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por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 
Vindoura


Casal de idosos conversa no hall de espera da casa espírita, enquanto entram, apressados, jovens para um evento espírita.

“- Meu neto está aí, assistindo à atividade. Já o avisei de que estou cansado e conto com ele para assumir as minhas atividades no trabalho assistencial que frequento.

Diz o outro: “- Minha neta não quis mais saber do centro. Aborreceu-se e agora está às voltas com o vestibular. Não sei o que será de nossa casa se essa geração não assumir as suas responsabilidades frente a ela?”

E ambos meneiam a cabeça, preocupados com a casa a que se dedicaram tanto tempo.

Um diálogo comum nas casas espíritas, de público e no privado, olhando o jovem espírita apenas como a geração vindoura que assumirá o legado da casa espírita. Há de se convir, um verdadeiro exercício de futurologia, dado que daquele grupo que hoje está na Juventude, tantos caminhos e mudanças virão, e tantos partirão e outros chegarão.

O jovem espírita, como qualquer jovem vinculado a uma atividade religiosa, tem as peculiaridades da sua idade, seus desafios, suas preocupações, dúvidas e encruzilhadas, e colocar nos ombros deste o fardo determinista dele assumir a casa é uma situação um tanto complicada.

Complicada, pois coloca a casa como uma herança imutável que deve ser assumida, e não como uma construção de cada geração que por ali passa. Cada época, o grupo que está ali, encarnado e desencarnado, faz a sua hora e seu momento, o que não implica que não se deve abrir espaço para os mais jovens, em atividades que permitam a eles aos poucos se incluírem nas rotinas da casa, mas que sejam atividades que provoquem seu protagonismo pelo bem que isso fará à formação de sua personalidade no campo da espiritualidade, e não como um teste de sucessores.

Da mesma forma, o jovem, com tantos anseios e desafios, se vê cobrado nessa visão de “você é o futuro da casa”, quando na verdade ele está precisando da casa para acertar o seu futuro, diante dos desafios de uma personalidade que emerge em um mundo cada dia mais complexo, no qual ele tem dificuldades de encontrar referenciais, na chamada pós modernidade, e o Espiritismo tem o potencial de o ajudar nessa empreitada.

Em outros tempos do Espiritismo, desprezamos a peculiaridade do período jovem para o trato das atividades religiosas. Um tempo que foi, felizmente, superado. A casa deve ter espaços que atendam às especificidades das fases infantil e juvenil, por serem fases específicas da encarnação do Espírito, com demandas que exigem evangelizadores preparados, currículos adequados e atividades sintonizadas com esses grupos.

E no caso do jovem, na sua trajetória de amadurecimento, essas atividades são fundamentais para a formação dos seus alicerces doutrinários, é fato, mas a casa deve, em seus currículos e temas, prezar as questões que orbitam na vida destes, servindo como local de orientação segura e de acolhimento desses jovens.

E a inserção do jovem nas atividades não pode ser a maneira do idoso comerciante que tenta forçar o filho a assumir o seu negócio, e sim uma forma de exercício do protagonismo do jovem, para que ele tome gosto da ação espírita nas palestras, na atividade assistencial, na questão mediúnica, podendo no futuro ele vir a trabalhar naquela casa ou em outra, dadas as incertezas de nossos caminhos, em especial em dias atuais, nos quais questões profissionais e acadêmicas forçam nossos deslocamentos.

O importante é que aquele período na juventude espírita deixe nele marcas indeléveis que permitirão a ele, no futuro, vencer os desafios morais que se imporão. Esse é o legado interior que a casa deixa no coração do jovem e que ele levará, na forma de sementes, para as diversas casas que ele frequentará, para a sua família, para o seu trabalho, pois a finalidade do Espiritismo é formar o homem de bem e não o trabalhador da casa espírita de amanhã, ainda que essas coisas tenham uma relação entre si.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita