Como vai nosso contentamento?
A pergunta do título se baseia numa afirmativa
maravilhosa do apóstolo Paulo na sua epístola aos Filipenses quando afirmou sem vacilar: “Aprendi a
contentar-me com o que tenho”.
O que tinha ele naquela altura da sua vida preso em Roma
e aguardando a morte?
Perdera a consideração dos familiares; vivia muitas
vezes foragido quando passou de perseguidor a ser
perseguido; foi açoitado; feito prisioneiro; vivia uma
vida material de extrema pobreza; o que tinha ele para
contentar-se a não ser a consciência tranquila do dever
cumprido?
Qualquer um de nós tem motivos maiores para ser contente
e, entretanto, não somos. Pelo menos uma grande parte da
humanidade.
A pessoa que tem o seu carro simples, mas funcionando
normalmente, quando passa perto de um carro importado
pensa assim: “Isso é que é carro! Como deve ser bom
poder dirigir um veículo desses!”. Ao contemplarmos o
carro importado, o brilho da alegria em ter o nosso
veículo nacional é ofuscado.
A pessoa veste-se de maneira asseada mesmo que não
esteja rigorosamente dentro daquilo que a moda exige e,
ao passar diante de uma boutique de roupas que estampa
na vitrine os modelos recentes, exclama: “Ah! Como deve
ser bom poder vestir um traje desses como determina a
moda!”. O fato de termos nossa roupa limpa e em bom
estado não é capaz de contentar-nos. Cobiçamos aquela
que está exposta na loja cara e de grife.
A pessoa vive em sua casa própria, não paga aluguel como
tantas outras, mas ao passar por uma mansão que ocupa
uma quadra toda, fica a pensar: “Morar num lugar desses
é como morar num palácio! Quantos quartos e banheiros
deve ter? Como deve ser maravilhosa por dentro com
sauna, sala de televisão, escritório, vários banheiros,
piscina, área de lazer toda aparelhada!”. E lá se vai
embora a satisfação que a casa simples nos
proporcionava.
Outras vezes o alimento de boa qualidade que nos abençoa
a mesa é esquecido quando passamos diante de um
restaurante de renome com seu cardápio exótico, o que
nos conduz ao seguinte raciocínio: “Aí deve ter comida
que nunca conseguirei provar devido ao alto preço! Fico
a imaginar as delícias que são servidas aos seus
frequentadores!”. E o nosso alimento simples, porém o
suficiente para a nossa subsistência, é esquecido ou
perde o valor que realmente tem.
Daí a pergunta: aprendemos a ser felizes com o que
temos, como afirmou, prisioneiro em Roma, o apóstolo
Paulo?
Para a nossa meditação, lembramos o que encontramos no
livro Lições de Chico Xavier de A a Z, Editora
LEEP, página 444: “Uns queriam um emprego melhor;
outros, só um emprego. Uns queriam uma refeição mais
farta; outros, só uma refeição. Uns queriam uma vida
mais amena; outros, apenas viver. Uns queriam pais mais
esclarecidos; outros, ter pais. Uns queriam ter olhos
claros; outros, enxergar. Uns queriam ter voz mais
bonita; outros, falar. Uns queriam silêncio; outros,
ouvir. Uns queriam um sapato novo; outros ter pés. Uns
queriam um carro; outros, andar. Uns queriam o
supérfluo; outros, apenas o necessário”.
Perceberam como o ser humano é complicado? Creio que a
solução para isso seria termos uma visão de trezentos e
sessenta graus. Esse tipo de visão que faz uma volta
completa da cabeça assentada sobre o tronco. Quando
estivéssemos focados naquilo ou naqueles que estão à
nossa frente, voltaríamos nosso olhar para trás a
contemplar os inúmeros companheiros de jornada que estão
em situação extremamente pior do que a nossa. Quando nos
sentíssemos solitários, voltaríamos nossa visão para o
lado e veríamos os muitos que jornadeiam conosco
portando problemas semelhantes aos nossos e nos
consolaríamos ao constatar situações parecidas à que
estamos vivenciando, além de permitir que fôssemos
solidários espantando a própria solidão.
Paulo havia perdido sua noiva e feito o primeiro mártir
do cristianismo na pessoa de Estêvão e, mesmo assim,
dizia ter aprendido a ser contente com o que tinha.
Será que esse contentamento de Paulo tinha alguma coisa
a ver com a sua consciência tranquila pelo dever
cumprido, assumido perante Jesus?
Se esse for o real motivo, tenho a impressão de que está
explicado nosso descontentamento pela vida que levamos
atualmente na atual reencarnação, você concorda?
Caso não seja esse o seu problema, anime-se! Vai ser bem
mais fácil exarar a frase de Paulo: “Aprendi a
contentar-me com o que tenho”.
Torço por você porque, quanto a mim, não tenho essa
chance. Minha dívida é para com Ele.