A morte do Mensageiro da Paz
Tenho em mãos um exemplar da revista Veja, de 12
de abril de 1985, que traz matéria especial assinada por
Roberto Pompeu de Toledo, intitulada A Morte de
Jesus, cujas informações aproveito para desenvolver
esta matéria.
Cada evangelista apresenta um detalhe sobre o assunto.
Mateus fala sobre a morte de Judas; João reproduz longo
diálogo entre Jesus e Pilatos; em João, há uma sequência:
delação, prisão, julgamento pela autoridade romana,
execução e enterro, com episódios de zombaria
intercalando algumas dessas cenas. Pompeu de Toledo diz
que, tudo somado, está-se diante de uma peça de
insuperável força dramática.
Pompeu de Toledo apresenta argumentos de três autores:
padre Raymond Brown, professor da Union Theological
Seminary, de Nova York. Obra: The Death of Messiah (A
Morte do Messias), com 1.600 páginas, dois volumes,
lançada em 1994 nos Estados Unidos; John
Dominic Crossant, antigo padre, professor de estudos
bíblicos da Universidade De Paul, em Chicago. Obra: Who
Killed Jesus? (Quem Matou Jesus?); Haim Cohn, judeu
que ocupou os cargos de procurador-geral da Suprema
Corte de Israel. Obra: O Julgamento e a Morte de
Jesus - 1967, lançada no Brasil em 1994, pela Imago.
Quem prendeu Jesus? Marcos escreve que, com Judas, vinha
"uma multidão trazendo espadas e paus, da parte dos
chefes dos sacerdotes, escribas e anciãos”. Mateus o
acompanha. Lucas acrescenta que, entre os que vieram
prender Jesus, estavam chefes dos sacerdotes, chefes da
guarda do Templo e anciãos. João diz que Judas levava
uma "coorte", além de "guardas destacados pelos chefes
dos sacerdotes e fariseus. Tem início uma coligação,
que, segundo os Evangelhos, vai levar Jesus até a cruz -
a coligação dos judeus com os romanos.
Dentre todos os evangelistas, o Jesus de João é
triunfante. Diante de Pilatos, até parece que ele é que
julga o governador romano. No Getsêmani, quando chegam
as tropas, Jesus adianta-se e pergunta: "A quem
procuras?" Os soldados responderam que procuravam Jesus
de Nazaré. E ele: "Sou eu". Nesse momento, os soldados
recuam e caem por terra.
Quem mandou prender Jesus e por quê? Marcos data os
incidentes a partir da advertência de Jesus aos
vendilhões do Templo; João data os fatos a partir da
ressurreição de Lázaro. Os chefes dos sacerdotes, os
escribas e anciãos formavam uma tríade, sempre ao
encalço de Jesus. A grosso modo, esses três grupos
constituíam o Sinédrio, que no total constava de 71
membros.
O julgamento -
Palácio do Sumo Sacerdote. O preso é levado para dentro.
Os quatro evangelistas dizem que, uma vez preso, Jesus
foi levado às autoridades judaicas. Marcos e Mateus
claramente e Lucas com menos clareza falam de um
julgamento pelos dignitários judeus, ao fim do qual
Jesus será condenado à morte. Haim Cohn, o autor
israelense, diz que toda a liderança judia estava
interessada em impedir a crucificação de um judeu pelos
romanos e, mais particularmente, de um que gozava do
amor e afeição do povo.
Tentou-se duas coisas: instruir Jesus sobre o que
responder no tribunal do governador e persuadi-lo a
colaborar com o alto comando judaico. Jesus recusou-se e
todo o esforço foi perdido.
A execução -
"Então o crucificaram", diz Marcos. "E após
crucificá-lo, repartiram entre si suas vestes, lançando
a sorte", diz Mateus.
Segundo João, Jesus carregou sozinho a cruz. Os demais
evangelistas relatam que Simão Cireneu, "que passava por
ali, vindo do campo", segundo Marcos, foi requisitado
para fazer o serviço. Raymond Brown estranha, pois o
costume era de que o condenado levasse a cruz até o
local da crucificação. A menos que Jesus estivesse
debilitado, para fazê-lo.
Porém, informa Brown, ele não carregava a cruz inteira,
pois normalmente a parte vertical ficava fixa no lugar
da crucificação. O condenado carregava apenas a parte
horizontal, o patibulum, em latim. Os pregos não
foram aplicados às palmas das mãos, pois estas
rasgariam, mas pregados à barra transversal dos pulsos.
Jesus foi pregado na cruz pelos pés? Não havia documento
algum para se atestar que se pregavam os crucificados
também pelos pés, até a descoberta, em 1968, em
Jerusalém, do túmulo de um homem de mais ou menos 30
anos, morto por crucificação, mais ou menos na mesma
época de Jesus. Os ossos apresentavam sinais de que o
homem fora pregado com dois pregos embaixo, cada prego
em um calcanhar. Pelos furos, imagina-se que ele foi
fixado à cruz com as pernas abertas, cada uma colocada a
um dado da barra vertical. Os pregos lhe foram aplicados
no lado do pé, à altura do osso do calcanhar.
No caso de Jesus, a tradição atribui a Helena, a mãe do
imperador Constantino, a descoberta de três pregos que o
teriam pregado. Daí o fato de os artistas representarem
a crucificação com um só prego prendendo os pés, um
sobre o outro.
A maior história de todos os tempos -
A história da vida de Jesus é a maior história de todos
os tempos. O importante mesmo é que Jesus está vivo
entre nós, com sua mensagem guiando-nos, inspirando-nos,
acompanhando-nos, passo a passo. Que acima da história
possamos dar-lhe o nosso testemunho, dando de beber a
quem tem sede, dando de comer a quem tem fome. Todas as
vezes em que o fizermos, estaremos fazendo a ele, como
nos asseverou, no seu Evangelho:
"A paz vos deixo. A paz vos dou." Que possamos desfrutar
desta paz e que a mesma se faça nos corações de todos os
humanos, de todos os povos, de todas as nações.