Não se aprende Espiritismo sem o estudo ajuizado e
contínuo
O Centro Espírita é núcleo formador da educação moral e
espiritual do homem, além de ser santuário de prece e de
trabalho. “Os candidatos ao exercício mediúnico precisam
estar bem conscientes de que se encontram diante de um
dos mais sérios compromissos espirituais com a vida.”
(1) Antes mesmo de serem inseridos nos grupos
mediúnicos, que os Centros Espíritas organizam para o
cumprimento dessa bela e radiosa faculdade, os médiuns
devem cientificar-se, com segurança e discernimento, do
que seja a Doutrina Espírita. Será que os candidatos à
tarefa mediúnica conhecem os princípios fundamentais
deixados por Allan Kardec nas obras basilares e nas
instruções complementares? Isso equivale afirmar que se
pode falar em ensino espírita, se partirmos dos seus
pressupostos básicos, ou seja, do acervo que existe nos
livros da Codificação.
Nosso ponto de partida, nessa discussão, tem que ser o
Sábio de Lyon, pois foi ele quem sistematizou o Projeto
do Paracleto e criou os termos Espiritismo e Espírita.
Destarte, no “Projeto 1868”, Kardec esclarece que “um
curso regular de Espiritismo seria professado com o fim
de desenvolver princípios de Ciência e de difundir o
gosto pelos estudos sérios. Esse curso teria a vantagem
de fundar a unidade de princípios, de fazer adeptos
esclarecidos e capazes de espalhar as ideias espíritas,
além de desenvolver grande número de médiuns. Considero
esse curso de natureza a exercer capital influência
sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências”.
(2)
A rigor, em uma Casa Espírita equilibrada, o estudo
doutrinário deve ter prioridade número UM. Essa é a
ÚNICA forma de os grupos espíritas funcionarem de forma
harmônica. O estudo sério não pode ser feito,
proveitosamente, senão por homens sérios, perseverantes,
isentos de prevenções e animados de uma firme e sincera
vontade de chegar a um resultado satisfatório e,
consequentemente, equilibrado. Quem se dispõe a dominar
uma Ciência deve estudá-la de maneira metódica,
começando pelo básico e seguindo o seu encadeamento de
ideias. O que caracteriza um estudo sério é a
continuidade que se lhe dê. Acontece o mesmo em nossas
relações com os Espíritos. Se desejamos aprender com
eles, temos de seguir-lhes o curso; mas, como entre nós,
é necessário escolher professores e trabalhar com
assiduidade. (3)
No Brasil, um grande impulso para os bons estudos
doutrinários aconteceu com o aparecimento do médium
Chico Xavier, onde destacamos, em meados do século
passado, os 16 livros da série "A Vida no Mundo
Espiritual". Pois é! André Luiz não deve ser apenas
lido. Para um melhor aprendizado, suas obras devem ser
estudadas em profundidade. Não podemos deixar de
mencionar, também, as contribuições valiosas de Yvonne
A. Pereira e Divaldo Franco.
O Espírito Emmanuel define o Centro Espírita como a
universidade da alma, o que nos leva a refletir que a
atitude, tanto de quem ensina como de quem aprende, deve
ser a de formar almas compenetradas de suas
responsabilidades perante si mesmas e perante os outros.
Os coordenadores dos cursos doutrinários devem evitar, a
todo custo, o autoritarismo. Não pode dizer ao aprendiz:
“Você é médium e tem que desenvolver a mediunidade”;
nada mais ridículo que isso. Desenvolver a mediunidade
não é receber Espíritos; é estar cada vez mais em
sintonia com os bons Espíritos que nos acompanham e,
para que isso aconteça, os médiuns têm que primar pela
boa conduta, aprimorando-se moralmente.
Lembra o Espírito de Verdade: “Espíritas: amai-vos, este
o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo”.
(4) Entretanto, a obrigatoriedade pelo estudo deve ser
relativizado, pois muitos confrades não sabem ler e nem
escrever. A relação ensino-aprendizagem é de grande
utilidade, tanto para o educador como para o educando.
Contudo, não transformemos o ensino-aprendizagem
doutrinário em um acúmulo de informações e raciocínios,
sem qualquer vínculo com as necessidades prementes do
Espírito imortal.
Estudar Espiritismo requer atenção contínua, observação
profunda e, sobretudo, como, aliás, todas as ciências
humanas, a continuidade e a perseverança. Necessitamos
de anos para fazer um médico medíocre e três quartas
partes da vida para fazer um sábio, mas muitos querem
obter, em algumas horas, a Ciência do infinito! Que
ninguém, portanto, se iluda: “O estudo do Espiritismo é
imenso; liga-se a todas as questões metafísicas e de
ordem social; é todo um mundo que se abre diante de nós.
Será de espantar que exija tempo, e muito tempo, para a
sua realização?” (5)
Os Centros, normalmente, adotam cursos ditos “básicos”,
com dois anos ou três de duração. Na esmagadora maioria
deles, a carga horária média semanal é de uma hora e
meia, perfazendo seis horas por mês. Levando-se em conta
que metade dos meses de dezembro e fevereiro, e os meses
inteiros de janeiro e julho são destinados às férias,
temos nove meses de efetivo curso, o que equivale a 54
horas por ano. “Mas os que desejam conhecer
completamente uma ciência devem ler, necessariamente,
tudo o que foi escrito a respeito, ou pelo menos o
principal, não se limitando a um único autor. Devem
mesmo ler os prós e os contras, as críticas e as
apologias, iniciar-se nos diferentes sistemas a fim de
poder julgar pela comparação. Neste particular, não
indicamos nem criticamos nenhuma obra, pois não queremos
influir em nada na opinião que se possa formar.” (6)
Há aqueles que creem, unicamente, no trabalho de
assistência social para ser considerado um respeitável
espírita e um bom médium. Porém, vale refletir o
seguinte trecho da obra “Paulo e Estêvão”: Há dois mil
anos Paulo diz: “É justo não esquecer os grandes
serviços da igreja de Jerusalém aos pobres e aos
necessitados, e creio mesmo que a assistência piedosa
dos seus trabalhos tem sido, muitas vezes, sua tábua de
salvação. Existem, porém, outros setores de atividade,
outros horizontes essenciais. Poderemos atender a muitos
pobres, ofertar um leito de repouso aos mais infelizes;
mas sempre houve e haverá corpos enfermos e cansados, na
Terra. Na tarefa cristã, semelhante esforço não poderá
ser esquecido, mas a iluminação do Espírito deve estar
em primeiro lugar.
Se o homem trouxesse o Cristo no íntimo, o quadro das
necessidades seria completamente modificado”. (7) Os
Benfeitores reenfatizam o impositivo do estudo, a fim de
que a luz do entendimento nos ensine a caminhar com
segurança e a viver proveitosamente. Eles estabelecem o
confronto entre a fome e a ignorância – dois dos grandes
flagelos da Humanidade. Qualquer pessoa pode atender à
fome. Raras criaturas, porém, conseguem socorrer a
ignorância. Para sanar a fome, basta estender o pão.
Para extinguir a ignorância é indispensável fazer luz.
Referências bibliográficas:
(1) Francisco Cândido Xavier. Lições de Sabedoria.
São Paulo: Editora Jornalística Fé, 1997, p. 140.
(2) Kardec, Allan. Obras Póstumas, Rio de
Janeiro: Ed FEB, 2000, p. 342.
(3) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de
Janeiro: Ed FEB, 2002, Introdução, cap. VIII –
Perseverança e seriedade.
(4) Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo,
Rio de Janeiro: Ed FEB, 1999, cap. VI – O Cristo
Consolador, Espírito de Verdade.
(5) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de
Janeiro: Ed FEB, 2002, Introdução, cap. XIII – As
divergências de linguagem.
(6) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Rio de
Janeiro: Ed FEB, 1996, 1ª parte, cap. III – Método, item
35.
(7) Xavier, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão, ditado
pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB,
1978, pág. 326.