Cada um é cada um
Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho
ímpar.
Carlos Drummond de Andrade
Temos o (péssimo) hábito de comparar. Comparações,
comparações.
Quando se é adulto, há recurso psíquico e emocional para
enfrentar o homem, a mulher, a textura peçonhenta da
comparação. Mas enquanto se é pequeno, principalmente
até os sete anos, a criança precisa saber que é única.
Danoso então compará-la, rotulá-la, que são modos de
maldizer entranhados na nossa vida cotidiana:
“Termina de comer o que está no seu prato. Olha lá o seu
irmão! Ele já está quase acabando…”
“Você viu como a Flávia é educada? Você deveria fazer
igual sua prima!”
“Esse aí puxou o pai. Os dois têm o temperamento
parecido.”
“É que meu filho não é tão inteligente como o seu, ele
vai mais devagar…”
Quando uma criança é continuamente comparada com seu
irmão, parente, colega, vizinho, sente angústia,
tristeza, raiva, fortalecendo uma percepção negativa
sobre si mesma, sobre suas aptidões, tornando-se alguém
marcado por traços de inferioridade, insegurança,
timidez, ciúme, inveja.
Se educar depende do respeito às individualidades,
quando uma mãe ou um pai compara um filho com o outro,
atribuindo a um deles ser mais estudioso, por exemplo, é
muito provável que o filho que foi tachado de menos
estudioso, fique ainda com menos vontade de estudar.
Porque comparar uma pessoa com outra é atitude injusta,
que desestimula, gerando angústia e temor desnecessários
na criança… E o fato de o comparado tornar-se “menos
estudioso” é uma forma distorcida dele comunicar aos
pais: “na verdade, vocês estão errando em comparar-me.
Eu sou eu, ele é ele, e ponto final.”
É por meio de um vínculo seguro que a criança desenvolve
sua integridade física, psíquica, emocional e
relacional, sua autonomia. Acolher o filho como ele se
apresenta, segundo seu modo de ser, evitando comparar,
rotular, porque poucas coisas são mais nocivas do que
dar a entender a uma criança sua escassez de aptidões,
de habilidades, humilhando-a, atacando de maneira
furtiva sua autoconfiança.
A infância é rica em descobertas, mudanças, aquisições.
E aquele que cresce em uma família em que existe
compreensão e respeito uns com os outros, quando adulto
será naturalmente mais inclinado à tolerância, à paz e
ao amor. E isso poderá eliminar uma boa quantidade de
sofrimento...
Um abraço, feliz semana!