de resumir toda a Doutrina de Jesus. Quando o amor se transforma em ação nasce a caridade. “Discípulos serão reconhecidos por se amarem”.

“Apascenta as minhas ovelhas.”  (João, 21.17.)

O apelo ao coração de Pedro é significativo. O Mestre não recomenda medidas drásticas para disciplina compulsória. Apascentar ovelhas é sustentar com alimento espiritual.

Prevendo dificuldades, apela para o uso do autocontrole e pede para não desanimar perante a rebeldia. Sem controle do temperamento impulsivo, não alcançaremos a serenidade. Pede para não condenar o erro, ajudar e sempre educar. Sem espírito de serviço não criaremos os valores da simpatia. Sem renúncia não se experimenta o amor puro.

Para revelar-se trabalhador fiel, pede-lhe que seja exigente consigo mesmo. (Fonte Viva. Emmanuel. Lição 19.)

O objetivo é se tornar menos. Menos agressivo, vaidoso, autoritário, cobiçoso, menos invejoso.  Aquele que compreende o significado da espiritualidade só se preocupa em lutar consigo mesmo.

Perguntaram ao Professor Hermógenes qual o seu segredo para juventude. A resposta é Fórmula Mágica. (2)

“É na hora do sofrimento profundo que mudamos a direção da mente. Quando estamos envolvidos por uma situação de estresse violento, quando imersos numa crise, é imperioso mobilizar todos os talentos, poderes, reservas, para tentar a superação.”

Hermógenes diz que “quando convencido da impotência aplicava uma estratégia e sempre saia vitorioso. Diante de Deus, entregava-Lhe o problema ou a si próprio, confiando e predisposto a aceitar o que lhe viesse. Numa prova de confiança, amor e fé, agradecia antecipadamente o que Deus acha-se melhor. Alívio imediato”.

Um coração agradecido fala diretamente com Deus.

Fórmula mágica. “Entregar, Confiar, Aceitar e Agradecer!”

A energia vital, que une o corpo, a mente e o espírito, em equilíbrio promove o estado hígido. O indivíduo é uma pessoa ligada a uma totalidade macroscópica maior, por meio de um tecido contínuo progressivo que começa na família, passa pela sociedade, pelo meio ambiente, e acaba se expandindo para todo o universo.

A manifestação de doenças pode ser encarada como o resultado de um desequilíbrio, que pode ter origem no próprio indivíduo, ou ainda no seu relacionamento com a realidade exterior. Assim, o estado de saúde é um estado de harmonia tanto interna, quanto externa.

Muitos problemas de saúde podem ter suas origens na mente. Sentimentos que foram persistentemente reprimidos irão emergir como conflitos e, depois, como doença física. Será necessário tratar os efeitos físicos, mas é necessário fortalecer a mente, a consciência e a inteligência, pois  ocupam papéis importantes na saúde e bem-estar.

 Para os efeitos físicos do desequilíbrio podemos usar o tratamento farmacológico tradicional. Mas ao nos equilibrarmos, vamos conquistar a capacidade de modular a ação farmacológica das drogas, potencializar os seus efeitos benéficos e ainda minimizar os seus efeitos adversos.

Uma pessoa magoada está estocando energias emocionais negativas que a impelem a se manter dominada pelo ego.

Um jovem espadachim, amigo de um monge, pensava em sucesso e fama. De grande destreza técnica, resolveu desafiar lutadores para chegar mais rápido ao objetivo. Ao procurar o velho amigo, recebeu proposta: Lutaremos com espadas. Se você me vencer, poderá ir com minha benção, mas se eu vencer você ficará aqui, como monge.

Ele era o melhor espadachim da província e o monge nunca havia tocado numa espada. O jovem aceitou a luta e foi rapidamente derrotado. Entrou para o mosteiro. Mas, como o monge tinha feito aquilo?

Qual a pergunta honesta diante de um fato inusitado? O médico, Dr. Fructuoso, também fez a pergunta ao espírito, após a cirurgia que presenciou. (**)

O monge respondeu: “As artes marciais e o Zen são dois caminhos para se chegar ao mesmo fim: a unidade entre o corpo, a mente e o espírito. Quem alcança isto sabe tudo sobre as artes marciais e o Zen, sem nunca ter praticado nenhum dos dois”. (***)

“O verdadeiro homem de bem pratica a lei de Justiça, amor e caridade, na sua maior pureza”.

O que é o amor? Qual o significado da palavra caridade? Somos justos?

Um companheiro, em vida anterior, morreu na guilhotina. Num museu sentiu-se mal diante do instrumento. Reencarnado, trazia as energias emocionais negativas estocadas.

“Encontros e Despedidas”, de Milton Nascimento, faz lembrar a reencarnação.

Mande notícias do mundo de lá, diz quem fica. Me dê um abraço, venha me apertar, tô chegando...

Todos os dias é um vai-e-vem. A vida se repete na estação.

Tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai, pra nunca mais... Tem gente que vem e quer voltar, tem gente que vai e quer ficar. Tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a chorar. E assim chegar e partir... A hora do encontro é também, despedida. A plataforma dessa estação é a vida...

Pilatos declarou Jesus inocente e tentou soltá-lo por cinco vezes. Como Ele sobreviveu por seis horas na cruz, teve tempo suficiente para odiar. Ele diz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Lucas: 23,34.

“Entregar, Confiar, Aceitar, Agradecer.”

Uma revista de medicina discutiu a morte de Jesus. (****)

Hipóteses: embolia pulmonar; ruptura cardíaca; trauma suspensão; asfixia; ferida da facada fatal e choque.  Conclui-se que todos os acontecimentos da execução concorreram para o desenvolvimento do choque. Assim, o choque traumático deve ser o principal mecanismo, da morte de Jesus.

A tortura é cruel, qualquer que seja a sua modalidade. Os torturados são diferentes. Com o olhar penetrante de Jesus, o bom ladrão pode morrer sem estocar energias emocionais negativas.

Se a caridade é o amor em ação, quais os seus contrários?

Perversidade, malignidade, crueldade, atrocidade...

Existem espécies de dádivas da vida íntima.

“Dai antes esmola do que tiverdes.” Jesus (Lucas. 11. 41). “Dar do que temos é diferente de dar o que detemos.” (Emmanuel, Fonte Viva, lição 60).

No entanto, “em circunstância alguma devemos esquecer a abnegação admirável daqueles que distribuem pão e agasalho, remédio e socorro para o corpo, aprendendo a solidariedade e ensinando-a. A fortuna ou a autoridade são bens que detemos provisoriamente, na realidade não nos pertencem”.

Quais as doações de nossa esfera íntima? Qual é o estoque dos nossos sentimentos?

“É sempre reduzida a caridade que alimenta o estômago, mas que não esquece a ofensa, que não se dispõe a servir diretamente ou que não acende luz para a ignorância.”

“O amor que se irradia em bênçãos de felicidade e trabalho, paz e confiança, é sempre a dádiva maior, de todas.”

Onde houver ódio, que eu leve o amor, ofensa-perdão, discórdia-união, dúvida-fé, erro-verdade, desespero-esperança, tristeza-alegria, trevas-luz.

Que eu procure mais consolar, compreender e amar.

Francisco diz que é morrendo que se vive, para a vida eterna.

No Espiritismo temos responsabilidade pessoal com o Cristo.

Emmanuel, Opinião Espírita: Jesus é a porta; Kardec é a chave.  

 

Referências

(*) Meninas do Barulho. A história real das irmãs Fox de Hydesville. Bragança Paulista, SP. Instituto Lachâtre, 2013, 2° Edição. 96 p.

(**) Fructuoso, PC. A Face Oculta da Medicina. Educandário Social Lar de Frei Luiz. RJ.RJ. 2013. 336 p.

(***) Eis o link (acesso em 2014)

(****) Bergeron, J.W.. The crucifixion of Jesus. J. Forensic Leg Med., Apr. 19:113-116. 2012.

1.  suicidas

2.  confio e aceito

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita