A mão de Deus
É muito comum quando conhecemos alguma escola religiosa
ficarmos encantados com seus ensinamentos, sem que eles
nos modifiquem de imediato. Somos Espíritos imortais,
criados simples e ignorantes, como nos esclarece a
questão 115 de O Livro dos Espíritos.
Portanto, somos nós mesmos que construímos nossa
personalidade através de nossas muitas reencarnações.
Ler uma receita de bolo não nos torna mestre na arte da
culinária. É necessário esforço.
Um dos erros muito comuns é nos acharmos no direito de
modificar alguém, seja através de palavras rudes ou
atitudes constrangedoras. Por não conseguirmos ainda
enxergar que somos tão necessitados de melhora moral
como qualquer outro habitante desta morada escola.
Algumas vezes ouvimos por aí: "mas não somos todos
instrumentos de Deus para melhorar alguém?" Muitos
distorcem os ensinamentos, fugindo da lógica cristã, que
é a caridade, tendo a pretensão de ser "a mão de Deus
sobre Terra".
É importante lembrar das palavras de Jesus: "Os
escândalos são necessários, mas ai daqueles através dos
quais os escândalos venham". Ninguém está isento de
sofrer as consequências de suas atitudes. Aliás, a
questão 470 de O Livro dos Espíritos, que
transcreveremos integralmente a seguir, deixa isso bem
claro: "Os Espíritos que procuram nos induzir ao mal, e
que assim colocam à prova nossa firmeza no bem,
receberam a missão de o fazer? E se é uma missão que
cumprem, onde estará a responsabilidade". Resposta:
"Nunca o Espírito recebe a missão de fazer o mal. Quando
ele o faz é por sua própria conta, e, por conseguinte,
suportará as consequências. Deus pode deixá-lo fazer
para vos experimentar, mas não lhe ordena e cabe a vós
repeli-lo".
A confusão é tão grande que já se afirmou por aí que
Judas cumpria uma missão e que a Jesus não seria
possível ter sucesso na sua sem isso. A questão acima
derruba esta tese, assim como a poesia de Maria Dolores,
recebida por Chico Xavier, no livro
Coração e Vida,
onde somos informados do imenso sofrimento de Judas no
umbral, devido ao remorso do seu ato.
O nosso dever para quem erra é agir com eles como
gostaríamos que agissem conosco em situação semelhante.
Somos nós infalíveis e não precisamos constantemente de
paciência para conosco? Não conivência com o erro, mas
caridade extrema para poder efetivamente auxiliar.
Vamos ainda mais longe, num exemplo ainda mais forte que
O Livro dos Espíritos nos traz na questão 764, mostrando
como geralmente usamos mal as palavras do mestre.
Pergunta: "Jesus disse que quem matou pela espada
perecerá pela espada. Essas palavras não são a
consagração da pena de Talião? A pena infringida ao
homicida não é a aplicação desta pena?” Resposta: "Tomai
cuidado! Tende-vos enganado a respeito dessa palavra
como em muitas outras. A pena de Talião é a justiça de
Deus e é Ele quem a aplica. Todos vós suportais a cada
instante essa pena, porque sois punidos pelo que
pecastes nesta vida ou em outra. Aquele que fez sofrer
seus semelhantes estará numa posição que sofrerá ele
mesmo o surgimento que causou. É o sentido das palavras
de Jesus. Mas vos disse também: Perdoai vossos inimigos
e vos ensinou a pedir a Deus que vos perdoe na mesma
proporção que tiverdes perdoados. Compreendei bem”.
Não nos preocupemos, pois, com a justiça que não falha
jamais e cuja nossa visão limitada não pode abarcar no
seu conjunto. Mas façamos o que nos cabe e que nos
eleva, que é amar assim como queremos ser amados.