Reflexões sobre a busca pela fé
“E, com toda a certeza eu vos asseguro, que se qualquer
pessoa ordenar a este monte:
Levanta-te e lança-te no mar, e não houver dúvida em
seu coração, mas crer que se realizará o que pede, assim
lhe será feito.” (Marcos, 11:23.)
Em nossa condição de enclausurados no vale sombrio das
próprias dívidas, não nos detenhamos na forma exterior
do ensinamento do Mestre, e sim, apliquemos a sua beleza
ao nosso próprio mundo interno.
Encontramos na fé a força que nasce da própria alma, a
certeza instintiva na sabedoria de Deus palpitando em
nós, vibrando em todas as coisas, transformando-a em
instrumento de renovação do nosso caminho, utilizando-a
na obra paciente do amor e construindo nova senda a
elevar-nos para os cimos da vida. Nela recuperamos a
força que irradia como energia operante e, por isso,
conseguiremos remover as montanhas das dificuldades,
aplainando as arestas dos conflitos e minando as
resistências que se opõem à marcha do progresso. Para
que possamos movimentá-la no plano exterior, é
imprescindível possuí-la mesmo que, na diminuta
proporção de uma semente de mostarda, tenhamos de lavrar
a terra seca e empedrada do nosso mundo interior, para
ambientar em nosso coração essa planta divina.
Jesus, o meigo Rabi, em Seu ensinamento, toma a semente
minúscula da mostarda para nos dizer que sem
reconhecimento de nossa própria pequenez à frente do
eterno amor e da sabedoria, não conseguiremos juntar o
tesouro do entendimento e da confiança que a fé
consolida em si mesma. Assim, é necessário alterarmos a
paisagem da nossa vida íntima, para que a fé viva nasça
e se desenvolva em nossos destinos, para não sermos
vítimas das serpentes traiçoeiras e vermes daninhos que
ameaçam a sementeira da elevação por todos os lados,
tentando sufocar os pequenos impulsos no bem.
Disse o Mestre: “Se tiverdes a fé do tamanho de um
grão de mostarda, podereis transportar montanhas.”
(Mateus, 17: 20.). Deste modo, aproveitemos a luta e as
dificuldades que a experiência nos oferece a cada dia,
habilitando-nos a converter as sombras de nossa
animalidade em divina luz da espiritualidade, para a
ascensão à vida imortal.
O aviso do “Siga-me” é indiscutível. Entretanto,
oscilamos em matéria de fé por não Lhe acatarmos o
conselho. Buscamos Jesus em cultos, sinagogas,
templos... No entanto, é em nós, em nosso templo íntimo,
que precisamos encontrá-lo. Mesmo quando amargurados nos
embaraços da existência, é necessário relembrarmos da
mensagem dEle: “Quem quiser caminhar nos Meus passos,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me.”
(Mateus, 16: 24).
De acordo com O Evangelho segundo o Espiritismo,
no capítulo XIX, Item 8, Allan Kardec esclarece: “a
fé necessita de uma base, que é a inteligência perfeita
daquilo em que se deve crer e, para crer, não basta ver,
é preciso, sobretudo, compreender”. Podemos, então,
perceber que a fé sincera é contagiosa, enquanto que a
fé aparente apenas usa palavras que deixam o frio e a
indiferença quem as ouve.
Na atualidade dolorosa que vivenciamos, invocamos a
cooperação do Cristo e o socorro sempre vem, porque Sua
misericórdia é infinita e, assim, vencida a dificuldade,
encontramos a oportunidade de fortalecer a fé, pois
novos obstáculos virão para o nosso crescimento. E será
através desses desafios que poderemos nos educar,
permanecendo confiantes, sustentando a fé, a esperança e
a caridade, porque a esperança reside em um coração que
crê e confia em Jesus e a caridade somente poderá ser
praticada quando tivermos o verdadeiro sentimento de
amor ao próximo, formando assim, uma trindade
inseparável. Em vista disso, se tivermos fé e com ela
buscarmos ultrapassar as dificuldades, triunfaremos,
porque o amor coopera com ela para demolir barreiras,
destruir domínios, aniquilar empecilhos e retirar
obstáculos.
A missão de Jesus foi reviver nos corações esse
sentimento, para que as almas cheguem às alturas do amor
de Deus, alcancem o tesouro da fraternidade.
No livro O Consolador, o benfeitor espiritual
Emmanuel elucida na pergunta 354: “ter fé, é aguardar
no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que
ultrapassa o âmbito da crença religiosa, fazendo o
coração repousar numa energia constante de realização
divina da personalidade. Conseguir a fé é alcançar a
possibilidade de não mais dizer “eu creio”, mas afirmar
“eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz
do sentimento... traduzindo a certeza na assistência de
Deus, exprimindo a confiança que sabe enfrentar todas as
lutas e problemas, com a luz Divina no coração,
significando a humildade redentora que edifica no íntimo
do Espírito a disposição sincera do discípulo,
relativamente ao “faça-se no escravo a vontade do
Senhor.”
Que nossos corações, no solo das experiências da Terra,
possam copiar-lhe o impulso da simplicidade e serviço, e
a nossa existência será testemunho claro da grandeza
Divina, cuja sublimidade passaremos a refletir com a
humildade viva do grão de mostarda que, atirado à
solidão da terra, saberá vencer, desabrochar, florir e
cooperar na extensão da glória de Deus. Fé não é
privilégio de alguns, mas, dom precioso concedido a
todos pelo Pai.