Filho racional ou irracional: a escolha é nossa!
Qual seria, para a
sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de
família? - “Uma recrudescência do egoísmo.”1
Conforme ensina a Doutrina espírita, a família é a
unidade fundamental em todas as sociedades. Elemento
básico do organismo social, quando adoece, a sociedade
responde em desequilíbrio.
Para bem atender à função designada por Deus, de modo a
estar corretamente ajustada aos seus propósitos, a
família deve atender a três objetivos:
1. Desenvolvimento do amor entre os cônjuges;
2. Manutenção da perpetuidade da espécie;
3. Promoção da educação dos filhos.
O primeiro objetivo, talvez o maior desafio, precisa de
tempo para se realizar plenamente, vindo daí a
necessidade de se manter o vínculo entre o casal por bom
espaço de tempo; o segundo acontece naturalmente se
chegam os filhos; e o terceiro, demandando muito
trabalho dos pais para a sua plena concretização,
atravessa atualmente momento curioso em nossa sociedade,
sendo assim, junto com o objetivo número dois, serão
objetos específicos desta breve análise.
É fato estarem as famílias limitando o número de filhos,
as razões são variadas. Aquelas famílias com numerosa
prole, nos tempos atuais, são uma raridade. Os casais
modernos têm optado por poucos ou mesmo nenhum filho.
Uma tendência, não há dúvida, e os países europeus são
uma prova viva desta realidade.
Entretanto, como se esta limitação da prole não
bastasse, de uns tempos para cá, observa-se uma
inclinação muito presente em nossa sociedade, qual seja,
a de se criar um animal de estimação, em lugar de um
filho, animal este mais conhecido pela correspondente
palavra inglesa: “pet”.
Estatísticas recentes já acusam a existência de um
número maior de animais de estimação do que de “filhos
humanos”; sim, para muitos, o seu “pet” é equivalente a
um “filho humano”.
A situação vem se agravando quando se observa a criação
de um universo de comércio crescendo vertiginosamente
contemplando: lojas especializadas em alimentos e
singularíssimo vestuário; mil variedades de brinquedos,
afinal são “crianças”; SPAs, para os mais comilões, como
se a responsabilidade pela obesidade dos animais fosse
deles; já se fala em psicólogos para os animaizinhos;
clubes; hotéis dedicados; festas especializadas para o
aniversário dos “filhos” de quatro patas, com direito a
bolo e decoração, como se o animal pudesse distinguir a
diferença e valorizar a decoração do ambiente, e assim
segue, desconhecemos aonde estas modernidades irão
desaguar. Ah, é fato, já se pintam as unhas dos gatos.
Orienta a Doutrina, e o faz com sabedoria, serem os
irracionais também obra de Deus, ou por outra, tudo que
existe no Universo, e o próprio Universo, é obra divina,
e disto não temos dúvida, aqueles evoluem até chegarem
ao reino hominal, conforme registra a primeira obra
fundamental2: O terem os seres vivos uma
origem comum no princípio inteligente não é a
consagração da doutrina da metempsicose? - “Duas
coisas podem ter a mesma origem e absolutamente não se
assemelharem mais tarde. Quem reconheceria a árvore, com
suas folhas, flores e frutos, no gérmen informe que
contém a semente donde ela surge? Desde que o
princípio inteligente atinge o grau necessário para ser
Espírito e entrar no período da humanização, já não
guarda relação com o seu estado primitivo e já não é a
alma dos animais, como a árvore já não é a semente.
[.]” (Negritamos)
Como se denota, os irracionais evoluem até atingir o
grau de humanização, para, em seguida, atingir a
angelitude, meta fatal a nos aguardar.
Entretanto, esta verdade não deve ser entendida ou usada
para idolatrar os animais irracionais, tampouco para
colocá-los em posição de destaque em detrimento dos
racionais.
Hoje há milhões de crianças “humanas” necessitadas em
diversos graus de: educação, alimentação, moradia,
saúde, higiene, atenção, e finalmente amor, não sendo
estas atendidas por diversas razões, contudo, uma delas,
certamente, pelo costume de se “adotar” um irracional
como “filho”, relegando o racional à própria sorte.
A indústria voltada a atender as “necessidades” dos pets
- ou seriam dos donos!? - movimenta bilhões de reais por
ano, enquanto crianças humanas morrem de desnutrição a
cada segundo, não sensibilizando os proprietários destas
“crianças” irracionais, que não medem esforços para
agradá-las como se humanos fossem.
Allan Kardec, no momento de seu enterro, em discurso
proferido por Camille Flammarion, foi chamado de bom
senso encarnado, e nos parece que este bom senso
está ausente em muitas famílias quando se negam a doar
alguns poucos reais para obras assistenciais dedicadas à
infância desvalida, mas não poupam recursos para cuidar
de seus irracionais.
Não há dúvida ser necessário zelar pelos irracionais,
“irmãos” nossos em evolução, mas o razoável deve nos
nortear evitando o afastamento do equilíbrio; negam-se a
doar R$30,00 ao mês, por exemplo, à conhecida e atuante
organização dos Médicos sem Fronteira, que se dispõem a
atravessar oceanos para cuidar de crianças
desconhecidas, as quais, sem este concurso, pereceriam,
tudo em nome do amor aos semelhantes, porém, os “pais”
dos pets não se recusam a comprar um sorvete para
amenizar o calor de um irracional. Há algo de muito
estranho nesta conduta.
Este entendimento e rotina de como tratar e ver os
irracionais, se continuados, poderão nos levar a uma
situação de grande risco no futuro, se ensinarmos pelo
exemplo, aos jovens, ser preferível ter filhos
irracionais, no lugar de filhos racionais, no futuro,
quando desencarnarmos, e todos nós desencarnaremos, no
momento em que estivermos prontos para retomar uma nova
existência carnal a seguinte situação poderá acontecer:
“Oficial do Posto de Reencarnação ao chegar um
pretendente”:
– O candidato é cachorro, gato, passarinho, lagarto,
tartaruga, porco, cobra, hamster, papagaio, aranha,
sapo, coelho...?
– Resposta: Não, claro que não, o Sr. não percebe que
sou humano!
“Informa o Oficial”:
– Então, por favor, aguarde naquela outra fila, no
momento só estão voltando irracionais!
Não há dúvida ser esta situação hipotética, pura ficção,
não há oficial de posto, tampouco guichê de
reencarnação, muito menos espera dos irracionais para
reencarnar, mas serve como alerta, se a juventude de
agora incorporar este costume, amanhã quando estivermos
desencarnados, será muito difícil reencarnar, pois, os
jovens de agora, adultos do futuro, não desejarão filhos
racionais, apenas irracionais, visto serem estes últimos
mais fáceis de “educar”.
Nada temos contra as valorosas e indispensáveis
organizações dedicadas à causa animal, visto que, nós,
os humanos racionais, nem sempre cuidamos dos
irracionais como eles deveriam ser cuidados, sabemos
perfeitamente disto, entretanto, a situação moderna nos
traz alguma apreensão, porquanto, tudo indica, haver
carência de bom senso.
Igualmente, nada temos contra aqueles que adotaram “pets”,
estes, por exemplo, agregam muitos benefícios ao
desenvolvimento das crianças, claro, desde que estas
existam na família, entretanto, nos parece ser a conduta
atual um tanto distante do razoável, do equilíbrio e da
racionalidade, nos obrigando a, no mínimo, repensar esta
tendência contemporânea.
Referências:
1
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad.
Guillon Ribeiro. 69. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora,
1987. Parte 2ª, cap. VII, q. 775.
2
______.
_____. q. 611.